A Universidade enquanto instituição social, já fez e faz muito pelo desenvolvimento do Brasil. A sua atuação se materializa não somente na formação em nível de graduação, na formação profissional, mas, sobretudo, na formação humana da sociedade, que se traduz em formação cultural, política, pedagógica, inovadora e científica. Quando observamos o cenário econômico, social, ambiental e institucional da região Norte, onde estamos inseridos, percebemos que a presença de universidades públicas é cada vez mais necessária, porque a educação, a ciência e a tecnologia podem nos ajudar a minimizar os grandes déficits criados pelas políticas públicas equivocadas para a região ou mesmo pela ausência delas em um passado distante.
Entendo que não é possível conceber um projeto de nação pensando a educação de forma segregada, educação básica de um lado, tecnológica e superior de outro. A educação é um processo formativo, e, como tal, deve estar integrado. Se assim, concebermos, teremos uma educação inovadora e capaz de diminuir o grande fosso caracterizado por desigualdade e miséria que separa milhares de pessoas nesse país e na Região Norte. Além disso, a educação em todos os seus níveis é um direito garantido pela constituição, logo, deve ser fundamentalmente inclusiva e democrática. Nesse sentido, o acesso ao ensino superior de qualidade deve ser direito e não privilégio concedido a um pequeno grupo da sociedade. Muito nos preocupam alguns movimentos orquestrados por determinados setores da sociedade brasileira que jogam matérias, editoriais de jornais e revistas semanais denegrindo a imagem da universidade pública. E o que é mais assustador é que não procuram mostrar os avanços conquistados pela sociedade nos anos de existência desta instituição social. É nela onde acontece grande parte da pesquisa científica desse país, onde se desenvolve projetos de extensão que transformam a sociedade, e, onde é formada a grande parte dos professores com formação superior que atuam na educação básica do Brasil, onde surge boa parte das inovações tecnológicas, a produção científica que é feita majoritariamente dentro dos laboratórios das universidades públicas por meio dos programas de pós-graduação que tem notório reconhecimento em nível nacional e internacional.
O atual governo interrompeu algumas iniciativas exitosas na área do desenvolvimento da ciência e da tecnologia. Um país que ainda convive com o analfabetismo de jovens e adultos, doenças como dengue, chikungunya, sarampo e tantas outras não pode e nem deve dar as costas para instituições que ao longo de muitos anos se colocaram a disposição do povo brasileiro. Não se devem cortar gastos com pesquisa e com educação em todos os níveis. Educação de qualidade reforça a nossa cidadania e soberania e nesse sentido deve ocupar o centro do debate político que ora se apresenta. A universidade sempre foi uma instituição que se colocou a frente do seu tempo e reagiu e resistiu aos movimentos que se colocaram contra os princípios democráticos e de direito.
Se a proposta é preparar o Brasil para o futuro, isso requer a manutenção dos direitos civis, do fortalecimento da democracia e das instituições brasileiras. Nesse sentido, cabe a Universidade brasileira se manter fiel aos seus princípios e manter-se protagonista frente aos grandes debates de estratégia nacional. É preciso agregar valor aos nossos produtos e ampliar a nossa pauta de exportação, melhorar os termos de troca em nível internacional, melhorar os indicadores de saúde e de educação, evitar os desastres ambientais, e, tudo isso, passa direto ou indiretamente pela educação, pela formação humana, pela pesquisa científica e pelas escolhas que serão feitas pelo novo governo que será eleito democraticamente.
Temos problemas em várias áreas, e, muitos deles poderiam ser resolvidos ou minimizados se tivéssemos uma política de Estado que trate a educação, a ciência, a tecnologia e a inovação como eixos estratégicos para o desenvolvimento do País. Qualquer projeto de desenvolvimento nacional deve passar necessariamente por esses eixos. Nesse sentindo a Universidade pública deve, portanto, ser ouvida e chamada a discutir as políticas de educação, de ciência e de tecnologia dos Estados, dos Municípios e do Brasil.
Estamos vivendo um momento de desesperança no campo da política, mas, não podemos perder a esperança no projeto de universidade que é um espaço do conhecimento e da cultura, mas, sobretudo, é um espaço democrático, da inclusão social e da diversidade humana. Por fim, reconheçamos o quão necessária é a manutenção daquela que está entre os maiores patrimônios nacional. O momento pelo qual estamos passando requer um pensamento analítico, crítico, e, sobretudo, republicano. O projeto desta instituição social já não cabe dentro do orçamento da união, e, essa é uma manifestação concreta e também simbólica de como os governantes a enxergam. Enquanto cidadãos conscientes e preocupados com o Brasil, devemos reagir a qualquer movimento que trate a universidade como um ativo financeiro ou como uma instituição sem finalidade social. É hora de lançarmos o olhar para o horizonte e rever a nossa história enquanto uma jovem nação que tem poucos anos no exercício da democracia, esse um “bem” que não podemos abrir mão. Defendemos a Universidade pública, gratuita, laica, de qualidade, inclusiva e especialmente democrática. Essa é a nossa bandeira por entendermos que a produção da ciência, que o processo de ensino e aprendizagem, de criatividade e de inovação deve ser feito em um ambiente livre da violência, de preconceitos, e que esteja aberto para a liberdade de pensamento e para as livres manifestações culturais. A universidade que queremos é aquela que retrata o povo brasileiro, com as suas diferentes raças, cores e crenças.
Ana Lúcia de Medeiros é professora e Vice-Reitora da UFT.
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