As imagens de um sonho

Crédito: Adriano Castorino

Na posse do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva havia na Esplanada do Ministérios e na Praça dos Três Poderes a presença majoritária de uma parte da sociedade brasileira: os mais pobres.

 

Nesse quadro aqui denominado de PESSOAS POBRES preciso detalhar que a maior são pessoas pretas e pardas, povos indígenas, moradores/as das inúmeras favelas das cidades brasileiras, muitas pessoas nordestinas e nortistas. Também vi uma cena linda: muitos casais homoafetivos de mãos dadas.

 

Desde o amanhecer do dia, o primeiro dia de janeiro e do novo ano, já pude sentir nas ruas de Brasília o burburinho da alegria deste conjunto de pessoas. Bandeiras vermelhas, camisas vermelhas, bandeiras do arco íris, bandeiras do MST, bandeiras do Brasil formavam um mosaico de imagens destes novos tempos.

 

Enfrentei uma longa fila até consegui chegar à Praça dos Três Poderes, de onde somente saí depois do discurso do Presidente no Parlatório. Um sol a pino, tanta gente, pouca água, ainda assim havia uma sensação de alegria e emoção. Quando a gente pode estar dentro da história, vendo e sentido como a mecânica das horas desenrola o tecido em que vai sendo bordado cada ato que está transcorrendo, a gente tem uma sensação incrível de que o que foi sonhado está ocorrendo.

 

Na posse que ali transcorria, com os discursos no Congresso Nacional, com o desfile em carro aberto, com a subida à rampa ladeado por pessoas que de fato representam a diversidade do povo brasileiro, tudo ocorria no limiar do evento real e do evento sonhado.

 

Sonhar é uma atitude de coragem. O ato de sonhar está muito próximo da teima. Teimar e sonhar são verbos que se complementam porque o sonho exige um comportamento de resistência. Para resistir é preciso teimar. Por isso, a presença de tantas pessoas na cerimônia de posse, como na subida da rampa, é o sonho do Presidente. O presidente sempre lembra que sua mãe, Dona Lindu, admoestava: teima, meu filho, teima.

 

A posse foi, portanto, uma composição de imagens desse novo tempo em que o povo cabe na agenda do estado e no orçamento público. Para fazer o dia a dia do governo, está claro, as imagens podem pouco. No cotidiano do dia seguinte às festividades imagéticas e oníricas, é preciso ter a força para tomar as decisões com a parte da sociedade que não estava sob o sol ardente da Praça dos Três Poderes.

 

Mas, ainda assim, é com a sutil presença das imagens, das lágrimas e do cheiro do povo, que a presidência, como agência de poder, poderá sentar à mesa para dialogar uma governança mais humana, mais solidária e mais afetiva. O governo, como instância de poder e ação, não vai poder, infelizmente, atender todos os anseios das pessoas que estavam ali na praça e nos mais variados rincões deste Brasil.

 

A beleza da posse, no entanto, mesmo sem que seja possível realizar todos os sonhos, inebriou nossos corações com a chance de sonhar com um outro Brasil. Sonhar com um Brasil em que todas as crianças possam ter escola, alimentação, acesso à saúde. Um Brasil em que todos e todas possamos sonhar. A posse é fruto de um sonho de uma pessoa que mesmo massacrado, segurou entre os dentes a primavera.

 

Por Adriano Castorino

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