O ano mais atípico da história do Estado começou no último sábado, 01 de janeiro, com um leque aberto de possibilidades e duas sombras pairando no ar.
Primeiro é preciso destacar que existem dois Tocantins. Num vivem os políticos em geral e suas órbitas – pessoas que dependem direta e indiretamente do poder público estadual, municipal e autarquias federais – além dos servidores públicos cujas vidas são por decisões governamentais.
No segundo vive uma infinidade de pessoas que ignoram completamente e não fazem questão de saber o que se passa na vida política do Estado ou do seu município. Se interessam por suas vidas e só voltam os olhos para política em época de eleição. Fora disso, tomam conhecimento apenas dos escândalos e das decisões que afetam diretamente sua rotina.
Aí entra a saúde, o transporte público, os impostos.
Esta segunda comunidade é bem maior que a primeira. Está na internet em busca de entretenimento, antes que qualquer informação. Está em busca de relacionamentos. E por último para saber o que se passa no País (em primeiro lugar) e no seu Estado depois.
O desafio dos primeiros, cada vez mais tem sido romper a bolha do segundo time.
E por que motivo o ano é atípico?
Porque vivemos a ruptura do grupo político que venceu as eleições suplementares em torno de Mauro Carlesse em 2018 e depois as eleições regulares. Para tanto bastou o afastamento do governador pelo STJ por seis meses. Nem se passaram três e a configuração política do Estado é outra.
Os grupos se reorganizaram ao ponto de que Carlesse perdeu a maioria que tinha na Assembleia e enfrenta além do inquérito aberto pela PF e o processo que o afastou no STJ, um processo de impeachment na Casa Legislativa onde tinha 22 dos 24 deputados. A história vem mostrando que de fato, não tinha.
Esta ruptura, alçou à liderança do Estado, o vice, Wanderlei Barbosa. De posse do espólio deixado por Carlesse - o caixa abarrotado depois de quase três anos de aperto nas contas - o governador em exercício vem fazendo todas as concessões possíveis, resgatando dívidas com categorias, recuperando o ato de fazer política, preenchendo lacunas.
O futuro dirá se este novo arranjo das forças políticas do Estado persiste e se consolida ou se enfrentará a oposição que atualmente é liderada pelo ex-prefeito de Araguaína, Ronaldo Dimas. Nas pesquisas de consumo interno é ele quem vem à frente na preferência do eleitorado dentro da bolha do primeiro grupo.
Wanderlei por outro lado já ganhou musculatura. E Eduardo Gomes está precisando deixar claro se é ou não pré-candidato ao governo do Estado este ano.
A indefinição dele próprio em deixar assumir suas intenções, atrapalha o crescimento de suas intenções de voto.
A sombra que paira no ambiente político é esta: quem de fato vai às urnas em outubro? Como estes grupos todos se arranjarão diante do vácuo deixado por Carlesse.
Parêntese...
O governador, que veio a público nas redes com um vídeo em que ignora o afastamento e o pedido de impeachment, perde a cada dia que passa afastado, as
condições de retomar o governo. Embora compreensível o recado que quis deixar - de que é ele o eleito com 404 mil votos, que estava no terceiro ano de mandato e que o dinheiro em caixa (o que Barbosa aplica com seu senso de justiça e oportunidade) foi ele quem garantiu, com medidas duras - melhor teria feito se partisse da realidade que lhe é desfavorável, estabelecendo um link direto e franco com o cidadão tocantinense.
Embora tenha que se defender na justiça e a orientação básica de qualquer advogado é não antecipar a linha de defesa, o governador afastado, Mauro Carlesse, ainda deve ao povo tocantinense uma explicação. A sua, seja qual for ela, para tantas acusações.
Ele perde não só as condições políticas como também o apoio popular. Deste, Barbosa se apropriou com medidas acertadas, como iniciar o pagamento de progressões, pagar R$ 300 milhões ao Igeprev, que vinha definhando e outras desejadas, como o cancelamento da PP do Jalapão.
Fecha o parêntese.
A segunda sombra paira no mundo dos apartidários. E ela vem do aumento dos casos de Covid, do alastramento da Ômicron. É neste cenário que o Hospital do Covid foi fechado. Cada vez que esta ameaça cresce, o mundo dos negócios, dos investimentos, dos empregos, se abala.
É nele que vivem empresários, empreendedores, pequenos comerciantes e os autônomos.
A forma como esse problema for administrado - e já temos dois anos de janela nisso – ou melhor: for atacado, vai definir o ano de 2022.
Já não se admite mais improvisações, erros, gestão sem lógica de uma crise sanitária desta proporção.
É aí que o primeiro grupo se encontra com o segundo. Gestores precisam ser firmes, duros, estratégicos para ampliar a frente de vacinação, rastrear e controlar a variante mais perigosa.
Estabelecer como política de governo o enfrentamento desta nova onda com responsabilidade e medidas práticas.
Não há mais clima para fechamento da economia. O que se cobra agora, é a administração da crise, com a tomada de medidas eficazes de controle e no tempo
certo.
Que o ano novo traga novas possibilidades, o avanço da ciência, a retomada de uma política inclusiva, novamente o fim da fome e a prosperidade que o Brasil e o Tocantins tanto almejam e são capazes de gerar. Isto se não forem exauridos e vilipendiados pelos que só tem compromisso consigo mesmos.
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