Diversidade cultural para inglês ver

Reza a lenda que o Capo do quintos Dom Pedro I, promulgou em 1831, a Lei Feijó, que libertava os negros africanos desembarcados no Brasil, após acordo com a Inglaterra. Ocorre que ninguém colocou muita fé no rolêzinho da monarquia local, tanto, que em toda corte chamava a norma Feijó de lei para inglês ver. Ainda na historia Pindorama (calma que já chegamos lá), a formação cultural nacional foi construída sobre os ombros de diversos povos, tais como: africanos, indígenas, portugueses, franceses, alemães, japoneses e por aí vai.

 

Então poderíamos concluir que a música consumida pelos canarinhos seria formada por diversos estilos, com sincretismo musical, bem ao estilo da world music. Mas, uma espiadinha na lista dos artistas mais tocados e vendidos pela Billboard Brasil, derruba por terra qualquer esperança de variação musical na Terra do Futebol, ou seja, nossa diversidade é para inglês ver, uma vez que deveria ser, mas não é.

 

Sem mais delongas, o ranking Billboard Hot 100(http://billboard.uol.com.br/rankings) traz um levantamento das 100 músicas mais tocadas do Brasil no momento, e é exatamente aí que nosso multiculturalismo cai por terra. Não só pelo estilo musical quase único que está em 95% das canções da lista da Billbord, sim, ele mesmo, o sertanejo universitário (pré-universitário), mas também por questões de etnia e gênero.

 

Ao todo, são apenas 10 artistas do gênero feminino que constam na lista dos 100+, sem falar que os negros são raridade entre os mais tocados do Brasil. Para ter uma ideia do tamanho do fosso, na lista das 10+ somente a canção “Quem Ensinou Fui Eu”, das cantoras Maiara & Maraisa (êh Tocantins) figura. Já caricatos brancos, anabolizados, com os mesmos cortes de cabelo e indumentárias, representam a quase totalidade do Top 100. Nomes como Eduardo Costa, Zé Neto & Cristiano, Luan Santana, Gusttavo Lima, Marcos & Belluti e Safadão representam basicamente tudo que rola nas rádios da Terra de Santa Cruz.

 

Isso pode dar a impressão (para inglês ver) que não produzimos, musicalmente, coisas diferentes, mas a realidade é que nosso país, com seus 210 milhões de viventes, é um grande celeiro (olha o trocadilho) de artistas de qualidade, fora do universo sertanejo universitário. Não podemos esquecer que somos o povo do Carimbó, Samba, Brega, Catira, Boi-bumbá, Vanerão, Moda de Viola e ainda de estilo próprio de Rap, Rock e Funk. A lista comercial da Billboard deixa nítido que precisamos de mais Criolos e menos Safadões.

 

Edy César é professor mestre em Políticas Públicas, fotógrafo, “palpiteiro metido a entendido dos parangolés”, conforme sua auto descrição.

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