O primeiro passo estruturante que dei como empreendedor da EcoAraguaia Fazenda do Futuro foi conhecer a escolas agrícolas da região. O modelo das “Fazendas do Futuro” está baseado em 7 dimensões e uma delas, a mais relevante, é a dimensão Escola Floresta. Sem uma educação do campo que fortaleça a autonomia das famílias agrícolas e crie condições básicas para o aprendizado e permanência dos jovens no campo não haverá vida rural, nos restringiremos a grandes projetos da agricultura industrial com pouca gente, muita máquina e escassez de alimentos saudáveis e locais.
Morando em Caseara acompanho diariamente o desafio de jovens que moram comigo na roça e estudam na cidade. São mais de 1.000 alunos matriculados nas suas escolas sendo que 400 moram na roça e passam mais de 3 horas por dia nos ônibus de transporte. Mais de 98% dos jovens de Caseara vão a escola, porém o índice de 4,2 do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) comprova o baixo nível de aprendizado destes mesmos alunos para anos finais do ensino fundamental. O aluno vai na escola, mas não aprende.
Morando em Caseara acompanho o importante desenvolvimento econômico impulsionado pela monocultura da soja. Caseara atingiu um PIB per capta que é 3 vezes maior que a média das cidades do estado e mais que o dobro da capital de Palmas. Ao mesmo tempo a renda média das suas famílias fica abaixo da renda média das cidades do Tocantins. Mais da metade da população de 4.847 habitantes mora na roça, nos 10 assentamentos da cidade e fazendas locais. Uma cidade rica com famílias pobres.
Recebi recentemente uma visita da SEDUC (Secretaria da Educação do Tocantins) para conversarmos sobre a Escola Floresta e desafios da Educação do Campo. Fiquei surpreso em saber que em toda a região do Vale do Araguaia, com mais de 10 municípios, não existe nenhuma escola rural. Provavelmente estamos falando de 4.000 jovens vivendo no campo sem educação, ao menos sem uma educação adequada.
Morando em Caseara, conheci a escola Adelina localizada no PA (Projeto de Assentamento) Araguaia com 35 alunos, 2 professoras e 1 professor. A última e única escola do campo no município pode estar no seu último ano de atividade.
Com o fechamento das escolas do campo em Caseara, praticamente não há alternativas para uma educação local destinada às reais necessidades educacionais do jovem campesino. Este, sem opção, passa a frequentar a escola da cidade, distanciando-se do convívio e cuidado familiar, de seus sonhos e de sua propriedade, praticamente direcionando seu futuro para um mercado de trabalho nas cidades ou nas grandes fazendas. Por outro lado, o negócio familiar, a roça e propriedade, da família, vê seu futuro comprometido, sem sucessão e envelhecendo. Será o caminho de Caseara, um caminho sem agricultura familiar? Sem escola do campo?
Acredito em uma vida digna, abundante e sustentável no campo. Trabalho para que o caminho da roça volte a ser uma opção de vida, família e prosperidade. Espero que novos modelos educacionais, em meio a inúmeras possibilidades metodológicas e tecnológicas, possam voltar a ser implementados nos campos deste Brasil Rural. Que viva o Agro!
Por Guilherme Tiezzi, designer de Transição na EcoAraguaia Fazenda do Futuro, empreendedor em Rede na Value Builders e consultor de Redes Colabotativas de Negócios.
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