No início da pandemia, foi recomendado o tão famoso "fique em casa e só procure atendimento médico se tiver falta de ar".
Isso é correto?
Não. Falta de ar e tosse são as principais manifestações clínicas da pneumonia por COVID-19, segundo estágio da doença, fase em que o prognóstico fica pior.
Essa medida trouxe diagnóstico e tratamento tardios do COVID-19, complicações e risco de contaminação dos contatos. Também trouxe diagnóstico tardio de outros problemas de saúde potencialmente fatais, como as doenças cardiovasculares.
Uma pesquisa realizada em Nova York, nos Estados Unidos, revelou que, entre 30 de março e 5 de abril de 2020, o número de pessoas que morreram em casa de ataque cardíaco foi oito vezes maior, comparado ao número de mortes por essa causa no mesmo período de 2019.
É importante esclarecer que, frente a sintomas leves de COVID-19 (como gripe, primeiro estágio da doença) ou sintomas de outras doenças, devemos procurar atendimento médico, presencial ou por telemedicina, para obter um diagnóstico e iniciar tratamento de forma precoce.
Social ou físico
Um ponto essencial a considerar é que evitemos a terminologia “isolamento social” ou “distanciamento social”, já que não queremos alguém solitário em casa, com riscos para a sua saúde mental. Devemos mudar o “social” pelo “físico”, pois queremos que as pessoas estejam bem e interajam socialmente, mantendo as medidas físicas de prevenção.
É fundamental diferenciarmos o isolamento físico (para o paciente suspeito ou com diagnóstico confirmado de COVID-19) do distanciamento físico sustentado – DFS (para a população em geral durante a pandemia).
Isolamento físico
O objetivo do isolamento físico é evitar que a pessoa infectada transmita o vírus. Deve ser aplicado para garantir a segurança em uma casa que tenha um morador com suspeita ou diagnóstico confirmado de infecção pelo COVID-19.
Neste caso, é primordial lembrar que as manifestações de afeto entre os habitantes dessa casa, que envolvam contato físico, devem ser suspensas, evitando-se beijos, abraços e até mesmo apertos de mão.
Medidas de proteção devem ser adotadas, abrangendo cômodo a cômodo, conforme orientação a seguir:
Banheiro
O ideal seria que houvesse um banheiro para uso exclusivo da pessoa com suspeita de Coronavírus ou comprovadamente infectada.
Como essa não é a realidade de grande parte da população, uma medida essencial é não compartilhar itens como toalhas de rosto e de banho, pente, escova de cabelos, creme dental e sabonete, do qual se deve preferir a versão líquida.
Na hora de organizar o banheiro, é importante manter à parte todos esses itens, bem como a escova de dentes.
A pessoa com suspeita ou infectada também deve higienizar todas as superfícies que ela tocou, como interruptores, maçanetas, vaso sanitário, descarga, box e torneira, inclusive a do chuveiro e seu regulador de temperatura.
Essa higienização pode ser feita com álcool 70% ou uma solução de água sanitária, com concentração de cloro ativo entre 2% e 2,5%, diluída do seguinte modo:
• num recipiente de 1 litro, colocar mais da metade de água;
• acrescentar 50 ml de água sanitária (como medidor, pode-se usar um copinho de café);
• adicionar água até completar 1 litro;
• tampar, agitar e guardar em armário fechado.
Quarto
Caso haja apenas um quarto na residência, o indivíduo com suspeita de Coronavírus ou comprovadamente infectado deve ficar isolado nesse cômodo. Os demais moradores terão que se acomodar nos espaços restantes da casa, evitando esse quarto.
O primeiro passo é deixar uma lixeira, forrada com saco plástico, ao lado da cama. Quando estiver cheia, a própria pessoa com suspeita ou infectada cuidará de fechar o saco, que deverá ser despejado em uma lixeira comum constantemente tampada.
Não é demais lembrar sobre a etiqueta respiratória: tossir ou espirrar em um papel higiênico ou lenço de papel e descartá-los imediatamente; na falta de ambos, deve-se tossir ou espirrar na parte interna do cotovelo e, em seguida, lavar bem os braços e as mãos.
A pessoa isolada por suspeita ou confirmação de infecção pelo COVID-19 deve trocar o próprio enxoval de cama periodicamente. Se o lençol ou outro item apresentar resquícios de secreções, ela deve manter esse item em um saco plástico até o momento da lavagem. Essas peças, após lavadas, garantem maior segurança quando deixadas para secar em local arejado.
O quarto de isolamento deve permanecer 24 horas com a porta fechada, mas com a janela aberta, para haver circulação de ar e luz do sol.
Assim como no banheiro, os interruptores e as maçanetas devem ser desinfetados sempre que usados.
