Na próxima terça-feira, dia 26 de setembro, é comemorado no Brasil o Dia Nacional do Surdo. A data foi instituída em 2008 e faz referência à fundação da primeira escola de surdos do país, em 1857. Ainda neste mês, dia 30, é comemorado mundialmente o Dia do Tradutor e Intérprete de Língua de Sinais, em alusão ao dia de São Jerônimo, a quem se atribui a tradução da Bíblia, da língua hebraica e grega para o latim.
Em razão dessas e outras datas, a comunidade surda celebra o Setembro Azul, um momento de visibilidade e protagonismo das pessoas surdas para a discussão de pautas como educação, acessibilidade, direitos humanos e linguísticos. Ouvintes são convidados a participar das atividades para agregar esforços em prol da garantia de direitos e do exercício pleno da cidadania por parte das pessoas surdas ou com deficiência auditiva.
Para marcar a data, o Câmpus de Porto Nacional terá uma série de eventos durante todo o dia. A programação inclui atividades culturais, palestras e oficinas para toda a comunidade surda e ouvinte (veja abaixo).
Programação no Câmpus de Porto Nacional
8h30 - Abertura
8h55 - Poesia em Libras, com a Profa. Ma. Victória Pedroni
9h - Palestra 1: Consciência Surda, com a Profa. Dra. Renata Garcia
9h30 - Palestra 2: Solução de Educação Bilíngue para Surdos no Tocantins, com Amoriana Borges
10h20 - Debate
14h - Oficinas:
- Uso de Classificadores e Ações Construídas na Libras (Prof. Me. Renato Leão e Profa. Ma. Roselba Miranda)
- Elaboração de Pré-projeto para Seleção de Mestrado (Prof. Dr. Bruno Carneiro)
- Noções Básicas de Transcrição no Elan (Prof. Me. Rodrigo Ferreira)
- Terminografia da Libras (Profa. Dra. Renata Garcia)
Atividades em Arraias e Gurupi
No Câmpus de Arraias, alunos do curso de extensão básico de Libras que são estudantes de graduação nos cursos de Pedagogia e Matemática produziram um vídeo em que interpretam a música "É preciso saber viver", de Roberto Carlos e Erasmo Carlos gravada pela banda Titãs, em língua de sinais para celebrar a data. O trabalho teve a orientação do professor Edivaldo dos Santos Júnior. Além disso, na terça-feira (26), às 19h, o câmpus promove uma palestra remota com o professor Bruno Carneiro, da UFT em Porto Nacional. A palestra será transmitida pelo YouTube (@canaleduacessinclusiva) e transmitida ao vivo para os presentes no auditório da UFT em Arraias.
Em Gurupi haverá uma oficina de Libras na quarta-feira (27), às 14h, ministrada pela intérprete Viviane de Araújo. A atividade é aberta à comunidade e as inscrições podem ser feitas aqui.
Surdez e deficiência auditiva na UFT
Atualmente trabalham na Universidade Federal do Tocantins 13 servidores surdos ou com deficiência auditiva, sendo nove professores e quatro assistentes em administração.
Conforme explica o professor Bruno Carneiro, o termo surdo é utilizado, principalmente, para designar pessoas com surdez profunda, que normalmente nasceram com essa deficiência e que são sinalizantes, os quais normalmente têm a Língua Brasileira de Sinais (Libras) como primeira língua ou língua materna. Já o grupo de pessoas com deficiência auditiva, na prática, inclui pessoas com diferentes graus de limitação auditiva, que pode ser de nascença ou adquirida por diferentes fatores ao longo da vida. Essas pessoas podem ter uma língua oral como primeira língua e não necessariamente são alfabetizados em Libras ou outra língua de sinais. Há, inclusive, entre essa comunidade, o grupo dos chamados "surdos que ouvem", que são pessoas que escutam e conseguem se comunicar utilizando a audição graças a implantes ou aparelhos auditivos, o que também possibilita um melhor desenvolvimento da capacidade de expressão através da fala.
A UFT já formou 48 pessoas surdas ou com deficiência auditiva em cursos de graduação e 19 em cursos de mestrado, incluindo ingressantes no Câmpus de Araguaína antes da separação e criação da UFNT. Além disso, há 70 estudantes surdos ou com deficiência auditiva vinculados à UFT atualmente, em seus cinco câmpus da nova configuração, 53% em cursos de graduação e os demais em cursos de mestrado, como alunos regulares ou especiais.
O número de estudantes surdos ou com deficiência auditiva na UFT aumentou especialmente a partir de 2015, ano em que foi criado o curso de Licenciatura em Letras-Libras. Não por acaso, esse curso de graduação, juntamente com o Mestrado em Letras, ambos no Câmpus de Porto Nacional, são os que concentram os maiores percentuais de surdos ou com deficiência auditiva da UFT (27% e 22%, respectivamente). "No curso de Letras-Libras, das 30 vagas anuais, 12 são destinadas a candidatos surdos que fazem um processo seletivo em língua de sinais. No Programa de Pós-Graduação em Letras, também, em todo processo seletivo há vagas específicas para surdos, que igualmente fazem todas as etapas do certame em Libras", ressalta o professor Bruno Carneiro, coordenador do curso de graduação em Letras-Libras.
Essa política explica o alto número de estudantes surdos nessas formações, mas elas não são as únicas em que pessoas surdas ou com deficiência auditiva estão presentes: há estudantes surdos ou com deficiência auditiva (formados ou estudando) em 23, dos 46 cursos de graduação da UFT, e em seis cursos de pós-graduação em diferentes áreas do conhecimento. Há surdos e deficientes auditivos formados ou em formação nos cursos de Agronomia, Administração, Biologia, Comunicação, Ciências Econômicas, Direito, Engenharias, Pedagogia, Educação Física, Nutrição, Medicina e outros.
Segundo dados do IBGE, no estado do Tocantins vivem cerca de 1.800 pessoas surdas ou com algum grau de deficiência auditiva. "Nesse contexto, há que se ressaltar que a UFT tem uma política muito forte de ingresso, permanência e participação de surdos, tanto na graduação quanto na pós-graduação", ressalta Carneiro.
A Universidade tem um comitê central e comissões próprias em cada câmpus que vêm trabalhando sistematicamente para aprimorar as condições de acessibilidade e permanência dos estudantes com diferentes deficiências de acordo com suas necessidades específicas. Além disso, o novo regimento dos Cursos de Pós-Graduação stricto sensu aprovado em julho deste ano pelo Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Resolução nº 84/2023 - Consepe), passou a permitir que dissertações e teses possam ser redigidos em Libras, assim como em língua indígena, além dos idiomas Português, Inglês, Francês e Espanhol, reconhecendo a Língua Brasileira de Sinais entre as línguas acadêmicas de produção, registro e circulação de conhecimento.
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