Blog da Tum

Reflexões da madrugada: a ingratidão dos filhos na política tocantinense

O que seria dos filhos de políticos sem os pais para dar aquele "empurrãozinho"no começo da carreira? pois é, mas mesmo assim, tem quem cresça e passe por cima de quem os "criou"...

Em março, todos juntos em Brasília
Descrição: Em março, todos juntos em Brasília Crédito: RT/T1 Notícias

Eu não fumo, mas penso às vezes que deveria. 

 

Pelo menos na madrugada quando sou tomada por reflexões inconvenientes para muitos, sobre a política tocantinense... que já foi tão mais interessante para quem lê e para quem escreve.

 

Sobrou pouca coisa realmente para escrever, que as pessoas em sua maioria queiram ler. E pouco interesse sobre coisas importantes neste Estado. Parece que o público leitor se habituou ao jogo de poder que se repete ciclicamente. Com os mesmos resultados.

 

Pano rápido.

 

Outro dia meu telefone tocou e era um amigo que já foi político e não é mais.

 

Ficamos conversando sobre os últimos acontecimentos e ele me saiu com essa: “Tum, de onde saiu esse bando de filho ingrato na política tocantinense?”

 

Fiquei alguns segundos sem resposta, para depois soltar uma gargalhada. Quem pariu Matheus que o embale, diz o ditado. Mas não é de rir, nem brincar, seria engraçado se não fosse horroroso observar o que filhos têm feito com os pais nesse momento da história do Estado.

 

E no fim da conversa, quando desligamos o telefone, chegamos ambos à mesma conclusão: sede de poder. 

 

É o que explica por exemplo, o senador Irajá atropelar a mãe, senadora Kátia Abreu. E agora, o deputado federal Vicente Jr. passar por cima do pai, ex-senador Vicentinho (permanecendo unido ao núcleo duro do Bolsonarismo que respira seus últimos dias de poder) voltando-se numa espécie de “vendeta” à moda da máfia italiana, contra os supremos tribunais. 

 

Querem uma caça às bruxas do TSE e STF que lhes metem tanto medo. No caso, os bruxos.

 

Interessante ver as criaturas se rebelando contra os criadores.

 

Me lembro, lá pelos idos de 1998, de ter ido à casa da então candidata a deputada federal, Kátia Abreu. Na sala, conversávamos sobre aquela eleição em que eu disputaria uma vaga de deputada estadual e faríamos uma dobradinha. Era uma casa de arquitetura interessante: um modelo chinês de telhado. Num dado momento, Irajá Silvestre desceu as escadas, chegando à sala e me foi apresentado assim: “Roberta, esse é meu filho, Irajá. Ele que toma conta dos negócios da família. Foi emancipado por mim aos 16 anos”. Era a mãe orgulhosa apresentando o filho mais velho (será o preferido? fiquei pensando naquela época).

 

Os anos correram até a decisão (no mesmo ano em que Marcelo Miranda lançou Dulce deputada federal) da senadora em lançar o filho candidato também a uma vaga na Câmara dos Deputados. Eu novamente estava lá. Desta vez na chácara. Irajá resistiu à idéia no primeiro momento. Era empresário e não estava habituado à política. Iratã, mais novo, já era vereador. Poderia ter sido candidato, se não fosse a pouca idade. Só sei que duas semanas depois ele estava empolgadíssimo... já picado pela mosca azul.

 

Após a eleição, sagraram-se vencedores, Dulce e Irajá com estrondosa votação.

 

Quando é que aquele moço magro que desceu as escadarias daquela casa lá em 1998, seria deputado federal e depois Senador, sem o impulso, o apoio, o direcionamento da mãe, lá no começo da sua carreira?

 

Pois é...

 

Depois da decisão de disputar o governo nestas eleições, atropelando a mãe (lembro que conversamos em off e que ele insistia em dizer que apoiava Damaso, que não era candidato ao governo, que todo movimento visava ajudar a mãe na disputa pelo Senado), soube da última articulação.

 

Nas últimas duas semanas, o senador moveu céus e terra para ir parar na Comissão de Transição do governo Lula. Depois agradeceu a deferência do partido em “convidá-lo” para ser seu representante na comissão.

 

Um dos bons amigos de Flávio Bolsonaro, que poderia ter apoiado Paulo Mourão e não o fez (pelo contrário, convidou para ser vice), que não esteve em momento algum na campanha do presidente Lula no Tocantins ( nem primeiro, nem segundo turno), na comissão de transição. “É para importunar a mãe, para impor a presença, para mostrar que pode”, ouvi de um aliado.

 

Fecha o pano e abre um parêntese.

 

Outro amigo muito engraçado, me ligou durante a campanha logo após as convenções e solta essa: “Roberta você viu a Kátia grávida do Irajá?” E eu levando a pergunta a sério respondi: “não, eu nem morava no Tocantins nesta época, por quê?” e ele: “Porque não pode ser, não acredito, tem que ser adotado”... Novamente não resisti à risada. Mesmo não sendo motivo para sorrir...

 

Fecha o parêntese...

 

E aí agora, vem Vicente Jr. depois de perdida a eleição pelo seu “presidente Bolsonaro”, para quem trabalhou de um lado enquanto o pai, Vicentinho corria o Estado e visitava os amigos pedindo votos para o presidente Lula. A invenção: sair em defesa de uma CPI que mais parece nova tentativa de quebra institucional. 

 

Motivo? A resposta que ouço por aí é a mesma: poder. Mostrar que pode. Aliás, ouve-se que já está com as duas mãos no comando do PP no Estado.

 

Tanto Irajá, quanto Vicente Jr. são dois jovens políticos, com poder de mando dentro de seus partidos e na flor da idade. Claro, têm o direito de escolher suas posições políticas, onde interferir, o que disputar. Não é esta a discussão.

 

A questão é outra. Se chama ingratidão.

 

Sem espaço à dúvida, como diz alguém que conheço, se juntar os dois no mesmo ambiente, dá oferecer à dupla a mesma música: “você pagou com ingratidão... a quem sempre lhe deu a mão”.

 

Eu mesma, não fumo e quase não bebo, mas às vezes acho que deveria...rs. Quem sabe um Marlboro vermelho e uma dose de Jack Daniels, como uma certa amiga minha.

 

Por exemplo numa madrugada como esta, cairia bem. É quando perco o sono fico escrevendo coisas inconvenientes. Mas depois de 31 anos de Tocantins e quase 14 de blog e portal, acho que posso.

 

 

 

 

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