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A segunda chance de Wanderlei

A volta inédita do governador ao cargo após decisão do STF abre um novo ciclo político que exige explicações públicas, transparência e recomposição de credibilidade diante das denúncias

Crédito: Adilvan Nogueira/Governo do Tocantins

Passada a semana crítica em que foi decidido por 5 a 0 no STF a validação da liminar concedida pelo ministro Kassio Nunes Marques, devolvendo o comando do Palácio Araguaia ao governador Wanderlei Barbosa, algumas considerações precisam ser feitas à luz da verdade dos fatos e também para satisfação ao cidadão e à cidadã tocantinense por tudo que foi veiculado nos últimos três meses em torno das denúncias sérias apuradas pela Polícia Federal no bojo da Operação Fames-19.

 

O primeiro fato que se coloca com o retorno de Barbosa ao poder de fato e de direito como governador do Estado é o ineditismo da decisão, uma vez que, nos últimos 20 anos, os afastamentos de governadores no Tocantins – seja por cassação de mandato via Rced, que foi o caso do Marcelo Miranda, seja por operações da PF, como foi o caso Mauro Carlesse – nenhum desses afastamentos foi revertido pela Justiça.

 

No caso de Miranda, a decisão levou ao poder o então deputado estadual e presidente da Assembleia Legislativa, Carlos Gaguim, que se elegeu por via indireta, disputou e perdeu as eleições para Siqueira Campos em 2010. No caso de Mauro Carlesse, o afastamento permitiu que um processo de impeachment fosse recebido pelo então presidente da Assembleia Legislativa, deputado Antônio Andrade, que era seu companheiro, um ato considerado traição por Carlesse em diversas entrevistas, inclusive ao T1 Notícias.

 

Eu já alertava em análises anteriores o quanto o caso Wanderlei/Laurez era diferente, inicialmente pelo fato de que o vice-governador que assumiu interinamente não veio da Assembleia. O segundo fato é que as acusações que pesam sobre o governador Wanderlei Barbosa e remontam desde a sua participação como vice-governador no gerenciamento e negociação de emendas parlamentares com fins de adquirir cestas básicas na pandemia atingiam também dez deputados estaduais.

 

O clima na Assembleia não era propenso à aceitação e tramitação de impeachment “fritando” Wanderlei Barbosa antes dos 180 dias previstos inicialmente para o seu afastamento por parte do ministro Mauro Campbell. Neste quesito, um Amélio Cayres valeu mais a Wanderlei como companheiro do que Antônio Andrade pôde ser fiel a Mauro Carlesse.

 

A volta de Wanderlei e a necessidade de explicação ao eleitorado

O retorno do governador Wanderlei Barbosa, no entanto, não é um fato corriqueiro que possa ser assim tratado e que não mereça, por parte do mandatário, explicações ao povo tocantinense, ao seu eleitorado, aos formadores de opinião e à classe política. Ao longo dos últimos três meses, veio ao noticiário a revelação de várias situações de mau uso do recurso público, seja com locação de jato utilizado indevidamente e não só em missões oficiais, seja com relação a montantes em espécie movimentadas por assessores diretos do governador, seja com relação a numerários encontrados tanto no Palácio quanto na residência do governador, seja quanto a ações, gastos e investimentos feitos pela primeira-dama Karynne Sotero. Tudo isso requer, para além das explicações jurídicas dentro do processo, uma satisfação ao povo tocantinense.

 

É preciso que o governador, em momento oportuno, dê à sociedade tocantinense as explicações que permitirão que ele siga no comando do Estado merecendo ainda a confiança e a respeitabilidade por parte de muitos que o acompanham e o seguem, não só nas redes sociais como na vida pública.

 

A segunda chance de Wanderlei, coisa que nem Miranda e nem Carlesse tiveram nas vias judiciais (Marcelo Miranda foi reeleito e novamente afastado), precisa ser muito bem aproveitada com atos que reflitam prudência, cuidado com os recursos públicos, transparência em todos os processos, sejam os que vão adquirir bens e serviços a serem pagos com recursos públicos, sejam os que forem pagos a fornecedores, evitando assim a mancha do descrédito relacionado a tudo que foi levantado como suposta prática de corrupção em seu governo.

 

Cabe também à nova gestão – uma vez que o governador não reconduziu os ex-auxiliares que participaram do governo Laurez – instituir processos de gestão que deem clareza ao que está entrando de recursos e como esses recursos estão sendo administrados em cada fundo, em cada rubrica, de cada fonte de arrecadação do governo do Tocantins.

 

No dia do seu retorno a Palmas, muito emocionado, Wanderlei agradeceu aos companheiros que permaneceram do seu lado. Na Assembleia, é provável que, sob a batuta de Amélio Cayres, a base seja recomposta nas próximas semanas, até o retorno dos trabalhos, uma vez que a legislatura, este ano, já tem as suas atividades finais na próxima semana.

 

Além de decidir com quem fará gestão e com quem fará política, o governador deverá valorizar, nos próximos dias, aqueles que estão ligados aos principais líderes que o apoiaram: senador Eduardo Gomes, Carlos Gaguim, Amélio Cayres, Cleiton Cardoso, Vanda Monteiro, Nilton Franco e os da bancada federal, como o Filipe Martins.

 

O Tocantins não aguenta mais grandes emoções que venham desestabilizar a credibilidade do Estado junto a investidores que não sabem, ao prever e planejar suas ações e investimentos no Estado, quem será o governador quando elas estiverem sendo implementadas, ponto.

 

Ouvi de um empresário do ramo imobiliário que um negócio de 70 milhões de reais foi suspenso logo que Wanderlei foi afastado, até que houvesse segurança jurídica para realizá-lo. E na semana em que o negócio avançaria, já sob a batuta do governador Laurez Moreira, houve o retorno de Barbosa ao governo.

 

Com o movimento, os empresários desistiram de fazer este negócio no Tocantins.

 

Não será a imprensa nem os agentes políticos que julgarão o governador Wanderlei Barbosa. Mas, para além da Justiça e dos tribunais, a opinião pública tirará conclusões sobre até onde vai a sua suposta participação, ou não, nos fatos ilícitos levantados pela PF. Cabe a ele e à sua comunicação dar ao público, leitor e eleitor, os elementos que darão crédito ou não à sua defesa.

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