O efeito Zé Geraldo: canibalismo político ensina uma lição

Desistência de Zé Geraldo expõe canibalismo político e campanha inflacionada na base governista. Sandoval não consegue controlar as invasões e Kaká é o coordenador que não atende mais o telefone...

Zé Geraldo discursando no comitê de Luana
Descrição: Zé Geraldo discursando no comitê de Luana Crédito: Lourenço Bonifácio

Desde ontem à noite, quando confirmou-se a desistência do deputado José Geraldo, presidente regional do PTB, na disputa por uma vaga na Câmara dos Deputados, espalhou-se a perplexidade entre uns e o abatimento entre outros candidatos nas chapas proporcionais da base governista.

 

De boa formação pessoal e boas práticas políticas, Zé Geraldo é respeitado entre companheiros e adversários. Mas foi desrespeitado de duas formas – o que explica em parte a desistência – segundo vai nos bastidores nesta manhã de quinta-feira, 28.

 

O canibalismo político de outros concorrentes que estão no mesmo grupo, mesmo que em outros partidos. E a falta do cumprimento de compromissos financeiros, que teriam que ser repassados pela coordenação da campanha para bancar a estrutura que o deputado construiu em cima de uma base na qual vem trabalhando há mais de três anos.

 

O que pude apurar é que nos últimos dias Zé Geraldo perdeu prefeitos para Carlos Gaguim e Júnior Coimbra. Com planilhas de custo de campanha inflacionadas em especial pelo candidato a deputado estadual também do PTB, Eduardo Siqueira Campos, os federais têm dificuldade de acompanhar. Gaguim, Coimbra e João Oliveira não.

Este último tem feito vítimas dentro do próprio partido. Tomou a prefeita de Barrolândia e todo seu grupo da deputada Professora Dorinha. E olha que Dorinha teve o apoio desta turma quando a prefeita era vice, na outra eleição. E trabalhou muito nestes três anos pela cidade. Mas não conseguiu segurar diante da estrutura oferecida por Oliveira.

 

O fato é que quem tem caixa próprio, corre por fora. E banca um jogo muito, muito alto.

 

Discussão com Sandoval

 

Na semana passada, José Geraldo teve uma discussão com Sandoval. Simplesmente por que o jogo de captação ou cooptação de lideranças e apoio dentro da base governista ficou sem limites. E quem conhece Zé Geraldo sabe que ele faz política dentro de um código de regras e princípios. Coisa para poucos.

 

Além do canibalismo exagerado, os compromissos estavam longe de ser cumpridos. De uma fonte que disputa eleição também com dificuldade ouvi semana passada que Zé Geraldo estava melhor na pré-campanha do que está na campanha. Sua carta explica bem que “diante da complexidade da conjuntura”, tornou-se desumano seguir com a campanha. E que nem tudo pode ser sacrificado em nome de um mandato: ética, princípios, amizades.

 

José Geraldo sai do processo deixando uma grande lição: a de que não vale tudo para ganhar uma eleição. Cresce no processo, independente do rumo que vai tomar daqui em diante.

 

Kaká não atende ninguém

 

Se a coisa não anda bem para os que tem pouca estrutura financeira na disputa por uma vaga a federal -  Cesar Hallum e Dorinha são os mais prejudicados – os estaduais também reclamam.

 

Os patamares aos quais Eduardo Siqueira elevou a campanha é o motivo da maior chiadeira. “Ele inflacionou demais a campanha. Passa por cima de todo mundo. É insano o que ele está fazendo”, reclama uma fonte que está na disputa por uma vaga à Assembléia.

 

Outro motivo de reclamação é a forma que o coordenador geral da campanha está atuando. Kaká Nogueira não atende o telefone para ouvir os proporcionais. E principalmente para resolver as pendências.

 

Já se ouve que o rapaz era um no comando da Agetrans e é outro na coordenação de Sandoval. Desde o começo da semana circula nas rodas palacianas que ele já deu o recado: o governador fez o que pode pelos proporcionais. Dinheiro agora só para o majoritário.

 

Gaguim leva vantagem

 

No palanque de Marcelo e Kátia ontem no Taquari, o ex-governador Carlos Gaguim não era exatamente a expressão da alegria. Cansado, ele manteve uma expressão distante o tempo todo. Ao lado dele estava José Augusto. Os dois juntos bombardearam muito a chapa Marcelo e Kátia. Estão no palanque, mas Gaguim, até onde se sabe, corre dos dois lados.

“Ele será o maior beneficiado com a saída do Zé Geraldo”, garantem governistas ouvidos pelo portal. Já tinha levado o prefeito de Riachinho, mas nas últimas 18 horas o espólio de José Geraldo foi dividido numa velocidade enorme.

 

O canibalismo no entanto não está só aí, no trio Gaguim, Coimbra e Oliveira. Não são raras as críticas a Tiago Andrino, que abriu apoios no Estado inteiro e estaria pagando a título de “luva” pelo apoio de vereadores, quantias exorbitantes. Inflacionando ainda mais a campanha dos governistas.

 

O que fica para quem entende minimamente de política é que a desistência de José Geraldo acendeu a luz amarela na base governista. Como eu disse lá em cima, uns estão perplexos. Outros assustados, com o que pode ser só o começo de outras perdas que ainda virão.

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