Passados 82 anos do voto feminino no Brasil, as conquistas obtidas pelas mulheres brasileiras no âmbito da representação política foram tímidas, o que corrobora para a afirmativa que o direito de ser eleita ainda não foi alcançado plenamente pelas mulheres, apesar da primeira mulher ter chegado a Presidência da República. Mesmo representando cerca de 52% do eleitorado brasileiro, segundo balanço do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) as mulheres ainda são minoria no Senado, na Câmara, nos governos estaduais e nas prefeituras. Entre os 26 estados brasileiros, temos apenas dois estados que são governados por mulheres (Maranhão e Rio Grande do Norte).
As mulheres em diferentes culturas têm sido preparadas e educadas para desempenhar um papel coadjuvante na política. Para a escritora nigeriana Chimamanda Adichie as meninas foram ensinadas a se encolherem, para tornar-se menores e a elas foi dito que podem ter ambição, mas não muito; que devem ser bem sucedidas, mas não muito.
Essa construção diferenciada de papeis para cada sexo fez com que durante muito tempo as mulheres fossem excluídas da esfera pública, confinadas ao espaço privado. A realidade hoje é outra, as mulheres não estão mais limitadas a esfera privada, estão cada vez mais atuantes no mercado de trabalho além de buscar mais qualificação. Porém a esfera política continua sendo um espaço eminentemente masculino. Esse quadro negativo poderia ser mudado com uma reforma política que garantisse as mulheres, condições de participação justas e igualitárias no processo eleitoral com a adoção do financiamento público das campanhas e da instituição de listas fechadas e alternadas por sexo.
Além da urgência de uma reforma política, temos outra questão a ser pensada: será que com a presença de mais mulheres alcançaremos a igualdade entre os gêneros? Arriscado afirmar que sim já que a simples presença de mulheres na esfera política não significa necessariamente que tenham o compromisso com a igualdade de gênero. Muitas das mulheres que hoje fazem parte do cenário político brasileiro desconhecem a importância do movimento feminista nas lutas e conquistas das mulheres.
A política da presença sem a política das ideias não é suficiente para resolver os problemas sociais vividos pelas mulheres no país. A cientista política inglesa Ane Philips destaca que a maior parte dos problemas, de fato, surge quando a política de presença e a política de ideias são colocadas como opostos mutuamente excludentes: quando ideias são tratadas como totalmente separadas das pessoas que as conduzem; ou quando a atenção é centrada nas pessoas, sem que se considerem suas políticas e ideias.
É na relação entre ideias e presença que nós podemos depositar nossas melhores esperanças de encontrar um sistema justo de representação. Iniciativas para unir a presença e a ideia precisam ser tomadas, porque afinal a questão não é apenas aumentar o número de mulheres nos cargos políticos, a questão é bem mais profunda, trata-se de garantir uma participação qualificada capaz de perceber e atender as demandas das mulheres negras, índias, brancas, jovens e idosas que fazem parte do cenário social.
Cynthia Mara Miranda, doutora em Ciências Sociais pela Unb e pesquisadora do Núcleo de Estudos das Diferenças de Gênero da Universidade Federal do Tocantins
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