Lutando na justiça contra a Bunge- Pedro Afonso Açúcar e Bioenergia S/A ( Usina de Álcool), cuja sede fica em cima de terras que eram suas, o agropecuarista que mais empregou na região mantém o ânimo e a disposição para o trabalho.
Sebastião José de Carvalho que já chegou a plantar 19 mil hectares de lavoura em um só ano, tanto em terras próprias como arrendadas – começou em 1976 plantando arroz em Pedro Afonso - para onde se mudou com 19 anos, com a missão de cuidar da fazenda do pai, o falecido Sebastião Antônio de Carvalho, também um pioneiro na região, falecido em acidente automobilístico.
Tiãozinho, como é conhecido em Pedro Afonso e Região, herdou do pai a disposição e o amor pelo trabalho, além do empreendedorismo que traz no sangue e do nome do pai.
Depois de uma vida de dedicação ao trabalho no campo, Sebastião José de Carvalho, hoje com 55 anos espera pelas mãos da Justiça a terceira grande virada da sua vida de agricultor, depois de enfrentar dificuldades motivadas pela quebra de contrato com a Bunge, por parte da empresa, há alguns anos.
“Eu já construí patrimônio plantando arroz, perdi com gado, já levantei com soja e perdi de novo com endividamento provocados por contratos leoninos, juros exorbitantes, pela falta de cumprimento de contratos feitos para comigo e com minha empresa, mas não desisto”, conta ele, enquanto dirige pelas fazendas da região e mostra tudo que já foi seu.
Prejuízo com a soja, com a Bunge
Acostumado a plantar e financiar o plantio no Banco do Brasil e na antiga Ceval, de 1990 a 1996, Tiãozinho viu a empresa ser comprada pela Bunge, que passou a ser financiadora das lavouras de soja nos anos seguintes. “A forma de contratos, juros e correção cambial foi tornando a gente refém deles”, relata, mudando o tom da conversa.
As desvantagens para os produtores eram muitas, conta o empreendendor, lembrando que além de cláusulas consideradas "extorsivas” como fixação dos preços unilateralmente pela empresa ainda tinha que se preocupar com a falta de seguro agrícola, problemas de escoamento de produção e outros problemas.
Duas safras problemáticas selaram o começo dos problemas do pioneiro, gerador de empregos e de renda, com a grande empresa que se instalou em Pedro Afonso. “Na safra 2004/2005, o contrato que fizemos dizia que a Bunge receberia o produto sobre rodas. Nós fizemos a nossa parte, que era plantar, cuidar e colher. Naquele ano por falta de transporte para locais onde o produto pudesse ser armazenado, eu perdi 200 mil sacas. A empresa transferiu o prejuízo todo por não ter logística de transporte e armazenamento, ao produtor”, rememora.
Um processo foi aberto por Tiãozinho contra a empresa para recuperar as perdas, mas foi encerrado pouco tempo depois, diante de uma nova negociação que surgiu com a idéia da empresa se instalar como usina a partir do plantio de cana de açúcar no Tocantins.
Estava assim, surgindo a Bunge Usina de Álcool, um projeto que começou de uma sugestão do próprio Tiãozinho à empresa numa reunião ocorrida em Gaspar, com diretores.
Assumindo danos e fazendo outro negócio
“Eu aceitei, encerrei aquele processo e fui trabalhar. Logo depois, para minha surpresa, eles lavraram um termo de ajuste de conduta com o Ministério do Trabalho, em que se comprometiam a assumir a mão de obra da atividade fim da usina, que era plantio e corte de cana. Eu não fui parte neste acordo. E com esse argumento romperam contrato comigo”, diz.
A empresa Agrícola Entre Rios, de propriedade de Sebastião José de Carvalho com outros dois sócios, que foi criada com a finalidade exclusiva de atender a Bunge, perdeu assim também a sua exclusividade nos outros serviços – além dos executados para plantio e colheita – que hoje são realizados por outras empresas.
“Veja bem. Isso me causou inúmeros prejuízos. É isso que estamos discutindo na justiça. Sei que eles são uma empresa poderosa, mas quebraram um contrato me gerando grandes perdas. E se existe justiça eles vão ter que acabar assumindo isto, pois nunca deixarei de acreditar na Justiça do nosso Pais, pois se perdermos esta confiança, em que poderemos mais acreditar? nunca agi com maldade ou deslealdade com ninguém ”, desabafa.
Vivendo hoje do patrimônio que lhe restou, Tiãozinho guarda em dois armários e centenas de pastas, a documentação que conta a história de sua relação com a Bunge Alimentos e com a Bunge Usina. “Sei que sou factível, sou mortal, mas um dia isso vai chegar ao fim, e, reafirmo: confio na Justiça do meu Estado do Tocantins; e nas demais esferas do Judiciário brasileiro, pois vivemos num Estado democrático de direito, onde impera a força do direito, nunca o direito pela força”, afirma.
Numa volta pela cidade, ele aponta as empresas que tomaram seu lugar na prestação de serviços à usina: uma transportadora de pessoal, com ônibus alugados, uma empresa de transporte via caminhão, transporte de álcool, uma de aviação agrícola, de irrigação, conservação de estradas e arruamentos de plantio para cana dentre outras que se prestam aos serviços que segundo ele estavam envolvidos no seu contrato junto a empresa de açúcar e álcool de Pedro Afonso.
O acerto com os então funcionários da Agrícola Entre Rios Ltda., terceirizados da Bunge, foram todos feitos por ele. “Vendi patrimônio para pagar todo mundo, pagando pelos transtornos que a Bunge criou e simplesmente virou as costas para mim”, explica.
"Antes de propor qualquer demanda judicial busquei de todas as maneiras uma solução amigável com a multinacional. Cheguei até a contratar uma consultoria externa que elaborou um parecer sobre toda a questão, mas as tentativas foram infrutíferas. Pagamos um trabalho independente, de consultoria jurídica sobre o contrato, meu advogado procurou o jurídico deles e o que ouvimos? Deixa o processo rolar, se você ganhar lá na frente a gente vê”, relata Tiaozinho.
Bunge evita comentar disputa
Procurada pelo Portal T1 Notícias para ser ouvida sobre o assunto, a empresa encaminhou nota via assessoria de imprensa afirmando que não comentará o tema, uma vez que sua tese de defesa se encontra no processo ainda em fase de julgamento.
Nota ao Portal T1 Notícias:
A Bunge Brasil confirma que a ação em questão é objeto de discussão judicial. Portanto, a visão, defesa e teses da Empresa sobre esse contencioso já foram apresentados e estão sob julgamento da Justiça.
Atenciosamente,
Assessoria de Imprensa
Comentários (0)