Este final de semana vimos mais um episódio de racismo acontecendo no esporte, fato este que vem se tornando corriqueiro nos noticiários esportivos. A atleta Paola Egonu, da seleção italiana de voleibol, foi duramente criticada, julgada e atacada por jornalistas esportivos daquele país europeu nas semifinais do campeonato mundial de voleibol, realizado na Holanda, no período de 24/09 a 17/10. Essas críticas vêm se tornando recorrentes, haja visto que a jogadora já havia sofrido racismo.
A jogadora tem participado praticamente de todos os campeonatos importantes ao longo dos últimos anos, e a pressão em cima de resultados é muito grande por ser uma jogadora muito diferenciada tecnicamente. Mas Paola Egonu é um ser humano, tem sua história, suas cicatrizes e chegou ao seu limite mental, logo isso gera sofrimento psíquico, o que muitas pessoas sem conhecimento algum falam grandes inverdades e demonstrando estupidez, insensibilidade e desumanização ao sofrimento humano.
Este sofrimento vem se tornado cada vez mais comum, vimos isso acontecer no caso da atleta mais consagrada dos Estados Unidos, a ginasta Simone Biles, que ao errar um salto, surpreendeu o mundo e se retirou da Olimpíada de Tóquio no Japão. Não sabemos o que aconteceu exatamente, penso que não cabe aqui qualquer julgamento e sim respeito pela coragem e a decisão da atleta.
No Brasil não é diferente, o futebol, esporte mais praticado no país, as equipes femininas sofrem outras formas de preconceitos. Trazemos como evidências o caso da jogadora da equipe do Cresspon do Distrito Federal que sofreu ataques racistas, e narra em sua fala o sofrimento gerado dentro e fora de campo. Isso vem se naturalizando e se tornado comum, é preciso combater qualquer tipo de discriminação.
Muitos podem falar que atletas que jogam e competem neste patamar são atletas que se prepararam ao longo de suas vidas, são submetidos constantemente a pressões e que têm que suportar essas pressões. Neste ato de coisificar o humano, nos deparamos com comentários como “brochou”, “isso é frescura, preguiça”, “ficou com medo, afinou”; ou ouvimos termos tratando o ser humano com meras “peças” que servem a um “plantel” “pratas da casa”. Isso vai se tornando um discurso comum, vai caindo na colocação das pessoas sem entender as consequências e o sofrimento que isso pode gerar.
Não olhar para a pessoa que está ao nosso lado ou mesmo não enxergar o sofrimento do outro que pode não estar próximo da gente, são atitudes que estão nos desumanizando? Críticas que agregam valores positivos ou percebermos que podemos aprender com a dor do outro pode nos levar a movimentos de humanização? O que tem nos levados a não nos solidarizarmos com a dor do outro? Como podemos desenvolver atitudes empáticas, enxergar o sofrimento alheio? Por que não conseguimos perceber que se não nos encaixarmos nos padrões vigentes da sociedade sofreremos com a intolerância e o preconceito? O que esperar de uma sociedade onde não há braços para acolher, e esclarecimentos à luz dos valores humanos?
Na sociedade brasileira, que impera o patriarcalismo, heteronormativo, o racismo como outros tipos de preconceitos está presente. As pessoas negras, indígenas, pessoas com orientação sexual diferente, cultura diferente, religião diferente, o pensar diferente, têm uma condição social diferente, ou podem ter uma opinião diferente da maioria, já é o suficiente para sofrer consequências imediatas.
Penso que os caminhos que precisamos percorrer para construirmos uma sociedade mais justa e humana, aprendendo com as diferenças é a via da educação intercultural, por meio das relações étnico racial. Enquanto isso não acontece, fico com a imagem que me emocionou muito neste final de semana, a do técnico da seleção brasileira de vôlei, José Roberto Guimarães, numa demonstração nobre e humana mostrando ao mundo QUE HÁ BRAÇOS E ABRAÇOS.
Afinal o Voleibol, este esporte que amamos também nos ensina por meio dos seus fundamentos (movimentos específicos e característicos desse esporte) que os mesmos braços que sacam, que recebem, levantam, atacam e bloqueiam a bola do jogo, são os mesmos braços que acolhem, consolam e abraçam.
Marilza Maciel, professora de educação física da rede pública municipal de Palmas e do Tocantins, aluna do Curso de Mestrado Profissional em Educação Profissional e Tecnológica em Rede Nacional - ProEPT do Instituto Federal de Educação Profissional e Tecnológica do Tocantins – IFTO.
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