Há tanta informação, tantos especialistas para nos explicar que a vida é tão frágil. Um vírus, algo tão minúsculo, microscópico, é capaz de dizimar as pessoas. Mesmo assim, mesmo ante a tanta e difundida informação, os dias ficam mais estranhos ainda quando percebemos que, como o prefeito de Milão (Itália), há pessoas que ignoram determinados riscos e outras pessoas morrem.
Uma outra música da Legião Urbana, Metal contra as nuvens, também de 1991, tem alguns versos que explicam muito bem esse nosso tempo: “É a própria fé o que destrói/Estes são dias desleais (..)/É a verdade o que assombra/O descaso o que condena/A estupidez o que destrói”. Desde o pronunciamento do presidente da República, Jair Bolsonaro, na terça feira, dia 24 de março de 2020, os levantes de alguns empresários/as tomaram corpo: a recessão econômica vai matar mais pessoas que os ventos virais.
A isso, a esta tese, o presidente dá forma oficial, e hoje, vimos em Palmas, pessoas indo às ruas, como empresários/as, protestando contra as medidas de isolamento e distanciamento social. Tudo dentro do previsto, dentro do direito de protestar. Mas há um pano de fundo: a atividade econômica e a vida. Parece uma luta dicotômica, mas não é. É certo que as pessoas precisam viver, precisam comer, precisam continuar vivas, mesmo com o vírus rondando por aí.
Mas não posso deixar de notar que tanto as pessoas que acossam o presidente exigindo dele uma posição pró economia, como grandes empresários, parecem que não estão sendo tão patriotas como disseram que seriam nas eleições. Agora seria a hora de todos/as ajudarem o presidente, poderia fazer um fundo, propor medidas de recuperação das pequenas empresas, doar parte dos lucros.
Depois dos movimentos de hoje, eu percebi que tanto os/as apoiadores/as do presidente quanto o próprio governo como um todo, correm um alto risco. Fizeram uma aposta arriscada. Como dizem as pessoas da saúde, algumas inclusive explicam tanto que é possível quase ver o vírus na mente da gente, é um risco enorme lutar contra uma doença. Ela pode ter recrudescimentos, como se tivesse vida própria (literalmente).
O presidente tem uma personalidade que privilegia sempre o embate, assim é e continuará sendo, esse é seu trunfo. Todavia, o embate com os inimigos de sempre, a política, a imprensa, a esquerda não é nada frente a um vírus que pode levar a um caos sem precedentes. Isso pode aniquilar o governo, os/as apoiadores/as e mais, pode aniquilar pessoas que não estão dentro desta briga.
O presidente pode conseguir aglutinar mais a sua base, isso é bom para ele nesse momento, mas o risco continua grande, porque o risco de contágio é tão sorrateiro, que pode nos pegar, a todos/as em passeios no shopping, no restaurante, fazendo compras, salvando a economia.
Esse grupo de empresários, o núcleo mais íntimo do presidente, podem ter tido uma vitória muito provisória, assim como em Milão, a conta pode vir anotada em vários caixões, cena macabra e mórbida. O desejo do presidente de salvar a economia, de não deixar o seu governo ser engolido pela recessão é legítimo, mas com certeza haveria outras maneiras de pensar na economia sem colocar as vidas dos/as brasileiras/as em risco. Aliás, quando o presidente tomou posse, ele se tornou responsável pelas vidas de cada um de nós brasileiros e brasileiras.
Talvez, assim como Donald Trump (presidente dos EUA), que hesitou em assumir a letalidade do vírus, mas agora encaminha um acordo trilionário para ajudar as pessoas de seu país. Isso é agir pensando, fundamentalmente na economia, mas com o foco na vida.
O cenário em abril é o caos, tomara que o presidente esteja certo, tomara que ele seja um visionário, um mito, um iluminado que nos deu uma visão do futuro e nesta visão o Brasil não seria afetado pelo vírus. Talvez o presidente esteja certo, talvez o presidente seja mesmo um homem tão abençoado que sob a sua palavra o vírus dê meia volta e desapareça no vácuo. O cenário em abril vai dizer, vai mostrar. Abril a passagem do vírus.
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