Com futebol, projeto da PM em Taquaruçu ocupa crianças e promove esporte

Projeto nasceu despretensiosamente no quintal da casa de um Sargento da PM que hoje desempenha o trabalho de 16 agentes na formação de caráter das crianças do distrito

Projeto nasceu despretenciosamente e mudou a segurança do distrito
Descrição: Projeto nasceu despretenciosamente e mudou a segurança do distrito Crédito: Fotos: Kaio Costa

A Polícia Comunitária vinculada ao 6º Batalhão da Polícia Militar realiza um trabalho de atenção social às crianças e adolescentes de Taquaruçu há quatro anos, promovendo cidadania e incentivando a prática de esportes. Sob o lema “Construindo caráter para não construir prisões”, a Escolinha de Futebol Comunitária implantada na comunidade e coordenada pelo 2º Sargento Francisco Sérgio Rodrigues Araújo atende atualmente 250 crianças, sendo 220 meninos e 30 meninas entre quatro e 18 anos de idade.

 

A ideia do projeto surgiu quando o filho do Sargento Sérgio apareceu com alguns amigos para brincar de futebol em casa e não tinha quem os orientasse. “Anael chegou com seis crianças pra brincar num dia, no outro já eram 16, foi aumentando e, quando me espanto, tive que categorizar porque não cabia mais”, relembra.

 

Anael Cruz dos Santos Araújo, de 17 anos, conta que na época não havia muitas opções de entretenimento em Taquaruçu, o que fazia com que as crianças ficassem nas ruas. “Na minha infância não tínhamos acesso ao campo, quadra e nem um responsável para acompanhar. As crianças ficavam na rua, jogados, correndo perigo de entrar no mundo das drogas”, afirma.

Histórico

 

O projeto, que começou despretensiosamente, ganhou apoio da Polícia Militar e dos empresários do distrito. Sérgio conta que o Comandante do 6º BPM liberou para que o expediente enquanto policial seja trabalhando com as crianças. “A prevenção começa de pequeno. Nosso comandante abraçou, mesmo com toda dificuldade”, conta ao destacar que, com essa ação, ele desenvolve o trabalho de 16 policiais.

 

Segundo Sérgio, a prática de pequenos delitos na comunidade diminuiu depois que o projeto foi implantado. “Estou completando 27 anos de polícia, há 4 venho trabalhando com esse programa e, com o tempo, percebemos que pequenos furtos nos estabelecimentos e em casas do distrito deixaram de existir”, orgulha-se.

 

Com a melhoria perceptível na segurança do município, os empresários abraçaram a causa e auxiliam para que o projeto continue vigente, como é o caso da Dina Ribeiro. Servidora Pública e dona de uma franquia de sorvetes em Taquaruçu, a cada seis picolés vendidos, Dina doa o valor do sexto ao projeto. “É um projeto que todos temos que apoiar, de qualquer setor da comunidade, porque além de ser bom para a saúde, é um ambiente saudável”, afirma. Seu filho, Rafael Ribeiro, 16, participa do projeto há um ano.

 

O bilheteiro Jan Cleiber Oliveira, 28 anos, lembra que quando era menor também participava de um projeto semelhante. “Entrei com 7 anos e fiquei até os 18. Da minha geração, a maior parte está trabalhando, estudando e ainda nos encontramos para jogar bola”, relata. Ele tem um sobrinho que também participa da Escolinha Comunitária e reconhece o esforço dos meninos. “Vejo os meninos vendendo rifa pra juntar dinheiro, na luta, mesmo sem apoio”.

 

Dificuldades

 

Apesar do apoio de empresários e da Escola Municipal Crispim Pereira Alencar, que cede a quadra poliesportiva para as crianças de 4 a 11 anos, o projeto encara dificuldades. “Os refletores do campo de futebol estão queimados há dois anos, o que limita o tempo de treino”, conta Sérgio, ao destacar que a única fonte de renda é a venda dos uniformes e que, ainda assim, o valor cobrado é apenas para custear a confecção. “Temos muitas crianças em situação de vulnerabilidade social e muitos pais que não tem condições de comprar o uniforme. Nos unimos e conseguimos doar àqueles que realmente precisam”. A empresa Jorima também é parceira do projeto e, inclusive, se comprometeu em doar 40 uniformes.

 

Ele também relata que na época de seca, o gramado fica morto e, por consciência, não molha por saber que poderá acelerar o processo de seca do Ribeirão Taquaruçu. “Gostaríamos que tivesse um poço artesiano aqui para que pudéssemos regar a grama sem comprometer o fornecimento de água no distrito”. O Sargento conta que já buscou ajuda em grupos políticos, mas nunca recebeu um retorno efetivo.

 

Futuro

 

O professor Erivaldo Gonçalves, de 37 anos, é conhecido como Loirinho no meio esportivo tocantinense e trabalha como voluntário no projeto há dois anos. Residente no setor Lago Sul, próximo a Taquari, ele encara cerca de 29 km duas vezes na semana e diz que faz pelo amor que tem à profissão. “Como não consegui ser jogador, o pouco que aprendi passo pra eles e vejo que tem futuro. O que tira o garoto da rua é o esporte”, destaca.

 

Loirinho morou há 10 anos em Taquaruçu e viu projetos como este mudar o futuro de muitas crianças e lembra de uma em especial: “Danilo, de Buritirana, hoje joga no São Paulo. Saiu das escolinhas aqui de Taquaruçu. Nesses anos que fazemos esse trabalho com o 6º BPM, também percebemos futuro”, salienta.

 

“Temos uma viagem para Itumbiara (GO). A única escolinha pública de futebol a ser convidada em duas categorias, Sub-13 e Sub-15. Um dos campeonatos de maior importância no estado do Goiás para categorias de base”, disse. A competição acontecerá de 9 a 17 de Janeiro.

 

Família

 

A esposa do Sargento Sérgio, Dona Leuralda Cruz dos Santos Araújo, é aposentada e hoje auxilia o marido com o projeto, acompanhando a ala feminina. Ela encarou um câncer de mama e, durante o processo, contou com o apoio das afilhadas, como chamam. “Pra mim é uma grande satisfação porque não tenho filha e quando elas chegaram, abracei como se fossem minhas. O maior problema que enfrentei em minha vida, elas sempre estiveram juntas. Acaba criando uma família”, finaliza.

 

O projeto também é desenvolvido nos setores Bertaville, Aureny III, IV e Morada do Sol, todos sob a atenção do 6º BPM.

 

Comentários (0)