Brasília - Mesmo sendo alvo de uma série de denúncias publicada pela imprensa no último mês, o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), elegeu-se no início da tarde desta segunda-feira presidente da Casa. Em votação secreta, o peemedebista obteve 271 votos, enquanto o deputado Júlio Delgado (PSB-MG) recebeu 165, Rose de Freitas (PMDB-ES), 47, e Chico Alencar (PSOL-RJ), 11. Foram três votos em branco. Participaram da votação eletrônica 497 dos 513 deputados. Para se eleger em primeiro turno, eram necessários pelo menos 249 votos.
O deputado potiguar, que tem 11 mandatos consecutivos e 42 anos de Câmara, dividirá com o colega de partido Renan Calheiros (AL), eleito na sexta-feira (01) presidente do Senado, o comando da pauta de votações do Congresso pelos próximos dois anos. Os peemedebistas à frente das duas Casas reforçam a posição do PMDB para a sucessão presidencial de Dilma Rousseff - o partido já tem a vice-presidência, com o presidente de honra do partido, Michel Temer.
Em seu discurso, Henrique Eduardo Alves atribuiu ao "fogo amigo" as denúncias que surgiram contra ele. Nesta segunda-feira, os deputados encontraram em seus gabinetes uma publicação com cópias de reportagens de supostas irregularidades cometidas por Alves no exercício do mandato e até as suspeitas de enriquecimento ilícito. Ele classificou a publicação apócrifa de "pequena", "mesquinha" e de um "comportamento sem cara, sem rosto, clandestino e subterrâneo". Disse ainda que "as labaredas desse fogo amigo não resistem às chuvas de verão".
O deputado afirmou que, no último mês, quiseram construir um novo Henrique com a publicação das reportagens. "No mês eleitoral, quiseram rediscutir Henrique, quiseram refazer Henrique, construir um outro Henrique", disse. Alves disse que as denúncias não chamuscam o alicerce que construiu em sua vida e defendeu a liberdade de imprensa.
O deputado do PMDB fez um discurso para o público interno, em defesa do Parlamento. Ele foi aplaudido ao prometer criar uma comissão para analisar propostas sobre o chamado orçamento impositivo para as emendas parlamentares, uma antiga reivindicação dos deputados, que contraria os interesses do governo federal. Com o orçamento impositivo, a presidente Dilma Rousseff não poderá mais segurar a liberação de dinheiro do Orçamento quando se tratar das emendas individuais parlamentares aprovadas na lei orçamentária.
Críticas
Henrique Eduardo Alves foi o alvo preferencial dos outros três candidatos. Logo após o pronunciamento do peemedebista, o deputado Júlio Delgado fez um duro discurso em que rebateu todos os pontos da fala do favorito. De improviso, Júlio Delgado disse que "chegou a hora da mudança", de "vencer as práticas políticas que envergonham o Parlamento" e vencer "a politicagem na Casa Legislativa".
Intitulando-se o primeiro a se lançar contra a "candidatura única", o deputado do PSB lembrou que a ausência de disputa não permite o debate, a essência do Parlamento. Júlio Delgado criticou inicialmente a proposta de Henrique Eduardo Alves de aprovar o orçamento impositivo. O deputado do PSB lembrou que essa é uma ideia que já se tentou viabilizar no passado sem sucesso. A proposta que considera mais factível, ressaltou, seria a de um contingenciamento parcial do Orçamento, de uma forma que não atingisse todos os recursos das emendas parlamentares.
Primeira candidata a discursar, a deputada Rose de Freitas defendeu maior independência do Parlamento em relação ao Executivo. Ela acusou o Executivo "não respeitar o povo brasileiro", por meio dos seus representantes na Câmara, cobrou a aprovação de um orçamento impositivo.
"O Poder Executivo não respeita o povo brasileiro. Nunca vi querer um Parlamento forte, somos da base do governo, trabalhamos, queremos que se fortaleça", disse a deputada capixaba, que anteriormente elogiou a presidente Dilma Rousseff.
A atual vice-presidente da Câmara disse que não quer a Casa dependendo de "pires, de favor". Num discurso voltado para o público interno, Rose de Freitas cobrou a aprovação do orçamento impositivo, ressaltando que essa ideia não é "metáfora de campanha". Ela disse ter apresentado a proposta 18 vezes na Câmara, tendo sido todas elas derrubadas.
Último a falar da tribuna antes da votação, o deputado Chico Alencar criticou a hegemonia do PMDB no Legislativo. Ele afirmou que o comando das duas Casas nas mãos do partido dificulta o exercício da função fiscalizadora do Congresso. "É um perigo para a democracia brasileira." Segundo ele, isso fará com que o "oficialismo predomine" e o Legislativo renuncie à fiscalização.
Alencar chegou a dar uma estocada em Henrique Eduardo Alves, ao defender o projeto em tramitação na Casa que proíbe o parlamentar de destinar recursos de emendas ao Orçamento da União para empresas de assessores. Uma das denúncias que pesam contra Alves é por suposto favorecimento à empresa de engenharia de seu assessor, que deixou o cargo após a publicação de reportagem sobre o assunto.
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