Abro este artigo esclarecendo um conceito que muitas vezes é repetido por modismo sem levarmos em conta o que realmente quer dizer, a Sustentabilidade.
Segundo a WWF para ser alcançado, o desenvolvimento sustentável depende de planejamento e do reconhecimento de que os recursos naturais são finitos. Esse conceito representou uma nova forma de desenvolvimento econômico, que leva em conta o meio ambiente.
Muitas vezes, desenvolvimento é confundido com crescimento econômico, que depende do consumo crescente de energia e recursos naturais. Esse tipo de desenvolvimento tende a ser insustentável, pois leva ao esgotamento dos recursos naturais dos quais a humanidade depende. A prova disso é que estamos passando pela maior crise hídrica da história do país. O governo acaba de anunciar a redução na previsão da safra em quase 10 milhões de toneladas por conta da falta de água. Água esta que está faltando por um desequilíbrio que causamos com o mecionado crescimento econômico através do consumo crescente de energia e recursos naturais. Um ciclo vicioso.
O desenvolvimento sustentável sugere, de fato, qualidade em vez de quantidade, com a redução do uso de matérias-primas e produtos e o aumento da reutilização e da reciclagem.
Algo Sustentável precisa proporcionar benefícios para o meio ambiente, benefícios sociais e benefícios financeiros, fazendo um ciclo virtuoso.
Vale mencionar um exemplo muito interessante que temos na bolsa de valores, o Índice de Sustentabilidade Empresarial da B3 (ISE B3). O objetivo desse índice é apoiar os investidores na tomada de decisão de investimento e induzir as empresas a adotarem as melhores práticas de sustentabilidade, uma vez que as práticas ESG (Ambiental, Social e de Governança Corporativa, na sigla em inglês) contribuem para a perenidade dos negócios.
São convidadas para participar, como elegível, as companhias detentoras das 200 ações mais líquidas da B3, em um critério objetivo. O processo pressupõe o preenchimento de um questionário composto por 7 dimensões: Econômico–Financeiro, Geral, Ambiental, Governança Corporativa, Social, Mudança do Clima e Natureza do Produto e até 40 companhias compõem a carteira do índice (com vigência anual).
Em bom português isso quer dizer que sustentabilidade aumenta o retorno das empresas através de soluções que reduzem seus custos, uma vez que investidores e instituições financeiras percebem que essas práticas reduzem também o risco dessas empresas. Se minha empresa proporciona uma margem do negócio de 15% pagando R$ 70.000 de conta de energia ao ano, quando reduzo essa conta de energia para R$ 5.000, estou aumentando minha margem.
Segundo a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR), o setor do agronegócio é responsável por 8,7% dos investimentos em geração fotovoltaica no país. Entre as soluções em novas tecnologias para aumentar a competitividade do setor está a energia solar.
Através dela é possível alcançar uma redução importante em um custo que muitas vezes pode até limitar a produção, como ocorre em algumas fazendas que utilizam pivot's. Além disso diminui os impactos do consumo de energia relativo ao uso de fontes não renováveis de energia, neutralizando parte da pegada de carbono do produtor rural.
O produtor precisa estar atento à movimentação internacional com relação às exigências dos mercados com produtos que sejam "carbono neutro" pois ser sustentável vai deixar de ser um diferencial para se tornar uma obrigação.
Ser carbono neutra significa calcular o total das emissões, reduzir onde é possível e balancear o restante das emissões através da compensação. A compensação das emissões pode ser feita através da compra de créditos de carbono ou através da recuperação de florestas em áreas degradadas.
Em um curto prazo de tempo, empresas e produtos que não tenham redução comprovada das suas pegadas de carbono poderão perder acesso a mercados e clientes importantes. Essa tendência era esperada após a eleição do novo presidente americano e foi confirmada na Cúpula de Líderes sobre o Clima, após Joe Biden anunciar a meta de redução de 50% das emissões do país até 2030. Em paralelo a UE anunciou que prevê adotar uma taxa de carbono sobre vários produtos a partir de 2023.
Já possuimos diversas multinacionais brasileiras com planos de zerar o balanço de suas emissões de gases causadores do efeito estufa, reduzindo suas emissões diretas e indiretas (Emissões oriundas de fontes proprietárias e controladas pela Companhia, Emissões indiretas provenientes da geração de eletricidade para a Companhia e Emissões que têm origem em matéria-prima adquirida e seu transporte, além de viagens de negócios) e compensando toda a emissão residual.
Estas empresas apresentam planos de ação, sustentado em metas baseadas na ciência, consistente com os critérios estabelecidos pela Science-Based Targets initiative (SBT). Elas passam a monitorar a pegada de carbono dos fornecedores dos seus fornecedores, podendo eliminá-los se não estiverem em sinergia com os compromissos que assumiram.
Os produtores que estiverem preparados para fornecer a esses mercados e clientes podem assumir posições estratégicas, largando na frente desta corrida que se aproxima.
Fernando Oliveira é engenheiro e especialista em energia solar. Entre diversas atuações no Brasil e exterior, Fernando foi diretor da PP Engenharia, empresa especializada no fornecimento de soluções para Usinas Termelétricas. Foi diretor de planejamento da Engevix Engenharia S.A, desenvolvendo atividades de planejamento e apoio ao gerenciamento do escopo civil na engenharia da Usina Nuclear de Angra III.
Na Engevix foi também coordenador do projeto UTE Mauá III – Usina a GN com Ciclo Combinado. Também trabalhou na coordenação do projeto UTE Santa Elena III, empreendimento localizado na cidade de Santa Elena na costa sul do Equador.
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