Há esperança?

No artigo de opinião o autor faz uma retrospectiva crítica de fatos do Brasil e do Tocantins referente ao governo.

O ano de 2014 foi um ano em que quase tudo aconteceu. Desde o fiasco da participação da seleção brasileira de futebol na copa até Lobão pedindo a volta do poder militar. Morreram grandes poetas em 2014. Grandes escritores. Tempo de profundo pesar. Por aqui, em terras tocantinas, assistimos a uma queda memorável: o fim do siqueirismo de forma melancólica e avacalhada. Além disso, surgiu um embuste para governar o estado e, pior, apresenta-se como candidato ao governo, dizendo-se novo, honrado, honesto. Atribuíra a seu pai tudo que aprendera na vida, dizia o governo tampão.

 

No Brasil eis que se desenterram esqueletos sob o manto da oposição ao governo federal. Isso resultou numa eleição disputada a tapas, expondo de maneira explícita o ódio das classes dominantes que se mostraram desesperadas na disputa eleitoral. Houve quem defendesse a volta do governo militar. Quem se mudaria para Miami porque a Dilma fora eleita.

 

Esse fato, mais uma vez, liga o Tocantins ao que houve na corrida eleitoral nacional. Mesmo escondido sob a vergonha de um governo pífio, Siqueira reaparece numa reunião de tucanos pedindo votos para Aécio Neves. Todavia, o embuste do palácio Araguaia, como governador a mando de Siqueira, não optou explicitamente pelo tucanato. Era ambíguo nesse ponto?

 

Mas o povo não caiu mais no conto do siqueirido, nem na montagem de homem honrado que os marqueteiros urdiram. Não. Nem no plano estadual, nem no plano nacional. Por aqui o tocantinense deu crédito a Marcelo Miranda, que sabidamente fora injustiçado pelo grupo de quem retoma o poder, nas urnas. No Brasil, houve acontecimentos imponderáveis, como a morte precoce de Eduardo Campos. A candidatura caricata de Mariana Silva, apoiada num discurso vazio que no segundo turno pede votos a quem sempre a ignorou. Aécio Neves discorrendo sobre moral e bons costumes e tentando ganhar uma eleição com o apoio das classes mais conservadoras e intransigentes desse país. Mais se dizia também que era um homem honrado, honesto. Aprendeu com o avô, nesse caso.

 

A vitória de Dilma foi um detalhe na imensa luta em favor dos mais pobres. Foi a vitória da esperança, em especial dos que na vida real quase não a tem. Assim como a vitória de Marcelo Miranda, contra tudo e contra todos, lutando contra armações típicas de quem menospreza a inteligência do/a eleitor/a. Foi a vitória da esperança, mesmo que seja pouca a esperança diante de tanta coisa a ser feita nesse estado chamado Tocantins.

 

Ainda assim, nem tudo está acontecendo como acreditava-se. Há no plano federal um claro sinal de que as mudanças pretendidas vão ceder espaço para o manto da governabilidade. Dilma escala Kátia Abreu para o ministério da agricultura, quase uma contradição. Talvez fosse cômico, mas é trágico esse quadro de alianças. A esquerda precisa ter mais coragem para assumir uma nova forma de fazer política. Não se pode ficar acanhada diante dos insultos de uma oposição que beira o fascismo no afã de desconstruir o governo. Dilma foi eleita com os votos de quem deseja caminhos fora do eixo do mercado, por isso é dolorido um Joaquim Levy, é como se o governo pedisse desculpas aos capitalistas por ter vencido as eleições. Não podemos dar o mapa de nossa caminhada a quem nos assola e de nós desdenha e faz pouco caso. A fazenda tem servir para todos e não para as elites, apenas.

 

Mas o governo precisa governar, para isso tem de fazer alianças, é o que reza o rosário desse tipo de política sem ideais. Mas isso desagrada muito, em especial os que não vêem no pragmatismo uma forma de fazer mudanças. Ainda assim, esse fato também liga o Tocantins ao plano nacional: Kátia é senadora tocantinense, isso pode ser um alento ao governo de Marcelo Miranda junto ao governo federal. O que é certo é que Dilma numa tacada só agrada o PMDB e ganha mais um senador para seu partido, o PT. Eis aqui o mais improvável da política tocantinense, a aliança entre Kátia Abreu e o PT, de militantes históricos, como Freitas do PT entre outros camaradas. Essa é uma aliança que põe em cheque a história do PT no Tocantins. Seria o poder a qualquer custo? Tem coisa na política brasileira quem nem Maquiavel poderia imaginar.

 

Resta uma esperança, ainda assim? A despeito das alianças que na aparência são improváveis, poderemos ter à mesa pessoas de tão diferentes matizes? O que se espera é que ao menos o ideal de um governo para o povo, que elegeu Dilma, sobressaia-se e triunfe ratificando a vontade do/a eleitor/a. A mesma esperança fora depositada em Marcelo Miranda, para que ao menos os serviços básicos, como saúde, possam ter um mínimo de qualidade. Mesmo entristecido/a o/a eleitor/a que sonhou com um governo mais à esquerda, mais voltado à reforma agrária, com mais políticas para as mulheres, LGBTs, indígenas, negros... Mesmo triste é preciso buscar uma última força e ter esperança. 2015 será o ano da esperança, mesmo que o MAPA esteja nas mãos de Kátia Abreu e a FAZENDA nas mãos de Joaquim Levy. Já que estão mortos os ideais, viva a esperança, que nos resta e é a última que morre.

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