Sala
Por vezes, uma casa tem apenas um cômodo, no qual todos dormem. Nesse contexto, o indivíduo com suspeita ou confirmação da virose deve permanecer com máscara, cobrindo toda a boca e o nariz, o tempo inteiro. Isso vale para todas as áreas comuns.
Além disso, como esse mesmo cômodo será compartilhado com pessoas que não contraíram o COVID-19, a recomendação é que esse indivíduo com suspeita ou infectado mantenha, pelo menos, dois metros de distância dos demais residentes da casa.
Com álcool 70% ou, preferencialmente, solução de água sanitária, será preciso desinfetar, várias vezes ao dia, móveis, objetos e superfícies que são tocadas constantemente, como controle remoto, maçanetas, mesas, interruptores, assentos de sofá e cadeiras.
A pessoa que fizer o trabalho de desinfecção deverá usar luvas, máscara, óculos para proteção e avental.
Por fim, é preciso não compartilhar o mesmo sofá ou colchão com alguém com suspeita ou confirmação da infecção.
Cozinha
Pias, torneiras, maçanetas, mesas e cadeiras também devem ser desinfetadas com frequência.
Se o paciente com COVID-19 for cozinhar, é preciso usar máscara, cobrindo toda a boca e o nariz.
Talheres, pratos, copos e afins nunca devem ser compartilhados.
Sair de Casa
Além dos cuidados cômodo a cômodo mencionados, vale ressaltar que, se houver necessidade de sair de casa (o que deve ocorrer apenas em casos inadiáveis), o paciente com suspeita ou confirmação da virose COVID-19 deve adotar as seguintes precauções:
Quando sair:
• coloque a máscara, especialmente quando há sinais de gripe ou tosse;
• prenda os cabelos, se forem longos, evite acessórios e vista uma roupa de manga comprida;
• procure não tocar em nada em condomínios ou prédios; o ideal é levar luvas ou lenços descartáveis e usá-los se precisar tocar as superfícies;
• mantenha distância das demais pessoas; se possível, dois metros;
• não toque em dinheiro; se precisar efetuar pagamentos, prefira usar cartão, não se esquecendo de higienizá-lo após o seu uso;
• evite o transporte público;
• não toque rosto, boca, nariz e olhos até a higienização das mãos.
Quando voltar:
• tire o calçado, antes de entrar em casa, para, depois, desinfetá-lo;
• não mexa ou encoste em nada, antes de lavar as mãos;
• se tiver levado seu cão para passear, desinfete as patas dele;
• em uma caixa, na entrada, deixe as chaves, a carteira ou a bolsa, para, depois, desinfetá-las;
• tire as roupas, coloque-as em um saco plástico e leve-o ao cesto de roupas sujas ou coloque suas roupas diretamente na máquina de lavar;
• limpe embalagens e objetos trazidos da rua, com álcool 70% ou água e sabão;
• limpe, com álcool 70%, o aparelho celular e sua capa protetora, assim como outros objetos do dia-a-dia, como óculos, relógio de pulso, chaves, mochila, bolsa, entre outros.
Quanto tempo devo manter o isolamento?
O critério de alta é baseado em sintomas. Não é recomendado o uso de teste RT-PCR de controle para a maioria das situações. A nossa referência bibliográfica foi baseada nos critérios do CDC - Centers of Disease Control and Prevention (www.cdc.gov).
Nos casos leves e moderados, em que a pessoa passou por isolamento físico de 10 dias e não apresenta mais sintomas por pelo menos 3 dias adicionais, ou seja, 13 dias no total, tem critérios de alta. Por exemplo, se o paciente manteve os sintomas durante 12 dias, adicionando 3 dias sem sintomas, no total seriam 15 dias de isolamento físico.
Nos casos graves e críticos, em que a pessoa passou por isolamento físico de 20 dias e não apresenta mais sintomas por pelo menos 3 dias adicionais, ou seja, 23 dias no total, tem critérios de alta.
Nos casos que nunca desenvolveram sintomas (assintomáticos), com teste RT-PCR positivo, manter o isolamento físico por dez dias, a contar do primeiro teste positivo. Em imunocomprometidos, o prazo se amplia para 20 dias.
Entretanto, vale lembrar que, se a pessoa recuperada sair para exercer atividades na rua normalmente, ela pode trazer vírus para casa nas roupas, nas solas dos sapatos, nas mãos etc., a partir do contato com superfícies potencialmente infectadas. Por isto, as medidas de prevenção precisam ser mantidas mesmo pelos recuperados do COVID-19.
Distanciamento físico sustentado (DFS)
O DFS é a solução mais eficiente para controlar o aumento exponencial do COVID-19, devendo ser aplicado para a população em geral, ou seja, inclui as pessoas sem sintomas.
A recomendação é o distanciamento de dois metros entre as pessoas.
Dr. Andrés G. Sánchez
CRM-TO 2290
Cardiologista RQE 991
Hemodinâmica RQE 1.001
Comitê de COVID do CRM-TO
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