Recursos do Instituto de Gestão Previdenciária do Tocantins, o Igeprev, foram investidos em fundos ligados a outro doleiro além de Fayed Traboulsi. É o que demonstram arquivos revelados pela revista Veja sobre a Operação Lava Jato, da Polícia Federal.
Segundo a revista, os investimentos do Igeprev agora somam a quantia de R$ 12 milhões, aplicados na agência de viagens Marsans Brasil, administrada pelo doleiro Alberto Youssef, preso como um dos pivôs do esquema de lavagem de dinheiro na Operação Lava Jato.
Conforme documentos obtidos pela Veja, a empresa controlada pelo doleiro conseguiu angariar cerca de R$ 23 milhões só de fundos de previdência entre os anos de 2012 e 2013. Desses R$ 23 milhões, o Igeprev foi quem mais investiu na agência de viagens: R$ 12 milhões.
Outros institutos de previdência investiram quantias bem inferiores: fundos municipais de previdência de Cuiabá (MT) desembolsaram R$ 3,4 milhões; Paranaguá (PR) gastou R$ 2 milhões; o fundo de Amontada (CE) gastou cerca de R$ 1,6 milhão e o de Petrolina (PE) desembolsou R$ 980 mil; já Hortolândia e Holambra, duas cidades do interior paulista, aplicaram respectivamente R$ 1,5 milhão R$980 para virar sócias de Youssef.
Divergências
Conforme levantamento da revista, todo o dinheiro que entrou pelo Fundo de Investimento em Participações (FIP) Viaja Brasil teria sido aplicado na Graça Aranha RJ Participações — dona da Marsans Brasil, de acordo com relatório da consultoria Lopes Filho. No entanto, documentos da Junta Comercial do Rio de Janeiro revelam que a dona da Marsans é na verdade a GFD Investimentos, uma empresa do doleiro Youssef que controla sozinha a agência de viagens.
A Veja procurou o advogado do doleiro preso, Antonio Figueiredo Basto, que defendeu os negócios do seu cliente: “é um negócio lícito” e acrescentou que "se fundos de previdência resolveram investir na Marsans, quem tem de responder são eles. Muitas das coisas que Alberto tentava fazer eram legais. Eu particularmente desconheço que tenha ocorrido irregularidade em relação a fundo de pensão".
Culpados
A revista procurou também os fundos de previdência que investiram na empresa do doleiro, mas, segundo a reportagem da Veja, nenhum deles esclareceu os motivos de tais aplicações numa agência que enfrenta dificuldades financeiras.
Conforme a revista, a assessoria do Igeprev alegou que os investimentos teriam sido feitos em gestão anterior, de Luciano Silbernagel. A Veja procurou, então, o ex-presidente do Instituto e Silbernagel, por sua vez, responsabilizou o gestor Edson Santana Matos pelos investimentos. Ainda de acordo com a reportagem, o último não foi encontrado para se manifestar.
A reportagem repercute ainda a dupla renúncia de Siqueira Campos (PSDB) e João Oliveira (DEM), anunciadas no início de abril.
“O fundo de pensão dos servidores do governo de Tocantins também foi um dos que mais perdeu dinheiro com a aplicação de recursos em títulos lastreados em empréstimos do banco BVA — que teve recursos desviados pelos administradores e deixou um rombo de 4 bilhões de reais”, completa a reportagem da revista.
Reincidente
A Veja relembra que o doleiro Alberto Youssef já se envolveu em outros casos milionários, como em 2000, quando foi condenado por evasão de divisas por ter remetido bilhões de dólares para fora do Brasil. Àquela época o doleiro fez um acordo com a Justiça Federal – delação premiada – e teve uma punição mais branda, cuja única exigência era de que ele não voltasse a praticar crimes.
No entanto, conforme já relatado, ele foi preso durante a operação Lava Jato sob a suspeita de lavagem de dinheiro. Em junho ele começará a ser julgado pelos crimes de lavagem de dinheiro, participação em organização criminosa, evasão de divisas e operação indevida de instituição financeira.
CPI do Igeprev
Com mais uma aplicação duvidosa, a CPI do Igeprev deve ser inaugurada na sessão desta quarta-feira, 21, na Assembleia Legislativa. Tendo maioria da base governista, o requerente da CPI, deputado estadual Sargento Aragaão, declarou anteriormente ao T1 Notícias que não será um mero fantoche nessa investigação.
Confira aqui a íntegra da reportagem da revista Veja.
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