O voto é o ápice da expressão do civismo coletivo. É de conhecimento de todos que o dia da eleição traz a oportunidade da população inteira dizer quem quer que os represente.
A Lei da Ficha Limpa impôs limites àqueles que querem ser candidatos que a mácula comprovada em sua vida pregressa, nem sempre seja ela transitada e julgada.
Superados os impedimentos legais, qualquer um pode ser candidato. Garantido o direito constitucional de votar e ser votado.
Bem, se fizermos uma reflexão de sabedoria popular, na qual sempre ouvimos desde criança que diz “querer não é poder”, podemos adaptar para “poder não é dever fazer”.
O que me refiro explicitamente é a dança das cadeiras dos possuidores de mandato que, assim como o capitalismo voraz e compulsivo de sempre querer mais, trata a política como um negócio particular e, às vezes, até mesmo familiar, trazendo a sensação de necessidade de crescimento.
Exemplifico, todo canto existe um(a) vereador(a) que quer ser candidato a deputado bem no meio do seu mandato, seja para melhorar seu capital político ou para se lançar a prefeito na eleição seguinte. Só não se lança caso falte a tão famigerada “estrutura”.
Se perde, seu nome foi lembrado e ficou no inconsciente coletivo do eleitorado. Se ganha, pula de pleito e entrega seu cargo ao suplente. Suplente este que, mesmo que fosse inimigo ferrenho do agora deputado, dá a sua vida na campanha para que o mesmo se eleja e sobre a sua tão sonhada vaguinha.
Trazendo para a realidade desta eleição suplementar enxergamos o seguinte:
Temos um senador que quer abandonar seu mandato bem no fim para se tornar governador pelo mesmo tempo de seu mandato a senado, ambos acabando no fim do ano. Se ganha, ótimo. Se perde, foi uma bela campanha à recondução ao senado por mais oito anos.
Temos uma senadora que quer abandonar seu mandato antes da sua metade. Vale lembrar a quem este mandato será entregue, pois a suplência deste demonstrou ser apenas aparelho de um partido que já foi de esquerda, hoje, só discurso.
Temos um candidato a governador que quer ser eleito a um cargo, porém foram eleitos pelo povo a deputado, seu vice vive o mesmo dilema. Esquecemos a prisão por meses dentro da própria AL?
Abre Parênteses. Muito estranho um membro do poder legislativo (fiscalizador) assumindo a chefia do poder executivo (fiscalizado). Como manter a isonomia sendo você mesmo fiscalizando e fiscalizado? Por mais que seja legal, parece legal? Fecha Parênteses.
Temos um prefeito que, desde sempre se mostrou contrário a reeleição e mesmo assim disputou, e um ano e três meses após ser reeleito, renuncia e entrega a cidade na mão de uma vice de capacidade de gestão ainda a provar, assim deixando o eleitor encoberto por dúvidas, devido ao abandono do pleito.
Nada citado acima é uma ilegalidade, está tudo dentro das conformidades. Segue o jogo.
Mas, me diga você, diante da oportunidade de passarmos o Tocantins a limpo, devemos confiar nosso voto a quem se candidata a um cargo no qual está insatisfeito por assumi-lo ao ponto de largá-lo na primeira oportunidade de alçar voos maiores?
Repito que legalmente está tudo certo. Moralmente, não se trata de um estelionato eleitoral?
Tá aí a beleza da democracia, pois temos a chance de escolher quem melhor nos representa para ser muito mais do que um ficha limpa, mas também possuir uma consciência limpa e livre das amarras do passado.
Será?
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