Com arte e educação ambiental, Taquaruçu avança na cultura do lixo zero

Projeto “Deu Crise no Sistema!” alia palhaçaria, inclusão e reciclagem e transforma festival em exemplo de sustentabilidade e economia circular

Crédito: Rafaella Pessoa

Lançado durante a 12ª edição do Festival Internacional de Circo de Taquaruçu (Ficto), o projeto "Deu Crise no Sistema!" buscou reduzir ao máximo a produção de lixo no evento. A iniciativa fortalece uma ação que já ocorre na comunidade local: coleta seletiva articulada pelo movimento Recicla Taquaruçu – iniciativa ligada ao Movimento Vida Viva Taquaruçu, ao Permacirco da Associação Cia Os Kaco, ao Projeto AMA - Amigos do Meio Ambiente do Colégio Crispim Pereira Alencar e a comerciantes e instituições.

 

Desta vez a ação ganhou mais força com a magia da palhaçaria ambiental, o que tornou a conscientização "lúdica", por meio de intervenções artísticas e boas práticas ambientais realizadas pelas palhaças Crise (Daniela Rosante) e Rosa dos Ventos (Rosa Maria); uma dupla cuja missão é salvar o mundo com ações concretas e educação ambiental realizada com humor e amor durante todo o festival.

 

Coleta seletiva de recicláveis, compostagem dos resíduos orgânicos, não utilização de materiais descartáveis são as ações ambientais visíveis que vem acompanhadas da educação ambiental realizada in loco, chave para que as ações sejam compreendidas e realizadas com afetividade e efetividade.

 

Além de estruturar a gestão de resíduos sólidos no evento, com nítido impacto ambiental, o projeto cumpriu um papel social e econômico importante: gerar trabalho e renda para trabalhadores do ciclo da reciclagem em Palmas e Taquaruçu e criar um modelo de ação com uma tecnologia que pode ser replicada em outros eventos e territórios. 

 

A geração de trabalho e renda também foi pensada para os jovens monitores do projeto, que anteriormente já atuaram como voluntários nas ações ambientais do movimento Recicla Taquaruçu, também ligadas ao “Programa Vida Viva, Bem Viver e ODS” do Curso de Licenciatura em Teatro da UFT, sob coordenação da profa Dani Rosante (a Palhaça Crise).

 

A Equipe Lixo Zero teve como integrantes: jovens monitores do distrito de Taquaruçu (arte educadores ambientais em formação no Circo Social da Cia Os Kaco), estudantes da UFT vinculados às ações extensionistas realizadas em parceria com o circo e pessoas que chegaram como voluntárias. Juntos, se uniram para fazer do festival um exemplo bem sucedido nas vertentes da economia circular e da educação ambiental nos moldes da educação popular que se pratica no circo.

 

A equipe Lixo Zero trabalhou em parceria com a equipe de Acessibilidade, que também deu um show de inclusão no festival, sob a coordenação de Flávia Rodrigues. Foram promovidas acessibilidade física e atitudinal, com adaptação do espaço, participação de pessoas com deficiência visual no cortejo (em bicicletas adaptadas), presença de intérpretes de Libras em todas as apresentações e uma noite de espetáculos com audiodescrição. Também houve participação de deficientes auditivos e visuais em todos os dias do festival, no público e também nas equipes de produção trabalhando no evento.

 

A Palhaça Rosa dos Ventos estreou como intérprete de Libras nas duas primeiras apresentações do festival e depois deu lugar à Rosa Maria, intérprete original que traduziu o último espetáculo da noite de abertura.

 

A educação ambiental aconteceu a todo momento e com todo público do festival, desde a plateia das apresentações aos artistas, dos produtores aos parceiros, com foco em jovens e crianças, que, afinal, são guardiões de uma nova consciência que vai se criando na comunidade: a cultura do Lixo Zero.

 

Durante os quatro dias do 12º Festival Internacional de Circo de Taquaruçu, o projeto "Deu Crise no Sistema!" registrou os seguintes números: 6,955 kg de PET’s; 6,321kg de latinhas; 37,105 kg de resíduos não aproveitáveis (lixo) e 81,7 kg de resíduos orgânicos que, através da compostagem, irão se transformar em terra orgânica, demonstrando que a ação Lixo Zero é um terreno fértil para novos cultivos.

 

Os dados do festival revelam um importante desafio: boa parte do lixo comum produzido poderia ser reciclado em outros lugares onde o ciclo da reciclagem já está mais avançado no setor dos Resíduos Sólidos. 

 

Um cenário que demonstra a urgência de avançarmos na conscientização sobre a destinação correta dos resíduos sólidos, pensando consumo consciente, logística reversa de embalagens e redução drástica na geração de lixo.

 

O cenário também revela a urgência de gestores colocarem em prática políticas públicas e legislações já existentes, começando por investimentos maciços no ciclo de reciclagem, incluindo integração da ação e educação ambiental nas escolas e estruturação das associações de catadores, para que a gama de materiais recicláveis aumente no município de Palmas.


Importante destacar o apoio da FMMA - Fundação Municipal do Meio Ambiente que por hora ofereceu o transporte do material e os bags para organização do mesmo, estudando, neste momento, a possibilidade de apoiar também a continuidade da formação dos jovens arte educadores ambientais através da geração de trabalho e renda para seguirem se dedicando ao trabalho. 

 

Já a Secretaria Municipal de Ação Social liberou o Cras, que recebeu de portas abertas para a equipe da cozinha e os artistas e produtores do festival que lá almoçaram todos os dias do evento, sempre guardando os resíduos orgânicos nos baldes adequados.

 

"Quando unimos a Arte, as instituições e o poder público à força que tem uma comunidade reunida em torno de uma causa, criamos soluções que mudam realidades", afirma Dani Rosante (Palhaça Crise), idealizadora do projeto “Deu Crise no Sistema”, agente comunitária, artivista ambiental e coordenadora pedagógica dos trabalhos de Circo Social e de extensão realizados no território de Taquaruçu.

 

"Taquaruçu já faz a diferença com a coleta seletiva, e agora a palhaçaria ajuda a espalhar essa semente para as novas gerações!", completa Rosa Maria (Palhaça Rosa dos Ventos) e integrante do grupo de Acessibilidade do festival.

 

Realizado com recursos da Política Nacional Aldir Blanc, o projeto prova que cultura e sustentabilidade caminham juntas – e que políticas públicas levadas a sério por gestores, quando abraçam as iniciativas da sociedade civil, podem sim gerar impacto social, ambiental, artístico-cultural e econômico nas comunidades.

 

Esses materiais, que antes seriam lixo, se transformam agora em renda para catadoras locais de Taquaruçu, que recebem e vendem as latinhas, para monitores do projeto e para trabalhadores e da cooperativa Cooperan, parceira do Recicla Taquaruçu que recebe as PET‘s.  Acompanhe as próximas ações no Instagram @deucrisenosistema.

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