Estelionato Eleitoral

O presidente do Brasil Jair Bolsonaro (e seu clã) se apresentou na campanha eleitoral e foi eleito como se fosse um paladino da moralidade e combatente da corrupção, em especial.

 

Entrementes, trechos de relatórios do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) lançam fortes suspeitas sobre o filho primogênito do presidente, Flávio Bolsonaro, senador eleito, que recorreu ao Supremo Tribunal Federal (alegando pseudo foro privilegiado, que antes combatia), e conseguiu suspender as investigações do MP-Rio, relacionadas a suspeitas de lavagem de dinheiro nas movimentações financeiras do seu ex-assessor Fabrício Queiroz, quando o parlamentar era deputado estadual pelo estado do Rio.

 

Se o investigado é o ex-assessor (que tem foro comum), porque o senador eleito (que não é investigado) recorreu ao Supremo invocando foro privilegiado!? O pleito afigura-se no mínimo contaminado pela ilegitimidade ativa do parlamentar e incompetência de foro do STF. Ou será que o senador tem receio da verdade vir à tona com toda prova e revelar ainda mais a teia de corrupção envolvendo outras autoridades, inclusive da própria família?

 

Porém, tudo deve ser apurado devagar, sem afogadilho, dissecando a responsabilidade de cada envolvido, para possibilitar um julgamento justo, responsável, isento e independente, sem qualquer influência de esfera de poder, de acordo com os ditames da Lei e da CF, respeitados os princípios do devido processo legal e do contraditório e da ampla defesa.

 

O povo que elegeu esse governo, que prometeu combater duramente a corrupção, está se sentindo enganado, ante as suspeitas de corrupção que circundam a família do presidente, e percebe, de início, que foi vítima de um estelionato eleitoral.

 

Extrai-se como lição que não devemos exigir dos outros uma postura que não adotamos. Antes, porém, devemos procurar ser exemplos, mais responsáveis e coerentes em nosso dia a dia, não só no discurso, mas em nosso comportamento e atitudes concretas, conscientes que pau que bate em Chico deve bater em Francisco, posto que ninguém está acima da lei.

 

Não devemos defender com fanatismo político e governante algum (eis que falível e passageiro), mas sim o Estado brasileiro, pois quando necessário, como cidadãos conscientes, devemos ter a liberdade de bradar e se irresignar em face dos crimes e desvios de conduta perpetrados pelos maus representantes públicos, seja quem for, pois todo o poder emana do povo (parágrafo único, art. 1°, CF).


Edivan de Carvalho Miranda é defensor público no Estado do Tocantins.

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