Os últimos dias, especialmente as últimas 24 horas, mostram um movimento atípico na política tocantinense, mas bem conhecido no cenário nacional.
É a síndrome do Aécio, que ao lado da Covid-19, parece estar contaminando rapidamente quem – perdendo a eleição municipal – não aceitou o resultado e quer governar no lugar da prefeita eleita em Palmas, Cinthia Ribeiro.
Não é brincadeira. É bem sério. O grupo é orquestrado por quem nem disputou a eleição, mas articula de vereadores a deputados para – amplificando críticas à prefeita – estabelecer um bombardeio sem precedentes, criando clima para impeachment.
O objetivo é minar a popularidade da Cinthia, que diminuiu o ritmo de obras com o período de chuva. O método: usar suas medidas amargas contra a Covid para indispor contra ela a população.
Anotem aí: estamos no final de fevereiro, mas essa trama já circula nos bastidores da Câmara Municipal, onde a presidente age como adversária, mesmo não tendo disputado eleição para o Paço.
Vamos aos fatos...
Primeiro. A suspensão de sessões na Casa por 15 dias, a título de cuidado com a pandemia, teria sido um meio, segundo fonte da base da prefeita “para calar as respostas aos ataques que foram orquestrados na Assembleia”.
Lá, desafeto pessoal de Cinthia, Luana Ribeiro, usou de ironia para subir o tom das críticas. A deputada sacou o argumento dos empresários contrariados, para perguntar se o vírus só circula depois das oito da noite.
Ignorando que parar a cidade novamente tem consequências sérias para a economia, e que medidas paliativas que diminuem a circulação de pessoas, diminuem também a circulação do vírus.
A lógica demonstra que – se não é possível parar durante o dia – pelo menos a noite o prejuízo é menor.
O problema é que os donos do prejuízo – proprietários de bares, restaurantes cujo movimento maior é o noturno e donos de distribuidoras de bebidas – se uniram num levante contra o decreto que lembra o período da eleição, tamanha a agressividade. Até criaram um grupo de WhatsApp para isso.
Segundo. O tom duro da resposta dada pelo líder do governo - deputado Ivory de Lira (PC do B) – à reclamação da prefeita de que o decreto de calamidade não havia sido pautado na Assembleia Legislativa, mostrou na desproporção, a belicosidade.
“Ah, ela provoca!” disse ao Blog uma fonte palaciana quando a prefeita cobrou a lentidão provocada pela burocracia na distribuição para a capital das doses da Coronavac.
Pode ser. O jeito Cinthia de ser é postar no Twitter suas insatisfações. Seja a falta de transparência na regulação de vagas, seja a demora na tramitação de matérias.
Talvez falte interlocutores entre Palácio e Paço para conseguir fazer fluir um diálogo institucional fora das redes, mas o que parece é que deputados (até de Araguaína) foram escalados para criticar pessoalmente a prefeita, pelas medidas adotadas na capital.
Num debate normal se questionam os atos, e se preserva a pessoa. Não foi o que se viu na Assembleia. Palmas (dê a César o que é de César) foi a cidade cuja gestão mais enfrentou com coragem e medidas necessárias, o avanço da pandemia ano passado.
Terceiro. O factoide de tentar desengavetar pedido de impeachment protocolado na Câmara ano passado, deu o rumo do que pretende o grupo oposicionista à prefeita na Casa: cavar uma improbidade, achar algo que possa ser transformado em processo que afaste Cinthia Ribeiro.
Não falta fogo amigo em meio ao fogo inimigo. Os adversários de Cinthia Ribeiro são muitos. Alguns (pelos pedidos pouco republicanos que circulam nos bastidores) mais parecem lobos atrás de um naco do poder que não conquistaram.
O problema é que a guerra política passou de hora. Aconteceu entre agosto e novembro do ano passado. Outra, no âmbito do município, só daqui há quatro anos. Pelo menos nos ritos normais da democracia.
Agora, em plena aceleração da segunda cepa do Covid, três vezes mais letal que a primeira, o que deveria estar acontecendo é a união de esforços.
Absurdo cobrar do município agora, no meio da pandemia, um Hospital Municipal que ninguém construiu em 30 anos.
Desproporcional querer que com os recursos que a prefeitura recebeu, ela instale os leitos de UTI que cabe ao Estado, na divisão de responsabilidades, instalar.
Os leitos reservados pelo município, e pagos por ele, integram o total dos que o Estado regula. E semana passada, um paciente de Palmas foi regulado para Gurupi. Mesmo constando vagas em UTI’s na Capital. Coisa que a SES, demandada pelo portal, não explica.
Ricardo Ayres e a discriminação de criar obrigação exclusiva para Palmas
No quarto ato, a cereja do bolo na conspiração: a aberração jurídica-política-discriminatória inventada nesta terça-feira pelo deputado Ricardo Ayres.
Chega às raias da hipocrisia criar uma obrigatoriedade de que a prefeita preste contas a cada 30 dias à Câmara Municipal, em audiência pública, uma vez que a Lei de Responsabilidade Fiscal determina que todos os prefeitos (e não só Cinthia) fechem relatórios quadrimestrais da aplicação dos recursos recebidos.
Ricardo Ayres pariu nesta terça-feira, 23, uma peça de clara discriminação política-administrativa, uma vez que não teve o mesmo zelo de incluir no Decreto de Calamidade Estadual, a mesma obrigatoriedade.
Se não passar a exigir a mesma transparência dos demais municípios aos quais autoriza decretos de calamidade, a Assembleia Legislativa estará assinando embaixo no caráter discriminatório da medida.
Carlesse e uma eleição pela frente, que não será disputada com Cinthia...
O governador por sua vez não fugiu à responsabilidade em meio à crise. Determinou no final de um dia em que foi cobrado a montar um hospital de campanha, até pelos aliados, que a Saúde amplie o número de leitos de UTI Covid em Palmas e Gurupi.
Os aliados de Carlesse (e adversários de Cinthia) no entanto, agem como se não houvesse amanhã nas composições políticas. Como se ela fosse disputar a vaga de Senado com ele. Ou de governo... com Wanderlei.
Na incapacidade de enxergar quem são os adversários, criam adversária, bombardeando a gestão da Capital. E sem perceber elevam a condição da prefeita a um patamar que ela não dá sinais de que desejaria.
Eleita democraticamente, no comando de um Orçamento capaz de fazer frente às necessidades da cidade. Com aliados políticos que lhe garantem maioria na Câmara, Cinthia só não equilibrará esse jogo com ações e articulação política se não quiser.
Tem pela frente pautas espinhosas, como resolver o problema do transporte público da Capital. Que segue lotado, em tempos de pandemia. Mas isso é tema para outra conversa.
Por enquanto, acendam o alerta: tem golpe em curso contra a prefeita de Palmas.
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