A rede mais política de todas, o Twitter, virou caixa de repercussão na tarde de ontem, 19, da insatisfação da prefeita de Palmas, Cinthia Ribeiro, com o que ela considerou demora injustificada na entrega das vacinas Coronavac à equipe da Saúde do Município para começo da campanha de vacinação na Capital contra a Covid-19.
A César o que é de César: demorou. As doses da vacina que chegaram no final da tarde do dia anterior, segunda-feira, levou mais de 20 horas para ser entregue à Secretaria Municipal.
O governo justifica: números do Ministério da Saúde defasados não batiam com os números da Secretaria de Estado da Saúde quanto aos primeiros grupos que o próprio governo federal definiu como prioritários: indígenas, idosos em instituições de longa permanência (que são fiscalizadas pelos conselhos, MP e Vigilância, além do Corpo de Bombeiros) e profissionais na linha de frente no combate à Covid-19.
Mas aqui cabe um parêntese: ninguém sabia quantas vacinas seriam destinadas à Palmas. A proporção precisava ser calculada em cima do público a ser vacinado em todo o Estado no primeiro grupo. E ao que parece, esses números não eram conhecidos claramente.
Em off, o blog apurou que o Estado fez um plano e o MS fez outro. Os dois não “conversavam”.
Assim que a prefeita reclamou no Twitter, começaram as reações. Enquanto a equipe do Lacen contava vacinas, setores do governo questionavam se a Prefeitura de Palmas estava tão preparada assim. Afinal, assim como as menores cidades do Estado, que não tem recursos técnicos nem financeiros à altura da crise que a pandemia desencadeou, Palmas não tinha agulhas nem seringas para vacinar sua população.
Fui atrás. Não era possível. Do Paço, a informação: Palmas tinha seringas e agulhas, mas seguiu orientação da SES, ao requisitar em ofício as mesmas, porque o Estado ofertou as seringas e agulhas que comprou para este fim, antecipadamente. E era preciso registrar isso em ofício.
A Cesar o que é de César: até hoje os profissionais da linha de frente do combate à Covid-19 em Palmas não sabem como se inscrever para serem vacinados. Não foi criado um cadastro ou outro mecanismo para isso e a vacina é facultativa, não obrigatória.
Por trás da irritação da prefeita de Palmas - considerada no Palácio como alguém que não ajuda travar a paz e tem “espírito belicoso”- estava na verdade a cerimônia de vacinação improvisada no Lacen.
O governador Mauro Carlesse decidiu abrir ele próprio a campanha de vacinação no Estado (a rede municipal é que tem a atribuição) e mandou buscar em Gurupi - seu reduto eleitoral - a primeira profissional de saúde a ser vacinada. Com ela, veio a prefeita Josi Nunes, sua aliada.
E o que se viu na coletiva de imprensa foi um aglomerado de autoridades e deputados estaduais disputando espaço na foto. No mínimo, uma deselegância começar a vacinação em Palmas e não convidar a prefeita para o ato.
Nos atos, tudo foi gesto político de animosidade de parte a parte. A verdade é esta.
E para o simples cidadão que espera sua vez na fila, qual a mensagem que ficou? De que a vacina é política, tem uma conotação de combustível para pretensões e vaidades, desde o primeiro dia.
Também foi no Twitter que o senador Eduardo Gomes (MDB), fez seu desabafo sem citar o governador João Doria, do PSDB de São Paulo, que roubou a cena e vacinou a primeira paulista logo que a Anvisa liberou o primeiro lote de vacinas.
“Que venha a vacina contra a hipocrisia”, bradou, com repercussões muito negativas na TL (Timeline), em razão do governo que defende. Um governo que começa ouvir mais forte o pedido de impeachment desde que deixou Manaus sem oxigênio semana passada.
Se Doria é o contraponto a um Bolsonaro omisso e negacionista, já não se espera esta animosidade entre Mauro Carlesse e Cinthia Ribeiro, que nem de longe disputam o mesmo espaço ou o mesmo mandato.
O que faltou e ainda falta, é que o diálogo flua entre as duas instâncias de decisão política, clareando para a população grupos, fases da campanha de vacinação e tornando esse fluxo de chegada e distribuição menos conturbado.
Que a decisão de tomar a vacina se tornou mais política do que uma questão técnica e de salvar vidas é inegável.
Nem só indígenas estão recusando a vacina nas aldeias do Tocantins. No grupo de médicos do município, pelo menos seis já declararam que não vão vacinar. Uma medida de transparência que toda Secretaria de Saúde Municipal deveria tomar era identificar na lapela os vacinados.
Assim ficaria mais fácil para o paciente correr dos negacionistas e se proteger com os imunizados.
A vacina deve chegar a todo Tocantins até amanhã, quinta feira, 21. O que esperamos é que não seja objeto de escolha político partidária e pessoal na sua distribuição. Que Ministério Público, Defensoria, vereadores e conselhos municipais abram o olho: já tem muito pseudo privilegiado querendo furar a fila.
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