Ainda que pareça distante para muitos, em especial a grande massa de jovens que hoje se movimenta em protestos virtuais ou nas ruas, o Brasil viveu um período bipartidarista durante 12 anos (1966 e 1979), quando havia apenas a Aliança Renovadora Nacional (ARENA) e o Movimento Democrático Brasileiro (MDB). Tempos de ditadura. Triste momento de nossa história que ainda carece ser revisitado e passado à limpo.
Já no período democrático, a liberdade de organização partidária chegou a ser criticada por muitos, que enxergavam, em verdade, uma liberalidade desenfreada que possibilitou que uma sopa de letrinhas se tornasse comum nos pleitos eleitorais. Mas democracia tem dessas coisas, e o pluralismo partidário fez parte do nosso amadurecimento como nação democrática, pelo menos no que se refere ao poder da escolha, na base do voto, dos governantes e na formação do parlamento.
Há de se admitir, no entanto, que no jogo das forças políticas, muitas vezes balizado pelo jogo das forças econômicas e seus interesses, certas disputas tenderam a remeter a uma lembrança dos tempos do bipartidarismo, e acabaram se solidificando na polarização, representada por partidos que capitaneavam alianças muito mais pragmáticas do que programáticas.
Sinto, no entanto, que 2014 trará muitas emoções eleitorais, e em muitos casos, vai colocar por terra essa polarização. Digo isso com um olhar para a disputa pelo Palácio do Planalto, que terá a presidente Dilma Rousseff (PT e aliados) de um lado e o senador Aécio Neves (PSDB, DEM e um ou outro partido) de outro, como representantes desses anos de luta pela hegemonia que travaram petistas e tucanos. Mas, que trouxe para a cena política a candidatura viável e competitiva do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), que disputará o cargo tendo a ex-senadora Marina Silva de vice, e com um apoio importantíssimo do PPS e de setores representativos do PDT.
E no Tocantins, a situação me parece igualmente caminhar para uma quebra da polarização que sempre marcou as disputas, mesmo quando outros nomes eram apresentados, muitos dos quais laranjas prestando um “desserviço” para o debate democrático. O ápice dessa polarização se deu em 2010 com Siqueira e Gaguim.
Nesse pleito de 2014, além do candidato a ser ungido pelo Palácio Araguaia (Siqueira pai ou Siqueira filho), e do nome a ser apresentado pelo PMDB (que ainda tem o imbróglio da incerteza jurídica de Marcelo Miranda, o desafio de Kátia Abreu de ser abraçada pelas bases “modebas”, e ainda a ação “missionária” coordenada de Júnior Coimbra e Gaguim), outros nomes surgem não como os laranjas de outrora ou candidaturas sem expressão alguma. E esse é o grande diferencial desta disputa de 2014.
Engana-se quem acredita que o senador Ataídes Oliveira (PROS), o presidente da FIETO Roberto Pires (PP) e o deputado estadual Marcelo Lelis (PV) estejam brincando ou dispostos a se comportarem como meros coadjuvantes nessa disputa. Tudo demonstra o contrário. Estão se articulando com muita habilidade e desenvoltura e edificando candidaturas viáveis, competitivas que, pelo que tudo indica, forçosamente levará o pleito eleitoral para um segundo turno. Pois não estranhem ver um desses nomes no segundo turno e, quem sabe, sagrando-se o grande vitorioso das eleições pelo Governo do Estado. E digo isso mesmo sabendo que eventualmente esses nomes, e mais o do procurador Mário Lúcio Avelar (ainda uma incógnita e sem partido), podem ainda fechar alianças até junho para ganharem musculatura para a disputa.
No Tocantins, podemos ter uma disputa ao Governo, com três, ou até mesmo quatro candidatos, em condições reais de dividirem as atenções, os corações e os votos do eleitorado. Vencerá a melhor proposta? Pode ser que sim. Mas eu não apostaria as minhas fichas nessa “mesa”. Até porque de propostas, plano de governos bem elaborados, promessas, compromissos, ou que nome novo venham inventar, o povo está empanturrado.
Assim, o velho chavão do “que vença o melhor”, poderá se ver facilmente se materializando na realidade crua e nua do: “que vença a melhor estratégia”. E aí, vale lembrar que “Estratégia” é uma palavra com origem no termo grego strategia, que significa plano, método, manobras ou estratagemas usados para alcançar um objetivo ou resultado específico. Quiçá apareçam com todo o esplendor os Leônidas e os Temístocles com suas devidas estratégias nessas eleições.
Melck Aquino é jornalista e consultor político com serviços prestados em campanhas eleitorais no Tocantins, Goiás, Maranhão e Minas Gerais.
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