Através da internet e das incendiárias redes sociais, no Brasil, elas foram usadas na eleição de 2014, tiveram participação no impeachment em 2016 e são protagonistas no pleito de 2018. As Fake news, que sempre existiram, em especial no ambiente político, passaram ao patamar de bandeira partidária. Funcionam praticamente como proposta, são usadas por governos para rebater acusações, entram na estratégia das campanhas e conquistam uma legião de seguidores que as divulgam com o mais profundo desejo que sejam verdades.
É possível perceber, nos últimos anos, que para reforçar posicionamentos políticos a verdade passou a valer de acordo com a circunstância e ao gosto do público. Ou seja, não é mais uma questão de contar uma mentira apenas, é criar narrativas falsas - classificá-las como fatos alternativos - e conseguir milhões de adeptos com isso. Em tempos de polarização política, os mercadores de conteúdos fraudulentos perceberam, bem antes dos pesquisadores, que existem exércitos virtuais de convertidos que precisam ser municiados com armas de grosso calibre para tentar desqualificar quem pensa diferente.
Com consumidores fiéis, mão de obra barata e divulgação gratuita, o ciclo de produção de notícias falsas torna-se virtuoso para quem produz. O acesso aos sites especialistas na enganação gera renda através de publicidades. Notícias falsas são mais atraentes e sedutoras, assim quanto maior o alcance das fake news, mais gente visita as páginas, mais caro fica o espaço dentro delas e mais o dono ganha dinheiro. Passou a ser obrigatório o uso desse mecanismo em eventos políticos, sejam eles eleição, plebiscito ou impeachment.
No Brasil, o nosso debate político passou a orbitar os extremos. Logo, obter informações verdadeiras ou não, mas que prejudiquem o outro lado tem sido o principal caminho para tentar vencer discussões. Infelizmente, dentro dessa guerra ideológica, o que se tem visto é um apego das pessoas a mentiras para satisfazer um pensamento. Essa decisão torna o campo político um terreno fértil para disseminação de fake news.
Dificilmente uma pessoa convertida ideologicamente vai mudar de opinião por conta de uma fake news e, atualmente, o que mais temos são convertidos. Contudo, são essas pessoas, não importa a classe social ou grau de escolaridade, que mais espalham boatos. Elas são o público alvo dos mercadores, não só pela ignorância, mas pelo fato de muitas delas desejarem que a mentira vire uma verdade. É algo psicológico.
Fora isso, a batalha, que já é inglória, ganha mais baixas quando líderes políticos passaram a chamar de fake news tudo aquilo que não agrade os seus pensamentos. É como se todos mentissem e só um lado falasse a verdade. Assim, eles forjam os seus seguidores com cinismo, alimentam a ideia de perseguição e criam exércitos letais aos pensamentos críticos.
Mesmo com essa epidemia que atinge nossas bases políticas, precisamos ressaltar que ignorar os fatos não faz com que eles deixem de existir. Não é o desejo emocional carregado com crenças e apelos que faz uma notícia falsa tornar-se verdadeira. São ensinamentos que estão corrompidos em meio a diferenças ideológicas, mas que não podem ser esquecidos.
Samir Leão é Jornalista formado pela Universidade Federal do Tocantins (UFT).
Comentários (0)