Cleide Brandão é uma das mulheres mais positiva, correta, trabalhadora, que conheço.
Por isso, ao receber na manhã desta terça-feira, 8 de agosto de 2023, a decisão judicial de trancamento definitivo do inquérito policial oriundo da Operação Carta Marcada, de 2016, minha primeira lembrança foi dela. O sofrimento vivido, a exposição de ter o nome divulgado como possível integrante de um esquema criminoso, que passara por sua pasta, na gestão de Carlos Amastha.
Suspeitas de que no ato de adesão a uma ata, de Porto Nacional, a empresa Marca, de Luciano Rosa, houvera sido beneficiada de forma a promover enriquecimento ilícito de terceiros.
No bojo da Operação Carta Marcada - que completou sete anos sem juntar provas que comprovassem as suspeitas levantadas – foram atingidos de empresários a políticos, ex-secretários da gestão de Amastha e o próprio ex-prefeito, que chegou a se acorrentar na porta da CGU em um momento das investigações. Que, desabituado a ter o apartamento revirado pela PF, exigia um pedido de desculpas.
Hoje, neste agosto de 23, falando com o ex-prefeito pelo Zap ele se pergunta: “e o prejuízo que eu tive, quem vai reparar? Ninguém, não é?”
O fato é que diante do primeiro trancamento do processo investigativo, outros acusados foram obtendo da justiça decisões semelhantes. E o que a PF alega é que com estes trancamentos, a investigação não avançou.
Aprendi nos últimos anos de jornalismo, alguma coisa do direito. Uma delas foi a expressão “in dubio pró réu”. Na dúvida, não pode haver condenação. Ou seja: a dúvida favorece o réu.
Espantoso é que todo um inquérito fique paralisado por seis, sete anos, sem juntar uma prova, depois de revirar a vida de uma dezena de pessoas, sem provar nada contra elas. Quebra de sigilos, exposição na mídia. E zero prova.
Seis anos de impedimentos e constrangimentos
Voltando à amiga Cleide, soube que há alguns meses ela planejou uma viagem internacional à Colômbia. Reservou hotéis, e no embarque em Guarulhos, descobriram um impedimento no seu passaporte. Coisa lá do começo dessa operação.
Nem consigo imaginar o que ela passou. O prejuízo. O constrangimento. O voltar para casa.
Cleide não contratou nada. Não dispensou licitação. Não definiu preços. Apenas estava secretária numa gestão que incomodou muita gente. E se tornou alvo de questionamentos e perseguições.
Delegados de uma esfera, envolvidos com delegados de outra esfera, procurando meios de destruir um político. Este talvez seja o resumo desta história. E o motivo para chegar ao ponto que chegou.
Uma lamentável perda de dinheiro público. A decisão diz que o trancamento não implica em reconhecer a inocência dos réus, mas a impossibilidade de se provar algo contra eles.
Em bom português. Se não há provas, não há crime. E sem crime não há criminosos
A Polícia Federal – como diria Eduardo Gomes - não tem um departamento de pedido de desculpas. Mas para erros de sua fase lavajatista, acredito que sim, deveria ter.
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