Dentro da programação da Expoagro de Dois Irmãos, no Tocantins, o Sindicato Rural promoveu na noite desta quinta-feira (04) o Agroforte, em parceria com a FAET e o Senar. O destaque do evento foi a palestra do ex-ministro da Agricultura,Antônio Cabrera, que trouxe reflexões sobre os avanços e desafios do setor.
Cabrera lembrou o cenário agrícola do início dos anos 1990, quando esteve à frente do Ministério da Agricultura. Na época, o governo tabelava preços dos produtos, e o Brasil figurava entre os cinco maiores importadores de alimentos do mundo.
“Hoje, quando escuto propostas de congelar preços de carne ou de outros produtos, me preocupo. Precisamos manter a liberdade de mercado, para que retrocessos como aqueles nunca mais voltem a acontecer”, alertou.
O ex-ministro destacou o papel do Brasil como potência agroalimentar. Em 2023, o país enviou alimentos para 229 países e territórios, consolidando-se como o maior fornecedor para o Oriente Médio, além de liderar as exportações tanto para o mundo árabe quanto para Israel. Ele também citou avanços expressivos, como o crescimento de 330% na produção de algodão, mesmo com aumento de apenas 60% na área plantada, e a explosão da produção e consumo de frango no mercado interno e externo.
Entre os pontos críticos, Cabrera ressaltou a dependência de fertilizantes importados e as dificuldades para explorar fontes nacionais devido a entraves ambientais e disputas fundiárias. Também apontou falhas históricas no transporte: “Temos 30 mil quilômetros de ferrovia, mas 18 mil estão inoperantes. O Mato Grosso, sozinho, já supera países inteiros na produção de grãos, mas conta com apenas 200 quilômetros de ferrovia”, destacou.
O palestrante foi incisivo em relação à imagem do agronegócio na sociedade e na mídia. Segundo ele, novelas, reportagens e até o material escolar reforçam visões distorcidas do setor. “Foram analisados diversos livros escolares: 60% das citações ao agro são negativas, e apenas 3,5% têm algum embasamento científico. Estamos perdendo a batalha na sala de aula”, afirmou.
Cabrera também rebateu alguns mitos. Um deles é a ideia de que 70% da cesta básica seria produzida pela agricultura familiar – dado que, segundo ele, vem de estimativas da década de 1970 sem base estatística confiável. Outro é a crença de que apenas a produção orgânica poderia sustentar o futuro da alimentação: “Para suprir a demanda global com esse modelo, seria necessário expandir absurdamente a área agrícola”, explicou.
O ex-ministro fez um apelo pela valorização do agro brasileiro, comparando a imagem do setor à de ícones nacionais de outros países. “Os italianos têm orgulho da Ferrari. Os americanos, da laranja da Flórida. Nós precisamos ter o mesmo orgulho do nosso agro”, afirmou, lembrando até exemplos simples, como a mensagem de agradecimento aos produtores de frango que já apareceu na embalagem de uma rede de fast food no Canadá.
Cabrera reforçou ainda a importância de “contar a verdadeira história” da agricultura e pecuária brasileiras. “O agronegócio está associado à tecnologia, à sustentabilidade e à segurança alimentar mundial. Mas governos e parlamentos muitas vezes criam barreiras, em vez de abrir caminhos. É hora de comunicar melhor o que realmente fazemos pelo Brasil e pelo mundo”, concluiu.
O Agroforte é uma iniciativa da FAET, SENAR, Sindicato Rural de Dois Irmãos, com o apoio do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) e Governo Federal (TF 956148-2024).
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