Não é festa. Não é comemoração, não. A Comunidade dianopolina foi motivada a reverenciar o Centenário desse trágico, lamentável, mas relevante episódio histórico ocorrido nos idos de 1918/1919, conhecido como: “Barulho do Duro”, a “Chacina dos Nove”, “Quinta Feira Sangrenta”, na antiga vila de São José do Duro.
Quem diria que teríamos “coragem” para “remexer”, trazer à tona páginas desse livro da nossa história, bem verdade, sem o propósito de exaurir a temática e sim retomar a discussão e o debate saudável sobre o assunto? Sim...
Educadores, membros da Academia Dianopolina de Letras, Poder Público, instituições, famílias, comunidade em geral, almejam, com essa iniciativa, incentivar a pesquisa, o debate sadio, a leitura, o estudo, como também o revisitar, o reescrever, o resgatar, o registrar de temas correlatos e decorrentes, e nesse enfoque analisar os conflitos gerados (antes, durante e após 1919) e a partir daí buscar interpretar a desestabilização do ambiente político, social, econômico, familiar no município e suas conseqüências, propiciando estudo sobre os atores e vítimas do terrível acontecimento.
Busca-se assim, a troca de idéias, opiniões, informações, pontos de vista sobre o período em foco, tanto em documentos oficiais como também da história até aqui, falada, escrita, filmada, interpretada.
O propósito não é apontar heróis ou bandidos; protagonistas ou antagonistas; culpados ou inocentes... Vislumbra-se que, ao “esmiuçar” ou “escarafunchar” o assunto, tenhamos a clareza e/ou a grandeza de sermos capazes de entrarmos no túnel do tempo, assentarmos nossos pensamentos num nível de compreensão/aceitação quanto à conjuntura de quando tudo aconteceu. – Resquícios da Primeira Guerra Mundial?! – Tempo: Início do séc.XX (1918/19): - O poder do mandonismo/autoritarismo dos Coronéis; - A ditadura das ditas “Oligarquias (aqui – a dos Caiados”); - A sede do poder pelo poder (que perdura até hoje); - A idade dos personagens envolvidos nos fatos (dos que detinham o poder de decisão – mais jovens, mais impetuosos); - Perfil animalesco dos jagunços e da tropa oficial; - Os “egos” contrariados; - Desejos de vingança; - Traições...
E hoje, como nos comportamos? 100 anos depois, cabe a nós familiares, amigos, conhecidos, dianopolinos de nascimento ou por adoção, refletirmos: Conseguiremos mudar a história ou tentar entendê-la? Verificarmos que a trajetória da humanidade (ver Jesus Cristo), foi escrita com o sangue dos mártires (Ver Tiradentes) e nós mesmos cultuamos na Capela dos Nove, o Mártir São Sebastião e junto a Ele os Nove Mártires do Barulho...Foi o melhor, o certo? Não! Mas, com essa oportunidade que ora se apresenta de leituras, discussões que geram pontos de vista, tudo isso constitui a seiva, a matéria prima que alimentará a pesquisa e a tentativa de compreensão do ocorrido.
Deflagra-se assim essa nova página da nossa história na intenção de trocar idéias, socializar conhecimentos, aprofundar estudos, reunir material, documentos, obras, fotos, produzir textos, imagens, vídeos, dados digitais, e que a história seja a protagonista desse importante projeto.
E o lado dito “positivo” desse momento ora apresentado? É um palco com cortinas abertas aos desabafos até então abafados; gritos até então reprimidos; busca de esclarecimentos, talvez; tentativas de convencimentos de todo lado; e a “senhorita justiça” ali...espiando, olhando, sem querer pesar nada...!?
Penso até, numa tentativa descontraída e de cunho espiritual, dizer que os envolvidos na tragédia, direta ou indiretamente, e que hoje habitam plagas superiores, quem sabe, estariam olhando para nós, tentando entender o que estamos fazendo e/ou querendo fazer, e a povoar suas mentes estariam girando palavrinhas mágicas como: perdão, superação, compreensão, abraços?!...
E então, cabe a nós com esse projeto, reverenciar, com todo respeito mesmo, a todas e todos os(as) mártires, sem distinção.
E o que dizer mais sobre o lado aproveitável desse projeto?
A partir da abertura dos grupos, pelo WhatsApp, quantos contatos, quantas falas, quantas palavras, quantos diálogos, quanta troca de informação, quanto despreendimento, quanta aproximação, quanto interesse, quantas aulas, quantas ricas participações esclarecedoras de historiadores, pesquisadores, escritores, quantos guardados agora divulgados, quantos grupos “filhotes” do grupo maior: “100 Anos do Barulho” surgiram e só agregam, socializam, favorecem encontros, trazem lembranças, reminiscências (fotos, músicas, vídeos) homenagens. Parece até que estamos num bate-papo descontraído: às vezes forte, às vezes pleno de emoções, reportando-nos ao passado...passado das ruas, praças, brincadeiras, festejos, escolas, da nossa querida terra. Vale lembrar também, que ao desenvolver esse projeto, nosso Município alcançará boa visibilidade e divulgação ao fomento turístico, já que é favorecido por rica herança cultural, religiosa, ecológica e histórica.
Assim, através de um rosário imenso de sugestões de ações vamos estimular a comunidade e principalmente as instituições escolares a abraçarem o projeto do Centenário, através da leitura, da escrita, da pintura, do teatro, das entrevistas, dos documentários, da música, da poesia, da pesquisa, da informação, do conhecimento, da valorização da cultura, da tradição e do passado histórico da cidade das Dianas. E aí? Registrar, arquivar para a quem interessar saber , pesquisar e estudar sobre o “Barulho de São José do Duro”! Vamos ajudar?
Anisiana Jacobina Aires Sepúlveda (Profª Nisinha) é professora de Língua Portuguesa e presidente da Academia Dianopolina de Letras.
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