Uma situação de agressão verbal e posteriormente física ocorrida no Cemitério de Nova Rosalândia nos dias 1º e 2 de novembro (Dia de Finados) resultou no registro de dois Boletins de Ocorrência (BOs) na cidade de Paraíso por parte da estudante Thuany Caroline Silva Carvalho, 25 anos, e da cozinheira Maria Divina Pinto dos Santos, 42 anos.
Tais agressões foram registradas em vídeos enviados ao T1 Notícias, nos quais um senhor de nome Pedro Conceição Primo, 45 anos, aparece xingando e em vias de fato contra um grupo de umbandistas que estavam no cemitério do município, localizado na zona rural.
A estudante Thuany Caroline Silva Carvalho, 25 anos, moradora em Paraíso do Tocantins, adepta da religião umbanda, conta que no dia 1º de novembro, juntamente com dez integrantes do Centro Espírita Santa Joana D’arc, foram acompanhar a madrinha Maria da Paz Cabral dos Santos, 67 anos, no cemitério de Nova Rosalândia para a limpeza dos túmulos de entes queridos dela.
Por duas vezes, durante a presença delas no cemitério, Pedro Primo, teria sido ofensivo e violento. “Estávamos fazendo a nossa obrigação pras almas com a pipoca no dia 1º, que é somente derramar um pouco de pipoca sobre a cabeça, pedido proteção. Da parte da madrinha, era colocar um pouco de pipoca sobre os túmulos dos entes querido dela. Mas nessa hora, fomos surpreendidos pelo homem totalmente alterado nos expulsando, nos chamando de macumbeiro e falando aqui hoje macumbeiro não faz macumba”, descreve.
Retorno
Ela conta que diante das ofensas, ela e a madrinha resolveram se retirar do local, já que havia pessoas de idade no grupo. Entretanto, retornaram ao cemitério no dia seguinte (2 de novembro), acompanhadas, desta vez, de uma amiga, a cozinheira Maria Divina Pinto dos Santos, 42 anos, e de um motorista.
Novamente, quando eles terminavam suas oferendas, Pedro Primo apareceu e após rodeá-los, retomou as ameaças, com o agravante de carregar um pedaço de madeira na mão. “Ao perceber que peguei o celular pra filmar, ele correu e colocou o pedaço de madeira em cima do muro. Questionado pelo motorista, que não é da nossa religião, do porquê de expulsar e descriminar os umbandistas, o homem se mostra desequilibrado e, movido pelo ódio, parte cima de mim, tentando quebrar meu celular e me acertando um tapa forte no peito”, narra Thuany.
Após isso, ainda segundo as vítimas, o homem teria pego o pedaço de madeira e parte para cima delas, o que as fez correr novamente. “Ele gritava coisas ofensivas contra nós, e continuou a dizer macumbeiro aqui não faz macumba!”, completa.
Polícia
Desta forma, a polícia foi chamada por ambas as partes, agressor e vítimas. “Achei estranho ele (agressor) chamar a polícia, sendo que ele estava comentendo um crime”, analisa.
Não bastasse, narram as vítimas, ficou claro a inversão de valores. “A polícia vira pra mim e pergunta quem está conduzindo o carro. Na hora, o motorista se apresenta e em seguida um policial fala que houve uma denúncia anônima em que teria uma arma guardada no carro, fazendo uma revista. Não encontraram nada, mas ficou o constrangimento perante todos que ali estavam”, acrescenta.
Thauny conta ainda que os policiais, então, disseram que elas poderíamos ir embora e que a única coisa que eles poderiam fazer era lavrar o termo de que teriam comparecido no local. “Falaram que se quiséssemos puxar o extrato da ocorrência que nos deslocássemos até a cidade de Lagoa da Confusão. O criminoso ficou impune mesmo em flagrante e fomos embora”, lamenta.
Depois disso, as vítimas se dirigiram à delegacia para registro de Boletins de Ocorrências (BOs), porém só conseguidos na Delegacia de Polícia de Paraíso, sob os números 090191/2019 e 088418/2019 o quais o T1 Notícias teve acesso, bem como os vídeos. Em um deles é possível ver o ato de agressão física.
Federação repudia
Para o vice-presidente da Federação das Casas de Culto de Matriz Afro-Brasileira do Tocantins (Feccamto), Gildener de Souza, o Pai Gil, o ocorrido acaba sendo corriqueiro no País, pela impunidade e a falta de conhecimento e respeito por parte das pessoas. “O cemitério é um campo santo onde estão enterradas pessoas de todas as religiões, onde se depositam flores e velas, e por que não pipocas? Eu, como vice-presidente da Federação, fico entristecido com a falta de tolerância”, repudia.
Órgãos competentes
A Defensoria Pública já foi acionada. A Feccamto informou que acionará ainda o Ministério Público Estadual e a Ordem dos Advogados do Brasil, cobrando também a apuração por parte da PM sobre a conduta da equipe que atendeu a ocorrência.
O T1 solicitou um posicionamento da PM a respeito do ocorrido, porém ainda não respondido, e o espaço segue aberto.
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