De todas as formas queimamos! Queimamos como sociedade! No Brasil de 2024 o fogo não é uma metáfora, mas também o é. Em um poema de June Jordan (1936-2012), ela denuncia: Mesmo hoje eu preciso dar uma volta e arejar/ minha cabeça/ em relação a esse poema que é sobre porque eu não posso/ sair sem trocar de roupa de sapato/ a postura do meu corpo meu gênero minha identidade minha idade/ meu status como mulher sozinha à noite/ sozinha na rua/ sozinha não é o problema/ o problema é que eu não posso fazer o que eu quero fazer com meu próprio corpo porque eu tenho o gênero/ errado a idade errada a pele errada e (...), o título é: (Poema sobre os meus direitos), a quem interessar possa.
Na mitologia grega o fogo é representado como um elemento por meio do qual todas as artes poderiam ser criadas. Ele é! No entanto, aquele que ousou entregá-lo aos mortais foi acorrentado ao penhasco com a maldição de que os corvos comeriam seu fígado todos os dias, ele teria um fígado novo a cada dia, perpetuando a sua agonia, Prometeu, é, portanto, a representação artística da morte e ressurreição de algo. Há dois dias fomos assaltadas (uso sexíssimo, pois, é necessário) por uma notícia que abalou a nossa crença, mais uma vez, a de que podemos confiar no gênero masculino, que estaremos seguras a depender de quem seja a figura que nos cerca. A maneira como tudo foi exposto nos fez ficar sob a corda bamba por várias horas, nos perguntando: E agora? Na dúvida sempre do lado da mulher? Em uma situação de assédio sexual. Sim!
Ao tempo em que as denúncias eram expostas, o nosso Estado, assim como uma imensa parte do Brasil arde em chamas, a morte de fauna e flora é incalculável, o prejuízo à natureza, o sofrimento de espécies não se pode mensurar. Por outro lado, a frieza com que a sociedade trata a situação é assustadora, nem toda a arte já produzida poderia prever esse alheamento. Ou poderia?
Nós que vivemos nesse país para falar e se indignar com injustiças, nos sentimos como uma criança que se agarra a barra da saia da mãe (democracia), ao mesmo tempo em que tenta manter nas mãos assuntos vitais: combate a todas as formas de violência, o principal deles. Em tempo, toda solidariedade e apoio às mulheres vítimas de violência, não interessa de que forma ela chegue.
De volta ao fogo, ele está relacionado à religiosidade de várias formas, nas religiões de matriz africana, Xangô é o orixá do fogo, da justiça, dos raios e dos trovões. É considerado o mestre da sabedoria, gerando o poder da política e da justiça.
Juliete Oliveira, poeta.
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