Desaparecimento de crianças no Brasil; uma triste lembrança

Crédito: Da web

Assistindo uma reportagem de um jornal, em 25 de abril de 2019, tive a oportunidade de ver a alegria de uma mãe que após 38 anos, reencontrou o seu filho que foi levado da porta do hospital, quando tinha apenas dois dias de vida. A história retrata que a mãe da criança em 1981 era órfã e dependia da ajuda de funcionários do orfanato.

 

Assim, o filho foi arrancado dos braços dela e dado à adoção ilegal e para “confortar” a mãe a responsável pelo orfanato afirmava que a criança havia morrido. Somente em 2012, mudou a versão, dizendo que a criança fora adotada por uma família da região Sul.

 

Em 2013, essa mãe procura ajuda da Polícia Civil do Distrito Federal e após 06 anos de investigação, a equipe dessa instituição encontra o filho e oferece a essa mulher a oportunidade de abraçá-lo novamente, já que a lembrança do rosto da criança jamais se apagara da memória dela.

 

Não consigo imaginar a alegria dessa mãe, que após anos de procura conseguiu a dádiva de rever o filho amado. Olhando as postagens de minha irmã Zulmira nas redes sociais e a expressão de que “para Deus nada é impossível”, percebo mais uma vez a angústia dela de não saber onde está ou o que aconteceu com o filho Sérgio Leonardo, que foi tirado dos seus braços, na década de 80.

 

A lembrança daquele dia não sai da minha memória. Na época, tinha apenas 8 anos de idade.  Recordo-me perfeitamente de cada detalhe, que culminou com o roubo do meu sobrinho. Após levar papai à rodoviária, eu e meus irmãos (Silvio, Neto e Zildinha) decidimos ir à casa da minha irmã Zulmira, principalmente com o propósito de comer a gelatina colorida e os pães com mel, que sempre ela gostava de fazer. Tínhamos certeza que iríamos saborear uma dessas delícias.

 

Lembro-me da casinha simples, mas acolhedora. Após a visita, retornaríamos à zona rural, já que na época morávamos em uma chácara às margens do Rio Tocantins. Na saída, meus sobrinhos quiseram ir conosco e lembro-me que minha irmã disse “ele nunca saiu de perto de mim”, referindo-se ao pequeno Sérgio Leonardo, que só tinha 1 ano e 8 meses.

 

Tenho certeza que o espírito santo nos toca e nos avisa quando algo de ruim vai acontecer, mas muitas vezes não percebemos os sinais. Naquele dia, agora com mais idade, entendo que Ele nos tocou, pois o Leonardo chorava para ir conosco e chorava pra ficar com a mãe. Nesse dilema, quando estávamos quase virando a esquina minha irmã gritou e veio correndo e o entregou nos nossos braços.

 

No dia seguinte, pela manhã, ele foi roubado. Lembro-me dele brincando com terra, em frente à casa de palha e lembro-me do desespero de quando a minha mãe percebeu que ele não estava mais lá. Lembro-me da angústia de minha irmã ao chegar à chácara, do choro, dos gritos e do clamor a Deus por uma resposta.

Essa resposta ainda não veio, mas acredito que Ele fará. Hoje, lendo a postagem da minha irmã Zulmira, senti uma tristeza enorme, mas na verdade ela esteve em mim todos os dias, desde 28 de setembro de 1987. Poderia falar especificamente da corrupção, da adoção ilegal, da falta de compromisso, do tráfico humano, mas não tenho vontade.

A minha vontade é de assistir um novo vídeo de reportagem, como o que retratei no início desse relato, mas nesse a Polícia Civil do Tocantins encontra o Sérgio Leonardo e o devolve aos braços da minha irmã. Porque não queremos saber quem foi os culpados pelo roubo, só desejamos abraçá-lo novamente.

“Nem todo desaparecido foi traficado, mas quase todo traficado, em algum momento do tráfico, torna-se um desaparecido” (Major Marcus Roberto Claudino).

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