Drogas e falta de políticas públicas são triste realidade para comunidades indígenas, lembra Vicentinho em audiência

Atendendo um requerimento do Senador Vicentinho Alves, ACDH ouviu representantes de órgãos ligados à questão indígena e chefes indígenas de aldeias do Tocantins sobre o atual cenário. Na ocasião, o senador Vicentinho informou que acredita que um dos ...

A reflexão é preocupante, porque os dados surpreendem pelo número de casos ocorridos nos últimos seis anos: informações do Ministério da Saúde, repassadas através da secretaria especial de saúde indígena, apontam que, em todo o Brasil, dezoito indígenas se suicidaram entre 2006 e os primeiros dois meses de 2012.

“Só no ano passado foram sete casos; este ano, já registramos cinco mortes”, afirma o secretário especial da Saúde Indígena do Ministério, Antonio de Souza.

Durante audiência pública da Comissão de Direitos Humanos (CDH), realizada nesta segunda, 12, o Senado Federal resolveu trazer o problema ao debate, enfocando casos mais recentes – os suicídios registrados na Ilha do Bananal, no Tocantins.

Atendendo um requerimento do Senador Vicentinho Alves, ACDH ouviu representantes de órgãos ligados à questão indígena e chefes indígenas de aldeias do Tocantins sobre o atual cenário.

Tanto Ministério da Saúde, quanto FUNAI – representada na audiência pelo coordenador regional da fundação no Tocantins, Cleso Fernandes –, governo do Tocantins e indígenas são uníssonos: as drogas chegaram às aldeias com força destrutiva.

“Já chegou a tal ponto que o Ministério reforçou a proibição da venda de bebidas alcoólicas para indígenas na cidade de São Félix do Araguaia (MT) e a fiscalização nas aldeias”, aponta o secretário especial da saúde indígena, Antônio de Souza.

Para Cleso Fernandes, a vontade política pode ser o diferencial. “Melhorar a atuação nas aldeias e maior articulação dos governos em todas as esferas: é o que pode garantir maior eficiência do trabalho realizado nas aldeias”, disse.

O senador Vicentinho Alves acredita que um dos problemas reside, justamente, não apenas na falta de políticas públicas eficientes nas aldeias brasileiras, mas na ausência dos órgãos responsáveis em cumprir suas prerrogativas.

“As drogas são uma triste realidade para estas comunidades. Certo que alguns relatos de índios apontam justificativas na informação de feitiçaria como causa de suicídio, mas o que não se pode deixar de registrar é que a Funai está distante das aldeias: não atende a população indígena como deveria e, pior,tendo o pleno conhecimento de que suas ações não estão surtindo efeito, afinal os índios reclamam publicamente que estão abandonados pelo órgão”, afirmou o senador.

Se a circulação de bebidas alcoólicas e drogas nas aldeias indígenas é motivo de atenção redobrada entre os anciãos, a coisa agrava ainda mais quando a falta de estudo e trabalho se assenta na comunidade indígena. Não apenas o contato com o homem branco, com todos seus vícios e virtudes, molda o comportamento antropológico do índio moderno: a depressão, a falta de perspectiva e a imaturidade contribuem negativamente,como registraram os presentes à audiência.

“A falta de opções que o integrem socialmente, que o valorizem como ser humano e que o situem igualitariamente dentro de uma sociedade que ele teve de fazer parte, porque não ficou mais limitado apenas à sua comunidade, está alimentando jovens que estão sem horizonte certo para o futuro”, afirmou Vicentinho,durante a reunião.

O cacique da aldeia Watau, Iwrarú Karajá, confirma o cenário que vem sendo construído nas aldeias.

"Hoje, o cacique, o guerreiro, ninguém tem controle sobre a entrada de bebida alcoólica e droga dentro das comunidades. Até mesmo os traficantes já entram à vontade nas aldeias e a Funai não nos ajuda, porque precisamos de maior segurança, pois somos cidadãos brasileiros”, afirma o cacique.

Presente à audiência, o professor de cátedra indígena da ONU, Marcos Terena, apontou que é preciso prioridade para o resgate de valores ancestrais que estão se perdendo, contribuindo com isso para que a comunidade enfraqueça. (Ascom)

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