As discussões em torno dos nomes que pretendem disputar o comando da Prefeitura de Palmas no ano que vem, já fervilham nos bastidores da política tocantinense.
Gosto de pensar este cenário de olho na história que a cidade já viveu e como o eleitorado se movimenta em cada eleição.
O primeiro ciclo de poder na Capital, começou de fato na sucessão do prefeito Fenelon Barbosa, que como prefeito de Taquaruçu (que era do Porto e foi emancipado), foi alçado a prefeito de Palmas na Capital criada por Siqueira Campos. Fenelon transferiu a sede da Capital da serra para a planície e a primeira eleição para prefeito foi vencida por Eduardo Siqueira, sobre Eudoro Pedrosa – falecido – que representava o MDB.
Detalhe: Moisés Avelino já era governador e o MDB comandava o Estado quando Eduardo venceu esta eleição. Eu já estava por aqui, testemunhando esta história.
O que veio depois foi o reinado da união do Tocantins sobre o comando da Capital. Eduardo Siqueira, elegeu Odir Rocha, ex-prefeito de Colinas. Fui sua assessora de imprensa na campanha. Até então a reeleição não vigorava. Odir teve problemas, com acusações do MPF, afastamento de secretários e terminou a gestão sem nenhuma vontade ou condições de reeleição. Então, a UT elegeu a professora Nilmar Ruiz, candidata escolhida pelo próprio Eduardo.
Neste momento Raul Filho, que já havia perdido uma eleição e continuou a fazer política, já havia plantado na cabeça do eleitorado, a semente da independência do Poder Executivo. Pregava que Palmas tinha condições de ser gerida pela oposição sem prejuízo, pois tinha recursos próprios para suas obras.
Raul, eleito na sucessão de Nilmar, quebrou a hegemonia da UT sobre Palmas e iniciou um novo ciclo. Fez dois mandatos, implantou escolas de tempo integral, cuidou da saúde, fez uma gestão emblemática e começou a decair com o escândalo envolvendo Carlinhos Cachoeira. Na sucessão já haviam outros nomes postulando: Marcelo Lelis, Luana Ribeiro, e o “estrangeiro”, Carlos Amastha, até então visto como um empresário colombiano, que havia construído um grande shopping e gerado 2 mil empregos.
Amastha começou com 2% de intenções de votos e foi crescendo. Lelis tinha o apoio do Palácio em 2012. No comando de sua campanha, Eduardo Siqueira foi juntando apoios. De Edna e Ângelo Agnolim, ao PMDB de José Augusto Pugliese e sua esposa Cirlene. O grande palanque se tornou um grande Titanic. A população entendeu que Lelis não era mais independente. E a derrota veio.
Luana, que à época caminhou com o apoio do pai, senador João Ribeiro, de Dulce e Marcelo Miranda e do próprio Raul, também não alcançou a vitória.
Em 2012, Carlos Amastha revolucionou a eleição, saindo de 2% para a vitória e iniciando uma gestão controversa, polêmica, que trouxe avanços em diversas áreas e que mexeu com vários grupos tradicionais da cidade. Amastha venceu duas estruturas: a estadual e a municipal. Por qual motivo? Justamente por representar o novo que o eleitor queria. As pesquisas qualitativas demonstravam isto.
A gestão que trouxe o Natal Luz, a Páscoa, movimentou o turismo de negócios, criou fluxo para a implantação de vários novos hotéis, melhorou o Ideb, agradou a muitos. Por outro lado foi marcada pelo aumento de taxas e impostos, como o IPTU. No segundo mandato, o então prefeito se licenciou para disputar o governo e o resultado todos conhecem.
É aí que surge a vice-prefeita, Cinthia Ribeiro, como uma sucessora de Amastha e seu grupo. Demonstrando lealdade, ela o apoia ao governo em duas campanhas: no começo do ano, na eleição suplementar. Em seguida, nas eleições regulares, novamente. Com o passar do tempo, a postura de secretários da gestão que despachavam primeiro com Amastha e não com ela, criando um governo paralelo, Cinthia assumiu o comando de sua gestão. E foi pagar as dívidas deixadas...
Nas últimas eleições, já rompida com Amastha, enfrentou uma mulher e dez homens, vencendo 11 candidatos, num fracionamento histórico dos votos, em que terminou majoritária. Conduzindo bem a sua gestão, enfrentou pandemia, pagou a herança recebida de vários passivos com os servidores. Sem lugar a dúvida, pode ser considerada a melhor prefeita da história de Palmas para os servidores do município.
A encruzilhada atual: de Janad a Eduardo Siqueira
Sem anunciar preferência de nome para sucedê-la, Cinthia tem evitado antecipar sua própria sucessão. Mas outros nomes estão colocados como pré-candidatos à Prefeitura de Palmas. O mais cotado é justamente da professora Janad Valcari, que venceu eleição para vereadora, presidente da Câmara de Palmas e agora recentemente, a de deputada estadual. Seu estilo dá o que falar. Sua animosidade com a prefeita se tornou marca pessoal.
Outros nomes vão se colocando: Jairo Mariano, Ricardo Ayres, Vanda Monteiro. E recentemente o nome do ex-prefeito Eduardo Siqueira Campos.
O que ele pode agregar nesta eleição? Não estaria fora da vida pública? Na verdade, após tudo o que aconteceu no último mandato do pai, a assunção de Sandoval Cardoso e sua posterior derrota a Marcelo Miranda, Eduardo voltou-se à vida pessoal.
Enfrentando paralisia parcial da face, chegou a desfalecer numa sessão. Tirou licença médica e anunciou a decisão de que não iria à reeleição na Assembleia. Pai de dois filhos, após a perda trágica do primogênito do casamento com Polyana, Gabriel, o fez voltar-se ao cuidado com a família.
Agora, diante do cenário que se avizinha em Palmas, Eduardo tem voltado ao debate. Na verdade, chamando o debate sobre a cidade. Para onde vai Palmas? Por quais caminhos? No Twitter ele mostra a história que viveu como prefeito. É uma longa, longa lista de realizações e obras que tomaria muito tempo para descrever.
A questão é: sem apoio do Palácio (que obviamente não terá) e sem ligação direta com a prefeita Cinthia, naturalmente ele não será o nome do Paço. Então, Eduardo seria candidato em nome de que grupo?
É aí que mora uma brecha enorme. Quem é o candidato independente desta vez? Ele existe? Sem negar a política (que Amastha chamava de velha e se tornou o velho, desta vez), Eduardo tem nas mãos e na sua história a legitimidade para uma candidatura. Pode trazer de volta o gosto de fazer política, a muitos que foram alijados do processo político. Inclusive os que eram jovens quando foi prefeito, e que agora, cresceram e amadureceram.
O que vejo: a cidade cresceu, mas não esqueceu sua história. O Velho Siqueira, que tanto fez, está vivo, resistente ao passar do tempo e às enfermidades que a idade trás. Ele sintetiza a história viva do Tocantins. Sua luta pela implantação de Palmas dá outro artigo. Eduardo Siqueira ainda mantém a chama da vontade de fazer, acesa. É perceptível. Portanto, não o considerem morto neste processo.
Ele pode bem representar o levante dos pioneiros para retomar uma cidade que ao longo do tempo foi expropriada e que agora pode ter seu comando em mãos cada vez mais estranhas.
O tempo nos dirá.
Comentários (0)