Nova fase da Operação Lava Jato no RJ mira operadores financeiros do PMDB

O nome da nova etapa, Blackout ("apagão", em português), foi baseado no sobrenome dos alvos. Também foram cumpridos 16 mandados de busca e apreensão

38ª fase da Lava Jato acontece no Rio de Janeiro
Descrição: 38ª fase da Lava Jato acontece no Rio de Janeiro Crédito: Foto: Alessandro Buzas

Jorge Luz e Bruno Luz, alvos da 38ª fase da Operação Lava Jato, deflagrada no Rio de Janeiro nesta quinta-feira, 23, estão fora do país e são considerados foragidos, segundo a Polícia Federal. Segundo a força-tarefa, os alvos são operadores financeiros ligados ao PMDB.

 

Pai e filho estariam no exterior e possuem dupla nacionalidade, de acordo com informações do Ministério Público Federal. A Polícia Federal informou que um dos acusados está desde agosto do ano passado nos Estados Unidos e que "o outro saiu do país em janeiro deste ano".

 

"As prisões foram decretadas para garantia de ordem pública e para assegurar a aplicação da lei penal, tendo em conta a notícia que os investigados se evadiram recentemente para o exterior, possuindo inclusive dupla nacionalidade", disse o procurador Diogo Castor de Mattos, que integra a força-tarefa da Lava Jato.

 

Mattos afirmou que os nomes de Jorge Luz e Bruno Luz já foram incluídos na lista de procurados da Interpol e que as autoridades brasileiras já estão em contato com as estrangeiras para saber o paradeiro dos acusados, inclusive para solicitar a extradição deles.

 

"São dois operadores de extrema relevância, talvez os maiores do esquema da Petrobras, mais ligados ao PMDB. Isso demonstra que as investigações [da PF] atingem pessoas de todos os partidos políticos", afirmou.

 

Operação Blackout

O nome da nova etapa, Blackout ("apagão", em português), foi baseado no sobrenome dos alvos. Também foram cumpridos 16 mandados de busca e apreensão. De acordo com a instituição, os investigados responderão pela prática dos crimes de corrupção, fraude em licitações, evasão de divisas e lavagem de dinheiro, entre outros.

 

Segundo a PF, os acusados são suspeitos de intermediar propina "de forma profissional e reiterada" na diretoria Internacional da Petrobras, com atuação também nas diretorias de Serviço e Abastecimento da estatal.

 

Os mandados tiveram como base os depoimentos das delações premiadas, documentos que comprovam, segundo a força-tarefa, pontos apresentados nas delações, além de provas obtidas por intermédio de cooperação jurídica internacional.

 

No primeiro depoimento ao juiz federal Sergio Moro como delator da Operação Lava Jato, o ex-diretor da área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró, acusou o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), de envolvimento em irregularidades na contratação de navios-sonda da estatal.

 

Cerveró afirmou que Jorge Luz tinha sido "o operador que pagou US$ 6 milhões" referentes à sonda Petrobras 10.000, contratada junto à multinacional Samsung Heavy Industries. "Foi o Jorge Luz o encarregado de pagar o senador Renan Calheiros, o senador...", disse. O pagamento teria sido feito na contratação do navio-sonda, o que aconteceu em 2006.

 

Renan afirmou, por meio de nota, que "a chance de se encontrar qualquer irregularidade em suas contas pessoais ou eleitorais igual a zero". Renan afirmou ainda que "todas as suas relações com empresas, diretores ou outros investigados não ultrapassaram os limites institucionais". Sobre sua relação com Luz, o peemedebista disse que "embora conheça a pessoa mencionada no noticiário, não o vê há 25 anos" e afirmou não ter nenhum operador.

 

Dos contratos firmados pela diretoria internacional da Petrobras, Jorge e Bruno Luz teriam intermediado propinas na compra dos navios-sonda Petrobras 10.000 e Vitória 10.000, na operação do navio sonda Vitoria 10.000 e na venda, pela Petrobras, da Transener para a empresa Eletroengenharia. Eles teriam utilizado contas no exterior para fazer repasse de propinas, segundo investigação da PF.

 

As investigações apontam que eles participaram da intermediação de propinas no contrato de aluguel do terminal de tancagem celebrado entre a Petrobras e a empresa Trafigura, e no contrato de fornecimento de asfalto com a empresa Sargent Marine.

 

Jorge e Bruno Luz teriam participado do pagamento de propinas para Pedro Barusco, ex-gerente da diretoria de Serviços, decorrente de contratos celebrados com a empresa Sete Brasil para exploração do pré-sal.

 

"Operador dos operadores"

Jorge é considerado o "operador dos operadores", conforme revelou reportagem da Folha de S. Paulo em maio do ano passado.

 

Ele é citado nas delações de Fernando Soares, mais conhecido como Fernando Baiano, e de Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras.

 

"O Jorge é um lobista dentro da Petrobras desde sempre. Eu vim a conhecê-lo quando ocorreu aquele fato de ter que ter apoio do PMDB para eu continuar na diretoria", disse Costa, indicado pelo PP para a Petrobras, em seu depoimento.

 

A ligação dele PMDB teria começado ainda durante a ditadura militar, mas foi em 1986, durante o governo de José Sarney, que o engenheiro iniciou seu lobby na Petrobras, segundo contou Paulo Roberto Costa em sua delação.

 

Ele já havia enviado advogados a procuradores os procuradores da República, no Paraná, no ano passado, em busca de um acordo quando o nome seu nome surgiu na Operação Lava Jato. Mas já havia tantas informações contra ele que a delação do lobista não interessou aos investigadores. Ele temia que as investigações se voltassem contra seu filho Bruno Gonçalves Luz, seu sócio em alguns negócios.

 

(Com informações da Reuters)

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