Quando meus pés abrandarem na marcha, por favor, não me forcem. / Caminhar para quê? Deixem-me quedar, deixem-me quieta, na aparente inércia. / Nem todo viandante anda estradas, há mundos submersos, que só o silêncio da poesia penetra (Conceição Evaristo, Da calma e do silêncio). Nesse trecho do poema da Conceição Evaristo é possível ver - pelo menos eu vejo -, a exaustão vigilante que o ativismo às vezes provoca. Hoje ao falar sobre o dia 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, falei do que ele desperta, ou inicia no calendário anual de luta, os 21 dias de ativismo no combate à violência contra a mulher.
De acordo com informações do Fórum Brasileiro de Segurança Pública: 85% das mulheres negras que sofreram violência doméstica ou familiar e não possuem renda suficiente para se manter convivem com seus agressores dentro da própria casa; 7 em cada 10 feminicídios no Brasil são de mulheres negras; em 2023, 63,6% das vítimas de feminicídio eram negras. Falar de racismo no Brasil e de violência contra a mulher e não abrir os olhos e estender os braços à luta é propalar um discurso esvaziado, ou de ocasião.
Evaristo sabe que, por vezes, nem é preciso falar, o momento, as situações falam por si, no caso dela que já falou muito e continua falando mesmo em face à passagem do tempo, porque para algumas de nós não é dado calar-se, continuar caminhando, sem caminhar, é existir como representação, como símbolo. Até 10 de dezembro, final dos 21 dias de ativismo, a lista de itens a ser reparados na esteira da violência contra a mulher é quase infindável.
Repito aqui, a fala de uma amiga hoje, ao falar do dia 20 de novembro: é muito cansativo perceber o quanto já perdemos e o que continuamos a perder para o racismo estrutural, é cansativo passar a vida defendendo coisas que são óbvias, são na verdade um resultado da visão perversa de uma parcela da população mundial.
Que o nosso ativismo alcance as mulheres negras, indígenas, que vivem nas favelas, na floresta, nas águas, em diáspora, sob o fogo cruzado das diversas guerras que assolam o mundo, que tenhamos braços para ofertar um mínimo de conforto para as que lutam, para qu tenham a certeza de que não estão sozinhas!
Juliete Oliveira - Escritora, educadora Ambiental e mulher
Comentários (0)