O governador Wanderlei Barbosa entrou pela porta da frente do auditório do Palácio Araguaia no final da manhã de quinta-feira, 31, último dia do mês, cercado por servidores, gente da política que aproveitou a oportunidade de um evento público para ir ao Palácio Araguaia, rodeado por profissionais de imprensa.
Uma entrada própria de um político, diferente das entradas frias pelo fundo, que eram mais comuns em outros tempos de governo, de outro governador.
Governador e candidato à sua própria reeleição, Barbosa vive até este sábado, o primeiro tempo da disputa: filiações e desincompatibilizações.
Como candidato que está no poder, sofre o assédio de todos que procuram um naco, sua fatia desse bolo. Seja através de um cargo, um favor, um benefício, uma contratação de obra, compra de produto ou serviço. É o imã do poder, acendendo expectativas das mais variadas.
Como governador, Barbosa viveu o êxtase de poder abrir o cofre do Estado, trancado por Carlesse e pagar direitos dos servidores públicos que estavam até então represados. Uma dívida estimada em mais de R$ 1 bilhão, se somados os passivos de data-base e estimativa de progressões.
O alívio que veio no Natal, com aquele pacote de bondades, destravou também vários gatilhos. Sindicatos, os mais variados começaram a trazer para a mesa de negociações seus cálculos, num movimento natural.
Anunciada finalmente a correção da data base, na casa dos 6%, veio o descontentamento dos que querem mais, afirmam ter direito a mais e usam de todos os mecanismos de pressão para isto.
A situação se tornou mais tensa na semana passada com manifestações da PC buscando paridade, isonomia no tratamento dado a delegados, com o tratamento dado às demais categorias da Civil.
Com a polícia literalmente na porta do Palácio, fazendo manifestações, o governador enfrentou também as consequências de ter declarado em sua posse que chamaria mais 500 homens do concurso da PM, cujo edital falava em mil vagas. Há problema jurídico aí, e provavelmente de caixa. E o governador recuou.
Foi a semana do estresse em que sobrou gritos para a deputada Luana, para a equipe mais próxima do gabinete e segundo corre nos bastidores, para mais um deputado.
A verdade é que tal como no mito grego, em que Pandora abre uma caixa que fora recomendada a não abrir e liberta os males do mundo, Wanderlei Barbosa abriu a caixa de Pandora do serviço público tocantinense, trazendo sobre si toda sorte de insatisfações.
O Tocantins há muito tempo requer providências inadiáveis para acabar com os abismos existentes entre salários dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Também precisa garantir até aqui os direitos adquiridos pelo Plano de Cargos e Salários do quadro geral, e dos demais PCCS em vigor para as categorias específicas e criar um Plano Único, que seja pagável, para vigorar nos próximos concursos que virão.
O caixa é único para bancar todos os poderes e há uma necessidade premente de criar um equilíbrio nas contas públicas.
Para isso há que ter coragem e uma composição na Assembléia Legislativa para dar sustentação às mudanças inadiáveis que precisam vir.
O Estado, tenho dito sempre – sob pena de ser incompreendida, pelos que não querem compreender – tem limites de pagamento e de endividamento. Eles devem ser observados. Por outro lado, o governador não governa só para servidores. A máquina do serviço público existe para servir todos os cidadãos tocantinenses e não pode ser sobrecarregada a ponto de voltar a rodar apenas para pagar folha, e direitos como vimos num passado bem recente. Siqueira Campos em seu último mandato dizia para quem quisesse ouvir, que tinha sido reduzido a pagador de salários. O Tocantins não tinha mais que 1% do seu orçamento para investimentos.
Era só pagar folha, custo da dívida, e fazer custeio (pobremente) da máquina.
O dilema de ser governador e candidato, é suportar toda essa pressão, jogar aberto com as representações sindicais e propor apenas o que é possível, mesmo que não seja o ideal.
Todos esses abalos que o Estado vem sofrendo nos últimos anos com cálculos mal feitos (os 25% concedidos e retirados no governo Miranda), excesso de leis para agradar (só Gaguim aprovou em 2009, 48 leis beneficiando servidores) cria aquele famoso problema: quem concede não paga, e fica de ruim quem não consegue dar conta de tantos compromissos.
Isso, assim como a corrupção endêmica de cobrar comissão de empresário que presta serviço e precisa receber, é pratica a se exterminar no governo do Tocantins.
Desafios que se colocam diante de Wanderlei Barbosa, tanto para o governador, como para o candidato.
Foto: Divulgação
Legenda: Governador Wanderlei em reunião com o Sintet em dezembro de 2021
Comentários (0)