Está desaparecido da Assembleia Legislativa e das rodas políticas há uma semana o deputado Eduardo Siqueira Campos. Este também é o tempo que permanece vaga a Secretaria-Geral de Governo, que era ocupada até a semana passada pelo candidato a deputado federal César Halum.
Nos bastidores, onde a nomeação de Eduardo para a pasta era dada como certa, paira um silêncio pavoroso.
O que aconteceu? Será que o mesmo Wanderlei, que se encantou pela habilidade política de Eduardo, o Siqueira, perdeu o encanto? Dificilmente.
Resgatado do processo de afastamento da política, onde estava cuidando da saúde e dedicado à família, Eduardo voltou a brilhar no cenário da política tocantinense, seja com os discursos inspirados (como aquele no Araguaia pela ocasião da vinda do ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), Augusto Nardes, para uma palestra), seja com as articulações de bastidores.
Uns ainda vêem nele ele o antigo perfil do Dudu Malvadeza, que já tirou 23 prefeitos de Paulo Mourão e elegeu no MDB Osvaldo Reis, num futuro distante...
Outros a habilidade de um engenheiro da política, que conhece o Tocantins, seus líderes e suas histórias como poucos. O Eduardo que abriu uma verdadeira ONG criando meia dúzia dos mandatos de políticos que passaram pelo Tocantins nos últimos anos...
O perfil de Eduardo Siqueira - que conheço bem - lembra uma frase que ouvi há muito tempo: “o tamanho da nossa luz é que projeta a nossa sombra”. Mas, uma coisa é fato: o Eduardo de hoje não é o dos anos 90. É outro, amadurecido com as derrotas e moldado pelo sofrimento, ou mais: purificado, igual a água de pote. Aquela que, guardada, solta as impurezas e as deposita no fundo.
Foi desta fonte de sabedoria que Wanderlei Barbosa usufruiu até agora no processo do seu fortalecimento político. Foi com o gesto de calçar as sandálias da humildade e buscar todas as lideranças políticas no começo do mandato temporário, resgatando nomes que estavam esquecidos, que Wanderlei juntou uma base digna de nota. De Eduardo a Kátia Abreu. Aliás, fez com que Eduardo Siqueira baixasse a guarda de antigas mágoas e estabelecesse com a senadora um pacto de paz em torno de Wanderlei. “Sou Wanderlei, ainda não sou Kátia Abreu”, disse ele à ela no Palácio. Mas poderia ou poderá ser. Dependendo da construção. A porta ficou aberta.
Abre parêntese.
Não foram uma nem duas lideranças expressivas que ouviram o governador se referir ao deputado como seu próximo secretário de governo. Era algo que estava escrito, mas que começou a ser desconstruído dentro do Palácio pelos desafetos de Eduardo, enciumados com seu retorno às proximidades do poder.
Primeiro começou um movimento para esvaziar a secretaria de Governo, dentro da equipe de Wanderlei Barbosa. Na Casa Civil, esses ecos começaram a crescer. O objetivo: dar menos destaque, poder ou importância ao cargo.
Na ala parlamentar, dois deputados são desafetos com cadeiras próximas a Wanderlei. Ou seja, o famoso “fogo amigo” entrou em ação.
Fecha parênteses.
A verdade é que o saldo da reta final de filiações deixou a desejar para o Palácio, enquanto a pasta esteve sob a batuta de Halum. Nem Jair Farias, nem Vanda Monteiro poderão estar no palanque de Barbosa, nem em seu tempo de TV pedindo votos. São dois deputados a menos.
O famoso chapão, já é mais conhecido como “o chapão da morte”, pois juntou nove deputados de mandato e deve fazer cinco, no máximo seis, deixando de três a quatro sem mandato.
Luana Ribeiro, que em condições normais não faria uma campanha na oposição, virou comunista de carteirinha e desceu do trio elétrico antes da partida.
O fator Eduardo Gomes vem aí
O certo é que em política não existe vácuo. Chateado com a aproximação de Eduardo Siqueira com Wanderlei - motivo de uma discussão dos dois por telefone -, Eduardo Gomes chega a Palmas nesta sexta-feira, 8, já informado e atento à todas estas movimentações.
A zanga de Gomes com Siqueira só aumentou com o vídeo que Eduardo gravou com o pai (seu suplente no Senado), elogiando e desejando sucesso à gestão de Barbosa. Convidando Fenelon para ir à sua casa. Sem nunca ter se vacinado contra a Covid-19, Siqueira, o velho, há muito tempo suspendeu as visitas. Limitou-as ao mínimo.
Fazendo uma viagem no tempo, dá para perceber que Gomes e Siqueira, os dois Eduardos sempre foram mais próximos que irmãos siamenses, na vida e na política. “De Eduardo Siqueira entendo eu”, costuma responder Gomes quando lhe perguntam: “e seu Xará, como é que fica no outro palanque?”
Amigos de rodas de viola desde a época dos almoços com poesia promovidos pelo velho Zé Gomes, os dois Eduardos caminharam juntos a vida toda.
Nunca, absolutamente nunca, estiveram separados em uma eleição.
Esta, se seguir como está, será a primeira. E, se assim acontecer, isso só se deve a habilidade de Wanderlei, que como Eduardo, foi relegado a segundo plano pelo governo Carlesse. Do jeito que o então vice-governador foi por diversas vezes subestimado e até humilhado (tendo que descer de avião pronto para sair e ceder vaga a outro), Eduardo Siqueira foi isolado pelo Araguaia após ter sido muito útil como herdeiro do espólio político do pai.
A verdade é que a eleição não está ganha. Aliás, caminha para ser muito disputada. O Palácio tem a vantagem da máquina, que Wanderlei maneja bem. Inclusive, com o cheque pré-datado das progressões que acenou para o funcionalismo público, decisivo numa disputa dessas. Dívida a ser paga até 2030, dependendo do governo injetar R$ 200 milhões a mais por ano na Secad.
Para bom entendedor: ficando o governador que fez o compromisso. Ou não?
Será que o grupo dos Wanderlistas pode se dar ao luxo de desembarcar na marra Eduardo Siqueira? O tempo dirá.
Comentários (0)