Entrevistada pelo apresentador Jô Soares, na madrugada desta quarta-feira, 20, a ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, senadora Kátia Abreu falou sobre sua relação com a presidente da República Dilma Rousseff, criticou o comportamento dos parlamentares durante votação da abertura do impeachment na Câmara e Eduardo Cunha, o desentendimento com José Serra, e ainda destacou que vai permanecer ao lado de Dilma até uma eventual saída da presidente. A ministra disse que não vai se licenciar do Mapa para votar no Senado e explicou como será a votação do impeachment no Senado.
Katia Abreu revelou que não apoiou a presidente Dilma durante o seu primeiro mandato, porque não a conhecia. “Não votei nela. Ela é do PT e eu estava no PSD. Eu nunca imaginei que seria uma pessoa próxima a ela, e isso me fez mudar de opinião. Eu acredito na honestidade dela. A presidenta é pragmática e quis compreender a dificuldade do setor agropecuário”.
Com relação ao agronegócio no País, Kátia explicou que o Brasil tem 851 milhões de hectares, dos quais 61% preservados e tem uma das maiores produções mundiais de alimentos usando apenas um terço de suas terras. “Não há a necessidade de invadir terras”, disse Kátia Abreu, numa referência à ação de movimentos socais que recentemente ameaçaram invadir propriedades reagindo a outras movimentações populares em curso no país.
A ministra ressaltou que a modernização da produção fez com que os preços dos alimentos caíssem no país. Segundo ela, hoje o brasileiro gasta entre 18% e 19% de sua renda com aquisição de comida, praticamente metade do que necessitava há 40 anos, quando o Brasil importava a maioria dos alimentos que consumia. “Só exportávamos o café”, disse a ministra.
Ao mostrar fotos de família, Kátia Abreu relatou o momento em que levou um coice de bezerro, enquanto estava grávida de oito meses, na gestação de sua filha caçula. "Fui no curral para dar um remédio para um bezerro e ele se assustou e deu um coice na minha barriga, e ficou um roxo muito grande". A ministra ainda disse: "coice eu já estou acostumada a levar na vida viu Jô, agora o pior coice é de gente, esse é o pior".
Bolsonaro e Jean Wyllys
A ministra criticou as atitudes que o deputado federal Jair Bolsonaro vem tomando, e sem sair em defesa do ato de Jean Wyllys, disse que ele foi ofendido, pelo parlamentar militar. "O radicalismo não cabe em lugar nenhum mais, essa falta de compreensão, de entendimento. É sempre bom você se colocar no lugar do outro. Esse exercício, aliás, eu costumo fazer há muitos anos na minha vida, você tem de certa forma mais facilidade para compreender o outro. O radicalismo não cabe, nós vivemos uma democracia plena, aonde temos espaços enormes para discutir tudo o que você pensa, tudo o que você quer, e não precisa disso".
Desentendimento com José Serra
Jô Soares disse que com relação ao incidente com José Serra, em que a ministra jogou vinho no senador após se sentir ofendida, o apresentador questionou que "por curiosidade o que bateu na cabeça do José Serra para falar aquela grosseria?", ao que a ministra contou: "foi tão ofensivo e tão desagradável, eu acho que ele não gosta de ver as pessoas alegres, tenho essa impressão. Estávamos no final da festa, despedindo, todos com taça de vinho na mão, mas se despedindo, e de repente eram oito ou dez senadores e ele apareceu, de repente soltou aquela frase e ficou todo mundo um minuto assim olhando para ele sem entender, aí o senador Renan disse: 'Serra a ministra Kátia é uma mulher casada', mas mesmo que não fosse, e naquela hora minha mão gelou e o sangue ferveu, aí se eu fosse para casa com aquilo entalado não ia dormir nunca mais. Então eu disse umas qualidades que ele merecia ouvir e acabou ali, mas não tenho ódio de ninguém. Sapequei o copo de vinho nele".
Kátia explica rito do impeachment
Questionada pelo apresentador a ministra explicou que o rito do processo de impeachment passa agora pela fase da admissibilidade, que após aprovação na Câmara passa agora pelo Senado, que deve ter 50% dos votos mais um, ou seja, 41 senadores precisam votar pela manutenção do processo. "Aí vamos votar o impeachment propriamente dito, que é o mérito, aí são dois terços para aprovar e terá então 180 dias".
Com relação a prazos, Kátia Abreu disse que essa primeira fase, de admissibilidade no Senado deve durar em torno de 30 dias, ela prevê que no máximo até o dia 12 de maio já terá a votação. "Se for admitido no Senado, a presidente é afastada, fica morando no Palácio Alvorada, mas não trabalha mais como presidente e assume o vice-presidente nesse período até a votação do mérito", explicou a ministra.
Com relação ao afastamento do Mapa para votar pela admissibilidade do processo, a ministra disse que não haverá necessidade porque seu suplente, senador Donizeti Nogueira também é contra o impeachment. "Se passar a admissibilidade e ela [Dilma] se afastar, então os ministros também vão entregar seus cargos, porque o vice-presidente vai assumir e montar sua equipe, então eu volto para o Senado", explicou.
Sobre Eduardo Cunha
A ministra criticou duramente a postura do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB), que segundo ela "esse senhor se sente no direito de ficar sentado na cadeira, comandando a sessão que vai, em tese, trazer o impeachment de alguém que em tese teria roubado. É uma coisa de maluco isso, que tenha cometido crime de responsabilidade. É inadmissível, em qualquer país civilizado do mundo isso jamais aconteceria. O que aconteceu na Câmara no domingo foi um show de horrores", disse Kátia.
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