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As profundezas de uma investigação que envolve 4 governadores e 2 gabinetes no STJ

A retirada da publicidade do processo do portal do STF por decisão do Ministro Cristiano Zanin é sinal inequívoco de proteção das demais fases da investigação

O processo corre em sigilo
Descrição: O processo corre em sigilo Crédito: Freepik

Precavi-me na última semana de não emitir opinião sobre o PET 14025, que transcorre em sigilo no STF para evitar interpretações errôneas e movidas pela paixão de muitos que – desconhecendo os fatos envolvendo a etapa mais recente da Operação Sisamnes – reagem à emoção, em vez de usar a razão para a análise das circunstâncias em torno da prisão e afastamento do prefeito Eduardo Siqueira Campos, do comando da Capital.

 

 

É natural que após uma eleição disputada voto a voto e praticamente seis meses de gestão ininterrupta - atacando os problemas da cidade e tocando obras que recuperam a autoestima de quadras e setores que careciam dessa atenção do gestor público - o clima fosse de comoção.

 

 

Também tocada pela indignação de assistir o afastamento abrupto do prefeito mas na busca por informações que esclarecessem os fatos (e que não chegariam pela via oficial) tive que buscar o caminho dos off’s, dos bastidores e das fontes com acesso pelo menos a partes desta imensa investigação que começou no Mato Grosso.

 

 

Vejo linhas de análises de colegas e de advogados, tocarem apenas a superfície de algo que já demonstrou alto nível de gravidade, complexidade e amplitude na gama de atores envolvidos.

 

 

A retirada da publicidade do processo do portal do STF por decisão do Ministro Cristiano Zanin é sinal inequívoco de proteção das demais fases da investigação, que com certeza derivam das provas físicas e/ou dos indícios encontrados nas buscas físicas que a Polícia Federal fez, assim como do que encontrou em aparelhos eletrônicos.

Foto ilustrativa de investigação da Polícia Federal - Divulgação PF

 

Não é para menos. Rondam dúvidas sobre a lisura das práticas de escritórios de advocacia em Brasília que orbitam no entorno de dois gabinetes de ministros do STJ.

 

 

Em português claro: esta investigação não é sobre grampos telefônicos. Passa pela recuperação de mensagens de Whatsapp deletadas de conversas entre personagens desta trama mas envolve suposta comercialização de sentenças favoráveis a investigados. Ou da protelação de sentenças com poder ofensivo de interferir em governos, cujos titulares são alvo de investigações.

 

 

Chega a ser constrangedor ler exposições jurídicas que beiram à primariedade, ou ouvir análises literalmente “chucras”, sobre temas tão sensíveis.

 

 

O que não é difícil de se esperar, ou de se prever, são novas etapas desta investigação, com desdobramentos que sejam frutos de tudo que se amealhou na coleta de provas da etapa anterior.

 

 

Ou seja: PF nas ruas novamente e não só no Tocantins.

 

 

É dentro deste enredo cabuloso que o prefeito Eduardo Siqueira Campos foi parar. Não após um grampo mas depois de uma gravação de conversa telefônica que teria sido produzida pelo advogado Thiago Barbosa. Informação que ouvi de um dos assessores do núcleo duro do prefeito logo após a etapa do final de maio da Sisamnes.

 

 

Todo o sigilo redobrado sobre o processo e o fechamento em copas dos assessores do Ministro Zanin em torno das investigações desautorizam o clima quase festivo e inconsequente, propagado por agentes políticos na capital. Parecem apregoar que tudo não passou de um ledo engano, de um exagero da caneta do Ministro, pronto para ser desfeito a qualquer momento.

 

 

É o que eu tenho dito a quem me pergunta como estou vendo o desenrolar de tudo isso. Numa crise deste tamanho da que se instalou na política palmense, a frieza ao avaliar os fatos ajudaria mais a gerenciá-la do que a criação de factoides, otimismo inflado ou ameaças de retaliação.

 

 

Tempos duros requerem homens maduros. E resiliência.

 

 

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