Crônica de uma tragédia anunciada ou a violência estatal

Não é possível, mais uma vez colocar nas costas da sociedade, a responsabilidade de cuidar de algo tão importante para a manutenção da vida, como o que acaba de acontecer

Juliete Oliveira
Descrição: Juliete Oliveira Crédito: Divulgação

O sentimento de desalento que nos toma após uma tragédia como a ocorrida entre os municípios de Aguiarnópolis-TO e Estreito-MA, é momentâneo, pois, em seguida somos tomados por um misto de indignação e revolta, uma necessidade de gritar a plenos pulmões: O NORTE EXISTE!

 

Sim, minhas amigas e meus amigos salvemos o Norte! O rio Tocantins é um rio federal, a rodovia é uma rodovia federal, ligando dois importantes estados da federação. E fica por 60 anos sem reparos? Inacreditável! Existem vídeos diversos anunciando a tragédia que foi filmada em uma dessas denúncias, existe trabalho de conclusão de curso, ou seja, tempo de uma graduação, pelos menos 4 anos. E nada foi feito.

 

Pela ponte passam riquezas, o agronegócio se movimenta pela BR-226, ou seja, contribuintes da balança comercial do país, contudo, a relevância dos que moram ali, não é um elemento preponderante no momento de se pensar políticas públicas, dois óbitos confirmados, mais 14 pessoas desaparecidas, no entanto, não são apenas esses os prejuízos, que não foram ainda avaliados: a contaminação da água, a morte de fauna aquática e terrestre, as pessoas que necessitam da água para o consumo, comunidades ribeirinhas inteiras, comunidades indígenas. 

 

É quase uma Brumadinho no rio Tocantins, em um período que bate à porta da humanidade as emergências climáticas, a falta de cuidado com a água, que figura na Política Nacional de Recursos Hídricos, justamente ao contrário do que acontece: Art. 3º, II - a adequação da gestão de recursos hídricos às diversidades físicas, bióticas, demográficas, econômicas, sociais e culturais das diversas regiões do País. O acontecimento denuncia uma atitude estatal no mínimo irresponsável. 

 

Não é possível, mais uma vez colocar nas costas da sociedade, a responsabilidade de cuidar de algo tão importante para a manutenção da vida, como o que acaba de acontecer. Não faltaram avisos, não é possível, que nenhum desses avisos alcançou o órgão competente. A conta do descaso chegou, e mais uma vez quem vai pagar é o morador e a natureza. Que agenda 2030 é essa que estamos cumprindo?  

 

Me solidarizo com as famílias que perderam seus entes queridos, com a população da região, muitos parentes meus. Não podemos mais, apenas lamentar! Que renasçamos para a luta por direitos nesse Natal!   

 

Juliete Oliveira – Poeta.

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