Doze votos, em 19, para derrubar o veto da prefeita Cinthia Ribeiro – corroborado pela Comissão de Constituição e Justiça.
Era isto que o Pastor Amarildo, líder religioso, ex-deputado federal, apregoava ontem, quinta-feira, na Câmara Municipal de Palmas, sobre a devolução pela prefeita, de um projeto com vício de competência, do ex-vereador Filipe Martins, atualmente deputado federal eleito. Com ajuda da prefeita, no partido da prefeita, que por sinal congrega (ela e o marido, deputado Eduardo Mantoan) na Igreja de Amarildo.
Para Amarildo - conhecido por ter sido arrolado naquele escândalo chamado “A Máfia das Ambulâncias” - o presidente José do Lago Folha Filho, estaria “de malandragem”, ao retirar de pauta o veto. Foi este o discurso dele, a pastores e populares levados à Casa de Leis, por seus guias espirituais, a clamar contra “este absurdo que expõe nossas crianças”.
Qual o absurdo? que as escolas utilizem linguagem neutra. Ou seja, que um professor possa em sala de aula cumprimentar, por exemplo, a todas, todos e todes.
Mas esperem aí. Onde, em que lugar, qual capital, qual estado está instituído o uso de linguagem neutra nas escolas? Em nenhuma.
Onde está a recomendação do MEC para que se implante a linguagem neutra? Desconheço.
Mas, defendo que ela deveria existir, como uma forma de combate ao preconceito, tão visível e comum nas escolas contra qualquer criança “diferente”, ou menino que manifeste trejeitos e gestos femininos, chamados pelos colegas de “viado”, sem nenhuma orientação contrária a isto, determinada, escrita no papel, para que as escolas sigam.
Voltando ao show de ignorância e oportunismo na Câmara Municipal ontem. Não é de iniciativa de Câmaras Municipais, nem de Assembleias Legislativas, tratar destes temas. O que define direitos universais de um povo é a sua Constituição.
Por isso, a prefeita Cinthia Ribeiro não passou recibo de ignorante das leis que regem o País e devolveu o projeto aprovado pela bancada da direita, da moral e “dos bons costumes”, que pregam para os outros e ignoram (não poucos) para si.
E qual o motivo de toda balbúrdia? OMEP emitir uma nota distorcida, repercutida num site evangélico da capital, dando a conotação de que alguns vereadores e vereadoras, estariam agindo “na calada da noite”, para impor uma linguagem que respeita o gênero fluido na escola.
É uma pauta moral, distorcida, como é costume do bolsonarismo, que está aí envergonhado, mas vivo. Mais vivo do que deveria.
Estes movimentos, em torno da pauta moral (falsa moral, repito) é onde se seguram os derrotados na eleição do ano passado.
É um movimento agressivo e violento que mistura religião e crenças pessoais, com posições políticas excludentes.
Prova disso foi o deputado federal Nikolas, vestindo peruca loira na Câmara dos Deputados e agredindo as mulheres trans.
Só isso restou aos bolsonaristas: a pauta moral, comportamental, que assusta as pessoas menos informadas, com a falsa ameaça de que seus filhos serão transformados em homossexuais por que o nome ou símbolo de uma escola traz um arco-íris, por que existem banheiros unissex.
É um oportunismo, um ato pensado. Um ato político.
Se realmente querem tratar este assunto, de forma séria, expressando seus medos e vontades, esta turma deveria estar em Brasília, onde o deputado Filipe Martins tem a oportunidade de fazê-lo. No lugar certo. E aguente este debate num parlamento mais civilizado e diverso.
Não me diga que Amarildo não sabe o que é vício de iniciativa. E que não sabe o que é a verdadeira malandragem.
O que Folha fez ontem foi acalmar os ânimos e chamar o debate, para um espaço mais ameno, propício a se tratar o assunto. Usou sua autonomia de presidente da Casa e sua prerrogativa para tirar o tema da pauta. Merece aplausos por isto. Pela frieza e pela habilidade.
Fora isto só me resta destacar o discurso forte, da vereadora Solange Duailibe, em rechaçar a manipulação, a mentira, a tentativa de desmoralização dos vereadores que estão cumprindo seu papel com um mínimo de conhecimento e respeito à Constituição.
O circo armado ontem me parece também um reflexo da aproximação da prefeita Cinthia Ribeiro, nos últimos 15 dias, do presidente Lula.
E pensar que um de seus convidados para a reunião da FNP foi justamente Filipe Martins, deputado federal.
É ironia do destino? De bem lá e provocando o caos aqui? Para mim tem outro nome: hipocrisia.
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