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Crise na Saúde é gerada por mortes e danos não podem ser combatidos com retórica

Ironias de Afonso Piva em rede estadual de TV provocaram reação da prefeita Cinthia Ribeiro. Deputados governistas saem em defesa do secretário e atacam prefeitura por obrigação que é do Estado

Afonso Piva de Santana, secretário de Estado da Saúde.
Descrição: Afonso Piva de Santana, secretário de Estado da Saúde. Crédito: Mariana Ferreira/Secom

Uma guerra sempre produz vítimas. Na guerra política, o jogo de forças se faz com aliados. Ela também gera danos.

 

A crise na Saúde do Estado, refletida no problema da regulação de vagas no HGP, é provocada por mortes - e não por tweets - mas ganhou ressonância política.

 

O que se viu ontem, terça-feira, 16, na Assembleia Legislativa do TO em resposta a duas mortes semana passada de pacientes que aguardavam transferência para o maior hospital do Estado, foi retórica.

 

As mortes se acumulam na falta de transferência rápida de pacientes que necessitam mais que estabilização. São casos graves, que requerem intervenção médica especializada, exames de alta complexidade, medicação adequada. O assunto é tão grave que rompeu as fronteiras do Estado e se tornou matéria nacional na Globo.

 

Mortes que se acumulam em números, mas que escondem o drama de famílias à mercê do atendimento público que deve ser garantido pelo SUS, e que é gerenciado pela Secretaria de Saúde do Estado. Vinte pessoas teriam perdido a vida este ano só nas UPAs da capital aguardando regulação. Segundo pesquisa do G1, nos arquivos médicos da capital, são 42 vidas perdidas em um ano.

 

Quando perdíamos acima de 100 vidas tocantinenses por dia numa pandemia que crescia, sem vacina, sem resposta da ciência, em meio à contaminação em massa, 42 poderia parecer um número baixo. Mas quando um sistema funciona e sacrifica pessoas que deveriam ser bem atendidas, aí a coisa pega.

 

Quem errou, a prefeitura ou o Estado?

 

Se os deputados estaduais que fizeram na terça um ataque coordenado de críticas à gestão municipal tivessem assistido a fala do vereador Marilon Barbosa na Câmara de Palmas sinalizando que o governador Wanderlei Barbosa quer paz e não guerra neste assunto, poderiam ter poupado os tocantinenses de falas vergonhosas.

 

Tentar varrer o problema para debaixo do tapete, elogiando o secretário Afonso Piva e criticando a prefeita (por ter subido o tom em seus tweets, quando acusada na maior rede de TV do Estado, de omissão, ou pouco interesse em resolver o problema da Saúde na capital) jogou mais lenha na fogueira que caminhava para apagar.

 

Os deputados agiram como um grupo político orquestrado na defesa de quem errou mais, virando sua metralhadora giratória para quem erra menos.

 

Abre parênteses.

 

Me lembraram, nesta décima legislatura, a nona, quando Mauro Carlesse tinha 22 dos 24 parlamentares como aliado e teve um processo de impeachment aprovado sem inquérito, à época, aceito, instalado e aberto pelos seus “leais” companheiros de seis meses antes.

 

Quantos destes deputados seguirão no discurso de apoio irrestrito, cego, se e somente se, os rumores de delação premiada na Saúde, feito em um depoimento de 36 horas na PF se confirmarem verdadeiros?

 

Depoimento que explicita esquema forte de corrupção na Saúde vindo do governo anterior e que teria sido mantido na Secretaria de Saúde, com operadores diferentes?

 

Todo e qualquer esquema de corrupção na área da Saúde sempre, sempre, sempre coloca em risco vidas humanas. É um lugar em que quem desavia o que é público para si, arruma dívida na Terra e no Céu.

 

Fecha parênteses.

 

Afonso Piva é considerado, nos bastidores, um bom profissional. Sucessor de Edgar Tollini, do mesmo grupo, fechou o HGP, que era um hospital de portas abertas. Defendeu acertadamente na entrevista a TV Anhanguera, uma equipe que trabalha muito. Sou testemunha. A equipe do HGP é gigante. Mas temos que concordar que tem sido insuficientes as vagas colocadas à disposição do Estado - e não só de Palmas - para regulação.

 

E não adianta culpar as UPAs ou os hospitais regionais do Estado por isso. Esta obrigação é do governo do Estado. Os deputados menos informados da Aleto, sabem disto. O resto é firula, é retórica. É puxa-saquismo que não aguenta um escândalo.

 

A questão política é simples: Piva atacou a prefeita, ironizou o secretário Thiago Marconi em rede estadual por sua livre iniciativa ou não?

 

Conhecendo Cinthia Ribeiro Mantoan - que não leva desaforo para casa -,sua reação ao ser responsabilizada indevidamente, foi tão estranha assim?

 

O resto do barulho é consequência do silêncio do governador numa questão tão grave. Vidas tocantinenses perdidas na fila de espera do HGP.

 

Palmas precisa de um hospital de urgências, de trauma? É evidente que sim. A prefeitura tem a obrigação de manter as UPAs abertas e com todos os medicamentos que é da sua competência fornecer? Não resta dúvida.

 

Ações e reações com consequências eleitorais

 

Nos últimos dias ouvi muitas críticas à reação “emocional” da prefeita. Ou de baixo nível, como dizem alguns. 

 

Cinthia não é candidata a nada a não ser a terminar bem sua gestão. O alto tom dirigido a ela desde um secretário de Estado, a deputados aliados do governo é reflexo de um movimento político de antecipação de apoios para o pleito do ano que vem. Que requerem desgastá-la ao máximo.

 

Saída de uma Covid-19 “internacional”, que deixou sequelas, resistente a tomar medicamentos que têm efeitos colaterais incompatíveis com sua rotina exaustiva de trabalho e com a mãe na UTI após uma queda semana passada, a prefeita vive um período de inferno astral.

 

Tudo isso, no entanto, passa. A normalidade do trato institucional, volta.

 

O que não volta, é a vida da Aurilene Lima da Silva, nascida no Pará e que morava em Colmeia, mas veio encontrar atendimento na hora da necessidade, na UPA Sul, de Palmas. Como ela, também outros.

 

O que pode evitar outras mortes é gestão. De média e alta complexidade.

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