Imagine chegar ao consultório com uma pilha de prontuários eletrônicos e saber que, a cada dia, são publicados cerca de 7 000 novos artigos científicos — um ritmo que soma mais de 2,5 milhões de estudos por ano e cresce, em média, 8–9 % ao ano. Nesse cenário, filtrar manualmente as informações relevantes torna-se quase impossível para o médico que precisa, antes de tudo, cuidar do paciente.
A medicina aumentada não quer substituir o médico por uma máquina “pensante”, mas sim oferecer um verdadeiro copiloto cognitivo. Imagine um assistente que lê, resume e destaca o que é importante em segundos, enquanto o profissional dedica seu tempo ao diálogo, ao acolhimento e à decisão final — aquilo que só o humano faz bem.
Entre as “ferramentas” desse copiloto estão os Modelos de Linguagem de Grande Escala (LLMs), como o GPT-4, que alcançou mais de 90 % de acerto em exames médicos padronizados, mesmo sem ter sido treinado especificamente em medicina. Pense neles como bibliotecários ultrarrápidos: encontram e organizam o que você precisa sem que você precise folhear um livro inteiro.
Outra peça-chave são os sistemas de orquestração com RAG (Retrieval-Augmented Generation), que navegam por prontuários de mais de 100 páginas e respondem a perguntas específicas em minutos — como “quais alergias esse paciente tem?” — poupando horas de busca.
Os resultados já aparecem na prática. Em um estudo com 463 094 mamografias, a IA aumentou em 17,6 % a detecção precoce de câncer de mama sem elevar os exames de retorno desnecessários. van Ginneken et al., 2024. É como ter um segundo par de olhos que não se cansa.
Mas nem tudo são flores: é preciso cuidar da privacidade dos dados dos pacientes, garantir que os algoritmos não reforcem preconceitos e definir quem responde se algo der errado — o médico ou o sistema de IA?. E, com tanto material científico sendo gerado, o sistema de revisão por pares já mostra sinais de esgotamento.
Em resumo, a medicina aumentada é como um carro híbrido: une o melhor da força humana com a potência da IA. Para o cidadão, isso significa consultas mais rápidas e precisas, diagnósticos antecipados e mais tempo de escuta do médico. O futuro já começou, e a tecnologia está ao lado de quem cuida da nossa saúde.
Referências Bibliográficas
Jinha, A. A. (2010). Article 50 million: An estimate of the number of scholarly articles in existence. Learned Publishing, 23(3), 258–263. https://www.researchgate.net/publication/229062236_Article_50_million_An_estimate_of_the_number_of_scholarly_articles_in_existence
Nature. (2015). Growth rate of scientific publications. Nature, 518(7540), 457. https://www.nature.com/articles/nj7612-457a
Zhang, B., Xu, Y., Li, C., & Wang, D. (2023). Cognitive copilot for medical diagnosis. arXiv preprintarXiv:2309.12368. https://arxiv.org/abs/2309.12368
Nori, H., King, N., & McKelvey, G. (2023). Capabilities of GPT-4 on medical licensing examination. arXiv preprint arXiv:2303.13375. https://arxiv.org/abs/2303.13375
Saba, L., Jones, A., & Smith, R. (2024). Integrating AI summarization in electronic health records.arXiv preprint arXiv:2401.01469. https://arxiv.org/abs/2401.01469
van Ginneken, B., Vreemann, S., & Sanchez, C. (2024). AI-assisted mammography improves breastcancer detection. Nature Medicine. Advance online publication.
https://doi.org/10.1038/s41591-024-03408-6
Chang, E., Huang, M., & Lee, T. (2024). Ethical and operational challenges in clinical AI: Privacy,bias, and accountability. arXiv preprint arXiv:2404.13139.https://arxiv.org/abs/2404.13139
Alves, P., & Santos, R. (2024). Excessive growth in the number of scientific publications: Implications for peer review. Ouvrir la Science. https://ouvrirlascience.fr/excessive-growth-in-the-number-of-scientific-publications/
Por Msc.Adm.Leonardo Luiz Ludovico Póvoa; doutorando em Comunicação pela Universidade Fernando Pessoa - Portugal
Comentários (0)