Nova era da IA: máquinas aprendem, escrevem e refletem sobre o futuro da humanidade

De forma simples, a IA é um conjunto de sistemas capazes de aprender com dados. Eles observam padrões, fazem previsões e, aos poucos, tornam-se aptos a tomar decisões autônomas

Leonardo Luiz Ludovico Póvoa é articulista
Descrição: Leonardo Luiz Ludovico Póvoa é articulista Crédito: Divulgação

Nos últimos anos, a Inteligência Artificial (IA) deixou de ser um conceito de ficção científica para se tornar parte silenciosa e poderosa do nosso cotidiano. Ela está no reconhecimento facial do celular, nas recomendações de filmes e até na forma como escrevemos textos, fazemos pesquisas e criamos ciência. Mas, afinal, o que significa dizer que uma máquina “pensa”?

 

 


De forma simples, a IA é um conjunto de sistemas capazes de aprender com dados. Eles observam padrões, fazem previsões e, aos poucos, tornam-se aptos a tomar decisões autônomas. Quando interagimos com um aplicativo como o ChatGPT, por exemplo, estamos conversando com um modelo treinado para prever qual será a próxima palavra mais provável em uma frase. Essa capacidade de “prever e ajustar” é o que permite que a máquina soe cada vez mais humana.

 

 


Mas a revolução não está apenas na fala ou na escrita. Segundo pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), estamos entrando na era da ciência orientada por dados, o quarto paradigma do conhecimento. Isso significa que, além de observar e teorizar, os cientistas agora contam com máquinas capazes de descobrir padrões e gerar conhecimento novo, inclusive escrevendo artigos científicos de revisão (USP, 2025).

 

 


Esse avanço, contudo, vem acompanhado de preocupações éticas. A revista ACS Nano publicou em 2023 o editorial Best Practices for Using AI When Writing Scientific Manuscripts, alertando que a IA deve ser usada como assistente, e não como autora. A razão é simples: por mais sofisticada que seja, a máquina não compreende o sentido humano do que produz (Buriak et al., 2023). Ela é uma ferramenta poderosa, mas carece de consciência moral, responsabilidade e empatia.

 

 


O renomado cientista Geoffrey Hinton, conhecido como o “pai da IA moderna” e vencedor do Nobel de Física em 2024, foi além: em entrevista à CNN (agosto de 2025), ele advertiu que sistemas autônomos tendem a buscar sua própria sobrevivência e controle, sugerindo que o futuro da IA deve incluir algo semelhante a um “instinto materno”, uma ética do cuidado  para preservar a humanidade.

 

 


No meio desse turbilhão tecnológico, cabe a nós, humanos, definir os limites. A IA pode, sim, ampliar nossa inteligência, acelerar a ciência e democratizar o conhecimento. Mas é fundamental lembrar que ela reflete quem a cria. E, se quisermos um futuro em que máquinas colaborem conosco em vez de competir, será preciso ensinar a elas  e a nós mesmos que inteligência sem empatia é apenas cálculo.

 

 


Referências
⦁    BURIAC, J. M. et al. Best Practices for Using AI When Writing Scientific Manuscripts. ACS Nano, v. 17, n. 5, p. 4091–4093, 2023. Disponível em: https://doi.org/10.1021/acsnano.3c01544 . Acesso em: 1 out. 2025.
⦁    OLIVEIRA, O. N. Jr. et al. Artificial Intelligence Agents for Materials Sciences. Journal of Computational Information and Modeling, v. 11, n. 7, p. 345–358, 2021. Disponível em: https://doi.org/10.1039/d0jm00178a . Acesso em: 1 out. 2025.
⦁    INSTITUTO DE ESTUDOS AVANÇADOS – USP. Máquinas que geram conhecimento: Inteligência Artificial e o futuro da ciência. São Paulo: IEA/USP, 2025. Disponível em: ⦁    https://www.iea.usp.br /. Acesso em: 1 out. 2025.
⦁    HINTON, G. Entrevista à CNN Internacional: Geoffrey Hinton fala sobre IA e ética do cuidado. Publicado em 13 ago. 2025. Disponível em: ⦁    https://edition.cnn.com /. Acesso em: 1 out. 2025.
 

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