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A cota da gratidão versus a da necessidade: como entender as escolhas de Lula

O equívoco dos que colocam no mesmo balaio, lideranças diferentes na transição do governo Lula, a resistência em aceitar nomes de direita no primeiro escalão e outros ruídos da véspera da posse

Paulo Mourão/ Kátia Abreu/ Professora Dorinha
Descrição: Paulo Mourão/ Kátia Abreu/ Professora Dorinha Crédito: Pedro França - Agência Senado/Cleia Viana - Câmara dos Deputados

As últimas notícias, especulações, bolsa de cotações de nomes e possibilidades, fizeram meu celular vibrar na noite de ontem, quarta-feira, 28 de dezembro.

 

“Gata, deixa eu te falar...cê viu que a Dorinha pode virar ministra do governo Lula e a Kátia não? Cê viu?”.

 

Era um amigo, dos que colocou o 13 do Lula, a foto do Lula no perfil e que também abraçou a candidatura da senadora Kátia Abreu, que ora encerra um período de 16 anos no Senado. Não porque desgostasse pessoalmente da professora Dorinha, senadora eleita pelo TO, que dentro do seu partido, é um dos três nomes com mais força para uma indicação de cargo ao novo governo federal.

 

Apenas porque preferiu Kátia, ainda que ciente do desgaste pessoal, do rompimento com o governo (fator preponderante para os dois resultados: vitória de uma e derrota de outra) e de tudo que poderia advir disto.

 

A senadora manteve-se numa neutralidade aparente durante o primeiro turno e apoiou Lula no segundo turno. Ela está envolvida na transição desde o começo para articular lideranças do agro em torno do novo governo.

 

Parênteses...

 

Também nas centenas de mensagens que recebo todos os dias, veio uma no direct do Instagram. Um artigo do jornalista Stoff Costa, de Araguaína, que questionava no título se Kátia merece ser indicada à um alto cargo na estrutura do Banco do Brasil, mais do que Paulo Mourão (PT), que disputou o governo do Estado...

 

Fecha parênteses.

 

Acordei pensando sobre estas questões e em como é difícil às vezes para o eleitor fora do universo político compreender algumas coisas.

 

Vamos ao primeiro caso. Respondi: “são coisas da política”, mas na verdade é uma explicação um pouco mais complexa. Embora simples de entender.

 

O União Brasil, partido da professora, é um dos mais importantes no jogo de equilíbrio dos votos no Congresso Nacional. As eleições deste ano obedeceram a uma lógica diferente para os cargos proporcionais e majoritários.

 

O brasileiro elegeu para Câmara e Senado, em sua maioria, quadros de direita e extrema direita, na média, personagens do Centrão, e em sua minoria, parlamentares de esquerda, ou centro esquerda.

 

Para garantir governabilidade, o presidente Lula sabe que precisa destes votos. É nesta lógica que o PT e partidos aliados estão construindo uma imensa colcha de retalhos na formação do governo. Haverá erros? Não tenho dúvidas, porém os ministérios estratégicos, de setores que a esquerda brasileira tem compromisso em reconstruir, serão comandados por companheiros e camaradas de formação técnica e capacidade política.

 

O exemplo mais forte, perto de nós, é o do grande Ministro da Justiça escolhido por Lula, Flávio Dino, ex-governador do Maranhão, um jurista esplêndido, homem que nunca se acovardou diante do caos das mentiras fomentadas durante todo o governo Bolsonaro. Ele já guia, com mãos firmes e muito discernimento, o caos em que se transformou comando das Forças Armadas, comando da Polícia Federal e PRF.

 

Escolhas pessoais, escolhas partidárias, escolhas estratégicas

 

Lendo mais que escrevendo nos últimos dias, li Leandro Demori, do Intercept, fazer uma crítica contundente à possível entrega do Ministério das Comunicações ao União Brasil. Ele relembra as origens do UB, que era PSL, seu compromisso em abrigar e defender Jair Bolsonaro e sua política danosa nos últimos quatro anos.

 

Ele faz ponderações importantes e coerentes. Boa parte do inferno que vivemos no Brasil da mentira, passou pelas Fake News, oficializadas no Planalto, difundidas via WhatsApp e consagrada por veículos como a Joven Pan.

 

O próximo governo que -  benza a Deus -  começa oficialmente em três dias, mas de fato já começou, passa por escolhas pessoais do presidente, cotas importantes e a cota do sacrifício que é fazer concessão aos que são úteis e necessários neste processo de transição.

 

O primeiro ano é sempre o mais difícil num cenário político como o nosso.

 

Voltando ao Tocantins, o simbolismo de Kátia e o peso de Mourão

 

Foi uma eleição dura, tensa, que exigiu uma militância aguerrida, posicionamento de quem antes nunca se posicionou.

 

Quem é Kátia Abreu neste processo? Para além de quem teve a estatura, no auge do golpe, de permanecer ao lado da presidente Dilma Rousseff, a senadora é figura que transcende a política tocantinense e suas nuances. Não está na lista dos “cotáveis”, pelos votos que possa ter dado a Lula no estado.

 

Poucas, bem poucas pessoas no Estado tem a dimensão da rede de relações, do poder, do trânsito e do peso do nome de Kátia Abreu nacional e internacionalmente. É uma aliada importante para o presidente. E definitivamente, em se falando de cotas, é da cota de Dilma.

 

Desde ontem se escuta falar que cresce no nome da senadora do Tocantins para a presidência da CAIXA, inicialmente destinada a Maria Fernanda Coelho.

 

O que virá, vai depender inclusive da escolha pessoal da senadora, em como pretende tocar a vida nos próximos anos. Se enxergar possibilidade, no cargo que lhe for oferecido, de contribuir, será uma decisão. Senão, outra. Até porque, diferente de muitos, Kátia não está na cota dos que procuram emprego.

 

Já Paulo Mourão, muito bem qualificado para ocupar cargo técnico ou político, transita em outro universo, e com outra lógica.

 

O universo da militância. Dos que resistiram. Dos que construíram, rasgando as próprias mãos, o retorno do presidente Lula.

 

Mourão venceu a esfinge que devora quem não a decifra, ao levar finalmente uma candidatura não governo até o fim. Ao percorrer o Estado, na condição de candidato, foi abraçado pela “companheirada”, do PT à medida que foi se tornando mais e mais petista.

 

O PT não vota em nomes. Vota em modelo de governo. Vota no ideário. Vota no sonho. Vota em quem melhor abraça dentro da militância, tudo isto.

 

Que Mourão merece ser alçado a um posto de valor dentro do governo Lula, é afirmação sem dúvidas. O que não cabe é a comparação entre uma e outra personalidade pública, uma vez que transitam e habitam universos completamente separados, dentro do mesmo grupo que elegeu o presidente.

 

Agradados uns, ou desagradados outros. Seja ou não o ministério do novo presidente, aquele dos nossos sonhos, é preciso fechar o ano reconhecendo a gigantesca vitória que todos nós brasileiros tivemos.

 

Falta pouco para nos livramos do obscurantismo que levou milhares de brasileiros à morte física, da maldade e desonestidade que privou nossa infância de evoluir nos últimos anos.

 

Está na hora de virar a página. Com todos e todas que estejam prontos para reconstruir este País.

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