A criação de novos partidos políticos se viu fortalecida pelas ondas de manifestações que tomaram conta de todo o país nos últimos meses. Embalado pelo grito de insatisfação popular, líderes e ativistas de siglas em construção, vêm tentando canalizar essa força para tornar mais célere o processo de criação, que depende diretamente da aprovação popular, vez que as assinaturas são a regra elementar para o registro.
Dentre todos os partidos em construção, nenhum teve mais apelo e mobilização social que o REDE Sustentabilidade, liderado pela ex-senadora e ex-ministra do governo Lula, Marina Silva. Marina conseguiu o improvável: trouxe para dentro do movimento de criação do Rede, além de militantes populares e estudantes, a classe pensante, com artistas e intelectuais de renome, como Nando Reis, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Adriana Calcanhoto, Arnaldo Antunes, Maria Betania e muitos outros. Contudo, o registro lhe foi negado. Das cerca de 537 mil assinaturas colhidas pelo Rede, 95 mil foram rejeitadas pelos cartórios, que segundo o ministro Gilmar Mendes, do TSE, praticaram abuso e não deram uma justificativa legal para tal rejeição – Mendes foi o único ministro a votar pela criação da nova legenda.
Esgotadas todas as tentativas do novo partido, Marina Silva viu-se obrigada a procurar acolhimento em outra agremiação. Terminou desaguando no PSB de Eduardo Campos, governador de Pernambuco, que é pré-candidato a presidente da republica, e que agora se ver fortalecido com o apoio da ex-ministra.
Talvez o fator Marina, sem o Rede legalizado, não cause o mesmo impacto nas eleições de 2014. Porém, o Governo, a Câmara e o Senado, foram ágeis em se resguardar para que ameaças assim, não mais os assombrem no futuro. Depressa aprovaram Projeto de Lei que inibe a criação de novos partidos. A intenção não é impedir que sejam criados, mas limitar o poder de negociação das novas legendas, que serão partidos com tempo de TV e recurso do fundo partidário insignificantes. Querem com isso evitar que políticos com mandato continuem abandonando seus grupos e se filiando aos novos partidos. Como aconteceu recentemente na criação do PROS e Solidariedade, que juntos arregimentaram cerca de 35 parlamentares.
Os políticos mandatários de velhos e conhecidos partidos certamente vão continuar a realizar suas manobras visando proteger seus interesses e manter a hegemonia de suas siglas. Mas há algo que eles não poderão frear: o sentimento de mudança que tomou conta do Brasil. O povo vem dando indicações de que já rejeitou essa velha maneira de fazer política; que não tolera mais assistir calados esses acordos de partidos e bancadas que só visam seus próprios interesses. E é provável que essa resposta fique ainda mais evidente nas urnas, nas eleições do próximo ano.
A criação de novos partidos e a abolição dos velhos, que já perderam a credibilidade, pode ser interessante nesse processo de transição, mas se esta alternativa for roubada do cidadão, ele certamente encontrará outra forma de expressar sua total rejeição à atual forma de se fazer política no Brasil, e a mudança acontecerá.
Antonio Bandeira é cabeleireiro empreendedor em Palmas
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