A citação é do famoso escritor russo, Fiodor Dostoiewsky, em seu livro "O Idiota". Não foram poucos os intelectuais, de todos os saberes, que se debruçaram sobre o significado dessa afirmação poética. De tudo que já se filosofou sobre essa afirmação, talvez a mais simples seja a mais contundente: é impossível viver uma vida sem um bocadinho de poesia, de arte, de música, de espiritualidade.
Dos mais simples aos mais sofisticados, todos gostamos de apreciar a beleza. É claro que os gostos são tantos quanto são as pessoas, mas todos sabemos que a vida bruta, da rotina pesada dos dias, das responsabilidades desafiadoras do trabalho e da família, pode acabar nos sufocando. E o que nos salva mesmo é aquilo que nos faz enxergar além. Ouvir aquela música que inspirou nosso primeiro amor, apreciar um dia de lua cheia, ler um romance que nos envolve, assistir a um filme questionador, experimentar um sabor desconhecido, tudo isso alimenta nossa coragem de seguir vivendo.
O que poucos se dão conta é que o desejo pela beleza, a sensibilidade que nos humaniza (e espiritualiza, dirão os mais devotos), precisa ser cultivada e educada. Alguém tem que nos iniciar, provocar o encanto, apurar nossos olhos e ouvidos, embalar nosso coração.
Se entregarmos nossas gerações mais jovens a lógica única do "tempo é dinheiro", a poderosa criatividade de nossos jovens se empobrecerá em planilhas de orçamento, planos de negócio ou planejamento estratégico. E com esses ingredientes, provavelmente, viver poderá parecer um fardo a ser carregado.
Parece insensato, para não dizer contraditório, quando se enfrenta problemas tão sérios como o colapso da economia, a crise hídrica, o aquecimento global, arriscar falar de algo aparentemente tão marginal: a beleza. No entanto, mais pessoas tocadas pelo mistério fabuloso e belo da vida serão mais pessoas engajadas na preservação dessa beleza para todos. Dostoiewsky sempre esteve certo: A beleza salvará o mundo.
* Prof. Flávio Luís Rodrigues Sousa é doutor em Filosofia e Teologia, diretor do Colégio Marista Palmas e membro do Conselho Estadual de Educação do Estado do Tocantins.
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