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Na hora mais escura da Covid-19, Palmas vira palco dos contaminados pelas Fake News

Em 24 horas, UPA Norte recebe 325 casos de Covid-19. Situação se agrava enquanto Fake News dominam de petições a decisões judiciais...

Palmas - TO
Descrição: Palmas - TO Crédito: Luciana Pires

Acordei nesta sexta-feira, 12, e encontrei no celular uma cópia da Ação Civil Pública movida pelo promotor Adriano das Neves contra a Prefeitura de Palmas, na intenção de derrubar o decreto que estabeleceu restrições à circulação de pessoas, para evitar a disseminação do vírus que provoca a Covid-19 em Palmas.

 

Esfreguei os olhos e li de novo. Não estava sonhando.

 

É apenas mais um capítulo do pesadelo que assisto, semi-adormecida, sem condições de escrever há seis dias, hoje sete.

 

Dormi e acordei num mundo em que não só a as variantes do vírus se multiplicaram (são seis, identificadas por pesquisadores tocantinenses), mas as Fake News também evoluíram para uma nova cepa e infectaram pessoas, provocando mutações.

 

As Fake News não são mais notícias de jornais e portais. São pessoas.

 

Andando, falando e mentindo compulsivamente para fins de seus projetos políticos, pessoais e empresariais.

 

O que é um promotor de justiça citando um Tweet no meio de uma ACP para convencer o magistrado de que está comprovado que o Kit Ivermectina/Azitromicina é eficaz na prevenção ao Covid-19?  Uma Fake News ambulante!

 

O que é a presidente de um poder Legislativo devolver um projeto que permite ao município entrar num consórcio para adquirir vacinas, alegando que está incompleto, e ele ser votado exatamente igual, dias depois do seu show nas redes? Uma Fake News ambulante!

 

O que são agentes políticos promovendo agressões na rotatória e na porta da casa da prefeita de Palmas, patrocinados e patrocinando o caos, sob o falso argumento de que só querem trabalhar?

 

O mundo enlouqueceu enquanto eu vivia meu luto na última semana, ou já estava assim antes e eu não reparei?

 

Vereadores resolveram fazer política visitando UPAS lotadas de doentes acometidos de uma virose que mata. E querem forçar a entrada.

 

Tem gente da saúde propagando mentiras como a de que existem 40 respiradores sem uso nas UPAS da cidade, encaixotados. Usando fotos de quando eles chegaram, ano passado. E tem incauto que cai. E tem jornalista que faz matéria sem checar. E tem portal que publica release mentiroso sem confirmar com outra fonte.

 

É.

 

O caos chegou em Palmas. Chegou na forma de outro vírus, contaminando mentes que já eram propensas a isso: ao negacionismo, ao oportunismo. Mais fácil negar a verdade que enfrentá-la.

 

O presidente da República, que não quer que o Brasil pare, que a economia sofra, enquanto “mimizentos” choram seus mortos, pressiona governadores. Muitos desses, acovardados, lavam as mãos e transferem a prefeitos pressionados em suas bases, a responsabilidade de tomar as medidas mais difíceis.

 

Como sairemos de uma crise sanitária dessa proporção sem uma ação coesa, equilibrada, de todos os entes federativos? É impossível!

 

Difícil acordar numa sexta-feira, 12 de março, de volta ao “mundo acelerado”, sete dias depois de uma grande perda.

 

Como naqueles filmes que assistíamos – Cegueira, Epidemia e outros – cabe manter a lucidez e a razão. Um dia de cada vez.

 

Só por hoje, quero acreditar que o Ministério Público é maior que Adriano das Neves. Um promotor que acredita que o direito de ir e vir individual, é maior que o direito coletivo de sobreviver.

 

Só por hoje, quero acreditar que podemos seguir desmentindo falsas notícias e isolando pessoas contaminadas pela prática nociva de enganar e iludir, criando uma falsa realidade. O mundo não será o mesmo tão cedo e não existe solução fácil para o problema que enfrentamos.

 

Abrir. Fechar. Restringir. Liberar.

 

Só a ciência, a lucidez dos governantes e o interesse público acima do privado poderá nos salvar.

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