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O desafio da esquerda em Palmas: eleger vereadores e discutir a cidade que queremos

Para onde vão os 62 mil votos que o presidente Lula teve em Palmas no segundo turno das eleições presidenciais? A Federação não quer perdê-los.

Crédito: Montagem/T1 Notícias

Para onde vão os 62 mil votos que o presidente Lula teve em Palmas no segundo turno das eleições presidenciais? A Federação não quer perdê-los.


Lendo nesta madrugada o artigo do jornalista Luiz Armando em seu Blog, sobre a participação da Federação Brasil da Esperança - registrada nas últimas eleições como coligação Fé Brasil – não pude me omitir e trago aqui meu comentário (a visão de dentro) sobre o que já se levanta nas ruas, grupos de Whatsapp e rodas políticas sobre o que virá deste movimento.


A princípio, os partidos da Federação - que escolhemos chamar a partir desta semana de Palmas da Esperança – elegeram nas últimas eleições a governo, Assembleia Legislativa e Câmara dos Deputados, dois deputados estaduais. O PCdoB elegeu Ivory de Lira, o mais bem votado, e o PV elegeu com larga votação a deputada Cláudia Lélis.


O maior prejudicado foi efetivamente o PT. E apenas por conta da chapa pouco encorpada de nomes competitivos, deixou de fazer deputado federal, deixando sem mandatos o ex-deputado federal Célio Moura (PT) e o ex-deputado estadual José Roberto, presidente estadual do PT, ambos bem votados.


O Partido dos Trabalhadores perdeu também a chance de eleger um deputado estadual. Pela relação turbulenta com o Palácio, especialmente por não ter “engolido” o rápido impeachment do ex-governador Mauro Carlesse, a ex-deputada estadual Luana Ribeiro acabou rifada do grupo em primeiro momento, apoiou o senador Irajá ao governo e teve suas bases invadidas e disputadas por outros candidatos aliados ao governador Wanderlei Barbosa.


Muito próxima do senador Irajá, Luana cogita ser pré-candidata a prefeita de Palmas, talvez pelo PSD, que tem fundo eleitoral e tempo de TV.

 

Relações pragmáticas e a liberdade de construir


Se por um lado o companheiro de escrita Luiz Armando tem razão em questionar as dubiedades eleitorais da Federação em um passado recente, por outro há que se analisar as relações pragmáticas naturais a todos os partidos, de tentar buscar espaço de sobrevida na política e construção. E isso é um pouco mais complexo do que tratar de peleguismo ou de termos afins.


O PV de Marcelo e Cláudia Lélis, para apoiar Wanderlei Barbosa argumentou com a Nacional, que era neste grupo que a deputada já fazia política e era nele que ela teria condições de se eleger. Fazer uma ruptura seria arriscar o mandato, que é importante espaço de poder para os verdes do Tocantins.


No segundo turno, Marcelo Lélis, Deocleciano Gomes e quadros importantes do PV caíram “pra dentro” da campanha pluripartidária que elegeu o presidente Lula.

Outro caso é o do deputado Ivory de Lira, então presidente do PCdoB. Sua relação política e pessoal com Barbosa de quem vinha próximo desde o mandato dos dois, na mesma época, na Câmara de Palmas.


Se Ivory marchou com sua base para o palanque de Barbosa, o PCdoB “raiz”por sua vez, compôs na vice-governadoria, com Paulo Mourão, através do nome da professora Germana. E na campanha estadual e presidencial foi às urnas, às ruas e às praças pela derrocada de Bolsonaro e pela eleição do presidente Lula.


A Federação se dividiu novamente na hora de eleger o Senador. O presidente do PT Metropolitano, Vilela, mesmo com os votos de casa divididos com a Senadora Kátia Abreu, para quem Lula pediu apoio, manteve-se candidato até o fim, e cravou mais de 44 mil votos nas urnas.


Os resultados da esquerda orgânica - ainda que eventualmente sabotada, ou
preterida por quem chega com nome, recursos financeiros e espólio eleitoral – não são ruins.


Liberdade para discutir, construir nomes, ganhar a cidade


É essa grande parte da militância do PT e do PCdoB, que quer renovação dos espaços de poder no legislativo e executivo, que abriu a discussão na Federação sobre Palmas-2024, e que já coloca o time nas ruas.


De pragmático, os três partidos sabem que precisam eleger vereadores. São estes gabinetes que solidificam espaço de poder, rede de apoio à militância, e acessa emendas e cotas de participação nos governos.


Atualmente apenas a vereadora Solange Duailibe tem assento na Câmara de Palmas. A disputa é municipal. Nela não estarão diretamente envolvidos nem Wanderlei Barbosa e nem Cinthia Ribeiro. Por óbvio, os dois apoiarão seus preferidos, e terão com eles o peso da influência de seus apoiadores, acomodados nas estruturas administrativas.


Só que na rua, o movimento é outro. Muita gente, um eleitorado arredio, não vota sob comando de ninguém. Boa parte, quer discutir a cidade que queremos. Quer sim, ouvir propostas, compromissos com quem mais precisa do poder público. É aí que a esquerda cresce e se cria.


Não existe espaço vazio em política, e o grupo que conquistou numa Palmas de maioria bolsonarista, 39% dos votos válidos para o presidente Lula, vai buscar ocupar este espaço.


Sem referências novas e positivas, partidos de esquerda jamais deixarão de ser anexo do poder para liderar na Capital e no Estado, postos importantes no Executivo e no Legislativo.

Não existe força política sem apoio popular. É legítima toda iniciativa de buscá-lo. É isso que entre o feijão e o sonho, a Federação Palmas da Esperança buscará. Nas redes e nas ruas.

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